À frente da Sandisk ibérica desde 2008, António Serra já antes tinha desempenhado funções idênticas, quando liderou a Logitech para a mesma região durante vários anos.
O responsável falou com o TeK e aproveitámos para saber quais são as grandes diferenças entre os dois mercados que constituem a península ibérica.
Também ouvimos a sua opinião sobre os desafios da globalização e as estratégias da empresa japonesa, focada no mercado de memória flash.
TeK: Que prioridades tem a Sandisk para este ano, em termos de negócio, nomeadamente para o mercado português?
António Serra: Como marca líder e pioneira no mercado mundial da Memória Flash o objectivo é o de também liderar este mercado contribuindo para melhorar a qualidade, o conforto e segurança de todos os utilizadores
TeK: Desempenha funções a nível ibérico há vários anos. Sendo certo que o mundo é cada vez mais global, que principais diferenças e semelhanças encontra nestas duas realidades, seja ao nível da procura, de tendências, ou mesmo de capacidade de investimento, num ano marcado por vários factores como é 2011?
António Serra: Nos últimos anos o mundo mudou em todos os aspectos, e formas da nossa vida, (e não voltará a ser o mesmo), por isso também as tendências e os investimentos mudaram.
Pelo lado das empresas é hoje constante a necessidade de reduzir e optimizar custos a todos os níveis, depois da moda inicial do eProcurement em que era engraçado colocar uma garrafa de litro e meio de água por autoclismo e depois fazer as contas ao valor de água poupado, entramos numa fase crucial em que tudo é posto em causa (e valorizado) permanentemente, porque hoje é a própria sobrevivência das empresas que está em jogo. Por isso hoje falamos de entregas directas da China para o armazém dos clientes, de pedidos por EDI sem intervenção humana no processo, de embalagens/blisters cada vez mais reduzidas para poupar no transporte e armazenamento, de plataformas comuns para multisoluções (um motor serve para 14 modelos diferentes de carros).Tudo isto faz com que o mundo hoje viva sem margem ou com pouca margem para erros.
TeK: E no que se refere às tendências, o que mudou?
António Serra: Pelo lado da tendência, e no que ao nosso mercado diz respeito, é hoje óbvio que o futuro é dos Tablets e Smartphones e que o "velhinho e delicioso " mundo dos PCs tem dias difíceis pela frente. O utilizador hoje quer multimédia, banda larga, redes sociais, etc, etc. Tudo em tempo real e o tempo todo, sem interrupções ou cortes de comunicação/ligação. Essa é definitivamente a tendência que vai dominar todo o mercado. Na última CES de Las Vegas, 50 fabricantes apresentaram cerca de 75 modelos diferentes entre tablets e smarthphones, facilmente percebemos para onde caminha a tendência.
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TeK: A Sandisk anunciou a abertura de uma nova fábrica no Japão. Na decisão de investimentos deste género a Europa e a península ibérica não se apresentam como geografias competitivas? Porquê?
António Serra: Essa pergunta faz todo o sentido e hoje é mais actual que nunca (depois do Tsunami e do tremor de terra que aí aconteceu, com impacto directo e óbvio no custo da memória), basta lembrar que 50% da memória Flash mundial é produzida no Japão, sendo que 30% é produzida por nós em 5 fábricas que temos em Yokkaichi, numa parceria com a Toshiba.
A quinta fabrica, que envolve um investimento de 9 mil milhões de dólares e entrará em produção este ano, destina-se principalmente ao mercado dos media tablets, ultra thin PCs, smartbooks e smartphones, através de uma nova tecnologia que chamamos de ISSD (Integrated Solid State Drive), que no fundo se aponta como o substituto natural dos discos duros convencionais, mas com dimensões reduzidíssimas (16 mm x 20mm x 1.85 mm) e todas as vantagens já conhecidas da memoria flash. Seria de facto interessante ter uma estrutura destas na Península Ibérica, mas os decisores ainda não optaram por ela.
TeK: Como vê o mercado do armazenamento de dados a médio prazo. Será seguramente uma área que continuará a crescer, mas "para onde"? Que tendências balizarão o desenvolvimento deste mercado nos próximos anos, em termos de tecnologias por exemplo?
António Serra: Na Sandisk estamos extremamente optimistas quanto ao futuro e os nossos resultados mostram isso mesmo já hoje. Cada vez mais o consumidor olha para o seu telemóvel ou tablet como um complemento obrigatório da sua vida. Todos os dias, a todas as horas a necessidade de aceder e comunicar em tempo real é hoje mais que uma possibilidade (veja se o que aconteceu nos recentes tumultos no mundo árabe e o papel que a comunicação em tempo real teve). Hoje é importante expressar e partilhar desde estados de espírito a opiniões, fotos, filmes e outros, sem limites de distância ou hora. Tudo isso faz-nos pensar que o futuro é a continuação do que já vivemos hoje, com muito consumo de memória flash obviamente.
TeK: Estar nos lugares cimeiros de um mercado tão dinâmico requer certamente muita capacidade de investimento em I&D. Quando investem por ano nesta área?
António Serra: A velocidade a que esta tecnologia evoluiu nos últimos anos é obviamente fruto de muito desenvolvimento e muita capacidade de investimento. A Sandisk gastou em ID no último ano mais de 2 mil milhões de dólares, sem contar com o investimento na nova fábrica atrás descrito. Neste negócio tudo funciona de forma muito dinâmica, seja a capacidade ou a velocidade de um produto, sejam os métodos de fabricação, sejam os preços e respectivas oscilações. Tudo funciona a uma velocidade estonteante
TeK: Alguma parte da estrutura de "inteligência" da empresa passa pela península ibérica ou as operações nesta região são essencialmente comerciais?
António Serra: Comerciais e de marketing essencialmente. Toda a estrutura produtiva e a "inteligência" estão localizadas no Japão.
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