EDP - Aviso: a ecologia não é binária!
Por António de Castro (*)
A EDP lançou uma campanha digital de comunicação ecológica, em cima da celebração do Dia da Árvore, data aproveitada genérica e regularmente pelas marcas, para associações de comunicação positivas, verdes e ecológicas. No entanto, a abordagem da EDP parece ter saído um pouco ao lado do pretendido. Uma empresa cuja noção de marketing verde é apostar em plantar árvores digitais, consumindo ainda mais carbono e aumentando a pegada ecológica na implementação da iniciativa, sem qualquer tipo de aplicação e benefício real directo no ambiente, está a fazer uma campanha de marketing e comunicação eficiente? Diria com grande certeza que não.
Vou assumir desde já que a EDP, com a sua estrutura vasta, complexa, dinâmica e com um departamento de marketing e comunicação eficaz, sabe muito bem o que fazer e tem um plano estratégico de comunicação alargado no tempo e nos canais, contando também com a presença da empresa nas redes sociais, canal de comunicação já incontornável tanto nas PME como nas grandes empresas, ainda que por vezes incipiente. O meu exercício de análise é efectivamente um potencial esforço inaudível, já que eu não pertenço aos nobres quadros da EDP - ou da REN, lembrei-me não sei bem porquê - nem tenho um título pomposo ligado a empresas do estado. Sou apenas um tipo porreiro que sabes umas coisas de comunicação e marketing digital, e escreve para quem quiser ler.
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No entanto, como consumidor de energia e contribuinte regular para os lucros da EDP, sinto-me no direito de dar alguns conselhos energéticos para a dinamização da comunicação e sentimento de pertença à comunidade verde, ou tão somente gastar a minha cota parte de energia, sustentando o PIB deste país que se habituou a usurpar os recursos pessoais de quem trabalha no país real e não nos ambientes fictícios de gabinetes de fachada e elefantes brancos que sorvem a verdadeira competitividade do país. Sem dizer nomes, penso que não é preciso, podia dizer que a energia positiva deste país foi há muito sugada irremediavelmente.
Voltando à EDP e à sua acção de comunicação digital via aplicativo para Smartphones (Androir e iOS) e amplamente veiculada no Facebook oficial da empresa: não pretendo questionar a originalidade da aplicação (ou a falta dela) que permite plantar árvores num cenário real, através da sobreposição do elemento ecológico através da "cam" do dispositivo, mas sim a boa fé ecológica de algo tão pobre e fictício como acção desprovida de impacto ambiental positivo.
Árvores digitais, oxigénio fictício
Porque todos sabemos que o ar que se respira não é fornecido via USB, nem há tão pouco DVDs com metros quadrados de floresta, pelo menos para já, a celebração de um dia com carácter exclusivamente ecológico, deveria ter sido balizada e assente numa acção com impacto efectivo real, como tantas outras marcas fizeram nesse mesmo dia, aproveitando a comunicação e a exposição ao tema, em troca da plantação de activos verdes.
A aplicação "e-nature" desenvolvida para a celebração do tema e do dia, não tem falta de conceito nem de aplicação no universo dos utilizadores que convivem com a inegável tecnologia mobile, estando portanto conceptualmente correcta.
Existe no entanto uma questão de timing e sensibilidade de tema que é necessário analisar. Na sua essência, a abordagem de comunicação em eixos relacionados com ecologia e natureza centram-se na poupança efectiva de recursos verdes reais ou na substituição de recursos naturais consumidos durante os processos de produção de uma matéria ou serviço. Portanto, a dica é clara! Não plantem bits, plantem árvores.
Sementes para o futuro
Como estamos num país onde dizer mal é um desporto nacional, abandono esse ramo para plantar à minha maneira activos positivos e oxigénio criativo no cérebro de quem possa ler. Consequentemente, lanço uma pequena semente para acções futuras ou para a reconversão do aplicativo para iPhone e Smartphones: por cada árvore plantada digitalmente, aconselha-se a que transformem esse activo em árvores plantadas no mundo real.
Assim, a conversão do objectivo digital não se fica apenas pelo mundo das intenções ecológicas da cloud. Não caiamos todos no erro de pensar que o digital é a sintetização do mundo em binários. Há coisas que merecem ficar intocadas, virgens, exuberantes: tal é o caso da natureza que não se pode plantar num desktop ou telemóvel de última geração.
(*) Consultor de Comunicação Digital
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