Por Vanessa Gonzalez (*)
Vivemos numa era tecnológica e a verdade é que ninguém está imune à influência digital, nem mesmo as crianças. A idade com estas são expostas às novas tecnologias tem vindo a diminuir e os riscos desta exposição são mais que mais evidentes.
As táticas e as estratégias utilizadas pelos cibercriminosos para explorar as vulnerabilidades dos utilizadores mais jovens são cada vez mais sofisticadas e é por isso que os pais devem estar informados das ameaças à cibersegurança dirigidas às crianças e jovens.
A Inteligência Artificial (IA) tornou-se uma tendência no mundo digital. De acordo com um estudo realizado pelas nações unidas, cerca de 80% das crianças utilizam ferramentas de IA várias vezes ao dia. Apesar de existirem evidências do seu contributo positivo e revolucionário em diversas indústrias, a IA representa um risco para a cibersegurança e para a privacidade online das crianças.
As inúmeras aplicações utilizadas, com funcionalidades aparentemente engraçadas, como a alteração das faces para uma versão modificada ou animada com efeitos visuais, implicam o carregamento das suas imagens em bases de dados desconhecidas, sem a garantia que não serão usadas posteriormente. A utilização deste tipo de aplicações deve ser vigiada por um adulto, garantindo que não há informações comprometidas nem dados sensíveis registados.
De todas as aplicações, deve haver um cuidado redobrado com os chatbots – uma forma de machine learning que não tem a capacidade de filtrar a informação fornecida ao utilizador. Isto pode levar os jovens, em alguns casos, a ter acesso a conteúdo inapropriado ou a informações enganosas que colocam a sua segurança e a sua vida em risco. Estima-se que, só no Facebook Messenger, existam mais de 300.000 chatbots em funcionamento.
Destaco, assim, a importância de falar abertamente com as crianças sobre a importância da privacidade e dos perigos da partilha excessiva. Devemos abordar as suas experiências online e construir uma relação baseada na confiança, garantindo que se sinta à vontade para pedir conselhos, em vez de recorrer a um chatbot para obter orientação.
Só no ano de 2022, a Kaspersky detetou mais de 7 milhões de ataques relacionados com jogos infantis de grande popularidade. Este número revela que os jovens preferem comunicar com desconhecidos em jogos do que nas redes sociais. À medida que os cibercriminosos ganham a sua confiança, têm a oportunidade de realizar algum esquema de phishing ou fraude relacionado com os dados confidenciais ou com o download de ficheiros maliciosos durante o decorrer de um jogo. Para além de os cibercriminosos poderem realizar alguma fraude, podem ainda fazer com que os utilizadores a realizem por eles, sem que estes se apercebam.
Serviços financeiros para jovens também em risco
Contudo, a inteligência artificial e o mundo dos jogos não são os únicos cenários de risco para os jovens. Um número significativo de bancos está a oferecer produtos e serviços especializados, que incluem a atribuição de cartões bancários aos jovens a partir dos 12 anos de idade. Analisando a situação da ótica parental, é um serviço cheio de vantagens. Já na ótica da cibersegurança, é uma situação muito delicada. As crianças tornam-se suscetíveis a ameaças com motivações financeiras e a fraudes convencionais, tais como as promessas de obter uma PlayStation 5, e outros dispositivos valiosos, após a introdução dos dados do cartão de débito num site de phishing. Torna-se imperativo consciencializar as crianças para as noções base de cibersegurança e educá-las para a literacia financeira.
No nosso mundo interligado, as preocupações não se resumem a contas bancárias ou a aplicações inovadoras. Atualmente, até os dispositivos IoT de utilização mais simples e do quotidiano são um risco para a cibersegurança, porque estão a tornar-se "inteligentes" e mais sofisticados, o que os deixa mais suscetíveis a ciberataques. Se estes dispositivos se tornarem uma ferramenta de vigilância e existir uma criança sozinha em casa, os cibercriminosos podem contactá-la através do dispositivo e solicitar informações sensíveis.
Num cenário como este, tanto os dispositivos loT como as crianças representam uma vulnerabilidade à cibersegurança. A responsabilidade dos pais é ajustar as definições predefinidas do dispositivo, de forma a mitigar as ameaças existentes.
O desafio do controlo parental
À medida que os jovens vão ficando mais velhos e mais conscientes da sua privacidade, a supervisão parental torna-se um desafio ainda maior. A comunicação entre as famílias e a explicação sobre a importância do controlo parental, respeitando os limites individuais dos jovens, é essencial neste processo.
Todas estas ameaças afetam os utilizadores, especialmente os mais jovens. Os pais devem supervisionar os seus filhos e manter uma comunicação aberta sobre as suas experiências e dinâmicas no mundo digital.
A vigilância parental ganha um papel de relevância na prevenção de ciberataques e permite uma utilização mais segura dos dispositivos, das ferramentas e aplicações de inteligência artificial e dos cartões de débito. É fundamental que os pais consciencializem os seus filhos para a existência destas ameaças e transmitam os conhecimentos base de cibersegurança, prevenindo assim ciberataques que coloquem em risco os utilizadores mais novos.
(*) Diretora de Comunicação da Kaspersky Iberia
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