Por Josep María Raventós (*)

Vivemos tempos desafiantes no mundo dos negócios e as oportunidades que a tecnologia gera não devem ser ignoradas. A Inteligência Artificial (IA) é a maior revolução após o surgimento da internet e ninguém poderá ficar indiferente a esta nova forma de conviver com a tecnologia, seja na sua vida pessoal, seja no seu desempenho profissional. