Por António Eduardo Marques (*)

No princípio era o plasma. Caro, pesado, sorvedouro de energia e com uma imagem que nem sequer era grande coisa. Mas a tecnologia que, no início deste século, nos fez chamar “plasma” a tudo o que era ecrã plano, mostrou que os velhos CRTs tinham os dias contados.

A alta resolução – HD Ready (720p) e, sobretudo, Full HD (1080p) pouco depois – abriu caminho aos LCD… que inicialmente tinham péssima imagem e eram caríssimos. O primeiro modelo 720p de 32’’ que testei e que tinha já boa qualidade, da Philips, custava a módica quantia de 3.500 euros.

Definido o standard da alta resolução nos 1920x1080, desde há dez anos que a tendência tem sido a mesma: painéis LCD cada vez maiores, melhores e a um preço cada vez mais baixo. O advento do 4K, com a sua resolução Ultra HD de 3840x2160, selou o destino do plasma (é demasiado caro e fica demasiado pesado fazer um painel de plasma com esta resolução) e, entretanto, a tecnologia OLED – que praticamente é um exclusivo da LG – surge como única alternativa ao LCD… Mas, para já, é ainda algo cara, sobretudo nas dimensões maiores (que, como veremos, é um dos pontos essenciais deste artigo).

O meu primeiro televisor plano com formato 16:9 foi um CRT Philips de 28’’. Seguiu-se um Toshiba Full HD de 32’’ e, até ao início deste ano, um plasma Panasonic de 50’’ que foi entretanto substituído por um LCD Samsung 4K de 75’’.

Este é um artigo onde ofereço os meus “5 cêntimos” de sabedoria sobre este tema e exponho alguns argumentos – alguns contracorrente – que costumo usar sempre que alguém me pergunta “António, que LCD é que hei-de comprar?”. Normalmente, as pessoas ouvem o que tenho para dizer e depois fazem o contrário, pelo que também não tenho a pretensão de que quem me lê vá seguir estes conselhos. Mas após dezenas de testes de televisores na revista Video&DVD, mais de 10 anos após o meu primeiro “dezasseis/nove” e três tecnologias de ecrã depois, penso que sei uma coisa ou outra sobre o assunto.

Vamos lá então às dicas.

  1. Compre o maior ecrã que conseguir – mesmo que pareça demasiado grande para o espaço que tem.

De todas as dicas que tenho para si, esta é a mais importante. E sim, garanto que não se vai arrepender: defina qual o máximo que pretende gastar e compre o maior LCD que conseguir encontrar. A verdade é que, se no início havia enormes discrepâncias de qualidade entre marcas e gamas, hoje isso não é verdade. Há uns melhores do que outros, claro, mas as diferenças já não são tão dramáticas. Em caso de dúvida, gaste o dinheiro não em determinada marca mas no modelo maior que o seu orçamento permitir: na prática, a dimensão do ecrã acaba por ser o fator de maior impacto quando chega o momento de ver um filme, um jogo de futebol ou um concerto da sua banda favorita.

Durante anos, a melhor relação preço/dimensão estava nos modelos com 42’’ de diagonal. E ir para as 50’’ implicava um salto muito grande no preço. Mas hoje, como poderá ver em qualquer grande superfície comercial, esse “sweet spot” de preço subiu para ecrãs entre 55’’ e 65’’. E um painel de 65’’ já é um televisor muito grande. Melhor ainda será 75’’ (190 cm de diagonal), mas aí estamos a falar de valores mínimos em torno dos 2000 euros – mais do dobro dos de 65’’.

  1. Atenção às funcionalidades – não se deixe levar pelo que não interessa

Há funcionalidades importantes, como é o caso do número de entradas HDMI, por exemplo (conte sempre com uma para a “box” e outra para uma consola de jogos. Acrescente um leitor de Blu-ray e já gastou 3…). Mas há outras que poderá não valer a pena. É o caso das funções “smart”: se a TV que pretende comprar as inclui e fica ainda assim dentro do orçamento, ótimo. Mas não se deixe deslumbrar… e gastar dinheiro a mais por causa disso. Afinal, por por escassas dezenas de euros poderá comprar uma “Android Box” que lhe oferece tudo o que um SmarTV tem e muito mais. E muito do que procura (streaming, Netflix, Youtube) até pode já estar na box do seu operador ou na consola que tem ligada ao televisor.

