Inovação aberta e valorização da tecnologia

Águeda Silva (*)

Num mundo cada vez mais competitivo e globalizado, o modelo de gestão da inovação baseado no conceito de inovação aberta tem surgido nos últimos anos como uma ferramenta que permite alavancar os avanços científicos e técnicos, fomentando a valorização dos activos intangíveis existentes.

A inovação aberta consiste no processo de aquisição e uso de conhecimento gerado por fontes externas à empresa, de modo a complementar o seu próprio conhecimento interno e os seus processos de Investigação, Desenvolvimento e Inovação (IDi).

Henry W. Chesbrough, professor na Universidade da Califórnia em Berkeley, define no seu livro "Open Innovation" que "a inovação aberta é o paradigma que assume que as empresas podem e devem usar ideias externas assim como internas e caminhos internos e externos para os mercados à medida que as empresas avançam a sua tecnologia." [Nota 1]

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Esta forma de entender o processo de inovação supõe uma mudança radical em relação aos modelos de inovação anteriores, como por exemplo o modelo linear, no qual os processos de IDi são desenvolvidos unicamente com recursos internos e as inovações que não se aplicavam directamente nos processos produtivos eram abandonadas.

Contudo, a inovação é um processo que exige o relacionamento com o exterior e, para se manterem competitivas, as empresas têm cada vez mais necessidade de aceder a recursos e tecnologias que não existem no seu seio e de manter relações com parceiros externos (fornecedores, clientes, concorrentes). Nesse sentido, é importante que as empresas possuam processos de vigilância tecnológica e de mercado bem definidos, de modo a rentabilizar os recursos existentes e a valorizar a sua tecnologia.

Na maior parte dos casos, a mudança de mentalidade é necessário para passar da inovação clássica para a inovação aberta. Para que o modelo de inovação aberta funcione, é necessário que haja uma maior proximidade entre as empresas, universidades e centros tecnológicos; que haja uma boa relação com os fornecedores e concorrentes; que se criem redes de valor; que haja maior difusão de ferramentas colaborativas como os living Labs ou a Web 2.0.

Esta maior proximidade entre a envolvente interna e externa das empresas permite que haja uma valorização do potencial tecnológico que muitas vezes está desaproveitado, uma vez que, p.e. tecnologias que não sejam consideradas úteis por uma dada empresa, poderão ser de extrema utilidade para outra empresa.

Segundo o 4º inquérito comunitário à inovação (CIS-4), a colaboração entre empresas é um factor importante para as actividades de inovação das empresas, em que 1 em cada 10 empresas europeias colaboraram com parceiros entre 2002-04, sendo que as grandes empresas colaboram mais do que as pequenas e médias empresas, embora as colaborações efectivadas sejam maioritariamente de curta duração. De acordo com os resultados deste inquérito, em Portugal, tal como na maioria dos países da União Europeia, as empresas colaboram mais com fornecedores e com clientes do que com concorrentes e institutos privados de I&D. Ao nível das colaborações com países estrangeiros, estas são mais frequentes com países da UE e menos frequentes com países fora da UE. [Nota 2]

Assim, tendo em conta o panorama nacional, apesar de algumas empresa já terem colocado em prática o modelo de inovação aberta, tendo em conta que o tecido empresarial português é maioritariamente constituído por PME's, é urgente que estas adoptem o modelo de inovação aberta e tirem partido das tecnologias existentes no mercado, inserindo-se em redes de inovação globais, de modo a valorizar a sua própria tecnologia e tornando-se mais competitivas nos mercados internacionais, tecnologicamente inovadores.

(*)Consultora do Departamento de Consultoria e Inteligência Tecnológica da Clarke & Modet

[Nota 1] Henry Chesbrough, Wim Vanhaverbeke e Joel West, Open Innovation: Researching a New Paradigm. Oxford: Oxford University Press, 2006

[Nota 2] Open Innovation In A Global Perspective - What Do Existing Data Tell Us?, Sti Working Paper 2008/4, Statistical Analysis Of Science, Technology And Industry