A apresentação oficial do mynetgov aconteceu a 11 de julho, data em que se assinala o Dia Mundial da População. A sede das Nações Unidas em Nova Iorque foi o palco escolhido para a apresentação da plataforma que quer criar um Estado virtual a nível global.


O TeK, falou com Diamantino Nunes, empresário de Aveiro, que juntamente com três professores universitários - Gonçalo Dias, Daniel Magueta e Luís Jorge - criou o projeto, que elege o seu primeiro executivo no final deste ano.




TeK: Como surgiu a ideia de criar este projeto e porquê?

Diamantino Nunes:
Vivemos num mundo globalizado, onde as pessoas se relacionam em rede, as empresas se organizam numa escala global, as ideias fluem livremente e até mesmo a criminalidade é global. Se virmos bem, apenas os governos escapam a esta lógica de globalização. O mynetgov.com surgiu, assim, da constatação de que era importante haver um espaço de debate político global, onde os cidadãos pudessem discutir e escolher livremente os seus representantes e as medidas que consideram imprescindíveis, independentemente do país de origem, língua, religião ou quaisquer outras condicionantes.



TeK: Mantêm-se os objetivos de eleger um "governo" da Internet em Dezembro?

Diamantino Nunes:
O projeto tem vindo a evoluir de acordo com a calendarização definida inicialmente e de acordo com as expectativas iniciais. Assim, as eleições para a primeira Assembleia e para o primeiro Governo da Internet realizar-se-ão entre 15 e 30 de Dezembro próximos. A partir de 1 de Janeiro, com a eleição destes órgãos, o mynetgov passará a disponibilizar toda a funcionalidade inicialmente prevista, incluindo a aprovação das primeiras medidas.

[caption]Diamantino Nunes - mynetgov[/caption]

TeK: A adesão à plataforma está a correr de acordo com as expectativas? Quantos membros existem para já, quantos grupos e qual a distribuição geográfica em termos de países?

Diamantino Nunes:
Entre 11 de Julho, quando foi lançada em Nova Iorque, e 11 de Setembro, a plataforma mynetgov.com registou acima de 250.000 visitas e 2 milhões de páginas vistas. O número de membros cresce diariamente, rondando atualmente as duas dezenas de milhar de cidadãos registados. O mynetgov já foi visitado a partir de mais de 100 países, sendo que existem cidadãos registados que são originários de mais de metade desses países.



TeK: Como tem feito a divulgação do projeto? Parece-me que Portugal e Brasil dão para já a grande maioria dos contributos…como está a avançar o mynetgov no resto do mundo?

Diamantino Nunes:
O projeto tem sido divulgado essencialmente através da Internet, usando as redes sociais e mailings dirigidos a tipos de utilizadores específicos. Durante esta fase inicial, temos crescido essencialmente de forma orgânica, através dos convites que os cidadãos registados fazem a outros utilizadores da Internet. Este facto leva a que exista alguma predominância de utilizadores portugueses e brasileiros. No entanto, curiosamente, o país com maior percentagem da sua população registada no mynetgov é a República Dominicana, e não Portugal ou o Brasil.



TeK: Como vê a evolução do projeto e que papel acredita que este possa vir a desempenhar na democracia?

Diamantino Nunes:
A ideia original é a de que este espaço se possa vir a constituir como um governo virtual verdadeiramente global. A sua capacidade de influenciar a democracia 'real' advirá do grau de participação dos cidadãos, esperando-se que a uma grande adesão corresponda um impacto importante na opinião pública mundial, capaz de alterar as práticas dos governos. A nossa perspetiva é a de que a plataforma disponibiliza os meios que permitem aos cidadãos discutir e fazer as suas escolhas, mas serão sempre esses mesmos cidadãos que, através da conjugação das suas contribuições individuais, deterão a capacidade de mudar o mundo. O nosso entendimento é, assim, o de que a plataforma é politicamente neutra, sendo a legitimidade das medidas aprovadas uma consequência direta da participação dos cidadãos registados.



TeK: Que caminho idealizou para atingir a massa crítica necessária para "fazer ouvir" o mynetgov? Estão previstas parcerias, vinculação a algum tipo de organismo, etc?

Diamantino Nunes:
Qualquer sistema verdadeiramente democrático depende da existência de uma imprensa livre. O mynetgov disponibiliza as funcionalidades que garantem o cumprimento das regras básicas de participação e eleição democrática mas, assumidamente, não contempla a existência de órgãos de informação dentro da própria plataforma. A assunção é a de que esses espaços de informação existem já na Internet e, naturalmente, deverão ser eles a desempenhar esse importante papel em democracia que é o de "fazer ouvir" as opiniões mais relevantes e os representantes democraticamente eleitos. Não está prevista nenhuma vinculação a qualquer tipo de organismo e quaisquer parcerias que possam vir a ser estabelecidas garantirão sempre, nos termos da própria constituição do mynetgov, a garantia da liberdade e da independência dos cidadãos.



TeK: Nas questões que já estão a gerar discussão e promover opinião que assuntos têm identificado como mais relevantes nas preocupações das pessoas, há temas que se destaquem?

Diamantino Nunes:
As temáticas são as mais diversas, indo de problemas de âmbito local e nacional, como a gravação e transmissão online das reuniões municipais ou a gratuitidade do ensino superior, a questões de nível internacional, como o cumprimento dos objetivos do milénio ou a criação dos Estados Unidos da Europa.



TeK: Quem financia o Mynetgov e que modelo de negócio pretende implementar no futuro?

Diamantino Nunes:
O projeto é financiado pelos seus fundadores, podendo, no futuro, em virtude das abordagens já existentes, haver entrada de capital que permita aumentar a capacidade comunicacional.

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Cristina A. Ferreira