No caso dos televisores 4K, deverá garantir que as entradas HDMI têm certificação HDCP 2.2 (no limite, pelo menos uma delas) sem a qual não conseguirá reproduzir conteúdos Ultra HD.

  1. Prepare-se para não ficar deslumbrado com a resolução 4K

Se apontar para televisores de 55’’ ou maiores, o mais certo é que venha já com um painel 4K. À medida a que surgem economias de escala na produção de painéis, deixa de fazer sentido para os fabricantes terem televisores com a mesma diagonal, mais baratos, com resolução 1080p. Mas prepare-se: na maioria dos casos, não irá notar a diferença. O que significa que se encontrar uma pechincha muito grande com “apenas” 1080p, compre sem medo.

O problema são os conteúdos. Hollywood masteriza praticamente todos os seus filmes em 2K (apenas ligeiramente melhor que 1080p) e é preciso procurar com uma lupa para encontrar bons conteúdos realmente em 4K. Pode, no entanto, ver a diferença em jogos 4K (com a Xbox One X e a PS4 Pro – e, mesmo assim, nem em todos os títulos…), em alguns canais do Youtube e canais de demonstração da sua “box”. Outras opções incluem gravações domésticas 4K (com câmaras fotográficas, de vídeo e smartphones) e discos Blu-ray UHD – mas, como já expliquei, a maioria dos filmes não é melhor do que as versões Blu-ray normais, embora haja documentários muito bons, como é o caso dos da BBC. Netflix em 4K? Pode experimentar (e desistir um mês depois, se for caso disso) mas, pessoalmente, não vejo grande diferença, mesmo em 75’’. O mais certo é achar que eu estou a delirar, mas se tem dúvidas, é simples: peça, na loja, para lhe reproduzirem um Blu-ray 1080p e, depois, um Blu-ray UHD 4K com o mesmo conteúdo – de preferência um filme de super-heróis ou algo do género – e tire a sua própria conclusão.

  1. Compre um suporte e instale na parede

Eu sei que nem sempre é possível. E que ainda por cima o seu televisor já traz um suporte de mesa incluído no preço. Mas, caso a sua sala o permita, a instalação diretamente na parede (e isto é tanto mais verdade quanto maior for o televisor que adquiriu) oferece uma verdadeira sensação de cinema-em-casa – além de que lhe permite ajustar melhor a altura da instalação, por exemplo, o que nem sempre é possível com um suporte de mesa. Escolha um bom suporte de parede e não se irá arrepender – alguns permitem ajuste de ângulo na horizontal ou até na vertical.

  1. Não se esqueça do som

Não interessa o tamanho, a marca ou o modelo do seu novo televisor: o som vai ser horrível. É pior nuns que noutros, é verdade, mas será sempre mau. A culpa é nossa, dos consumidores, que se deixam deslumbrar pelo “quanto mais fino, melhor”. E, depois, não há milagres, porque não resta espaço para instalar altifalantes de jeito. E um televisor grande com um som pequeno é uma tristeza…

Caso não tenha na sua sala um sistema de hi-fi ou cinema-em-casa que possa usar, sugiro que pense numa solução tipo barra de som. Há imensos modelos (aqui sim, há grandes diferenças de qualidade! – ouça antes de comprar…) mas eu optaria pelos que são produzidos por marcas de hi-fi e não pelas marcas dos televisores. Se puder, compre uma barra com subwoofer, que pode até ter uma ligação sem fios e é fácil de instalar. A diferença que terá no som será dramática, especialmente em filmes e concertos, e vale bem o investimento.

De regresso ao ponto 1

No final, o mais certo é que a sua decisão relativamente ao novo televisor lá para casa seja determinada sobretudo pelo orçamento, o qual não pode “esticar”. Nesse caso, esqueça tudo o que leu, exceto o primeiro ponto: compre o televisor maior que o seu orçamento permitir, mesmo que seja “só” Full HD.

Se, mais do que séries e jogos de futebol, gosta de usar o seu televisor para ver filmes, então garanto-lhe que a diferença entre 65’’ e 75’’ (e, até, entre 70’’ e 75’’) vale bem o preço a pagar pela diagonal maior. Quer o derradeiro argumento? Então lá vai: não conheço ninguém que alguma vez se tenha queixado de ter adquirido um ecrã demasiado grande – mas conheço imensas pessoas que se arrependeram de não ter comprado um maior.

Vá lá, pense em grande (literalmente). Não se vai arrepender.

(*) Fundador e diretor da revista Video&DVD (2002-2007)

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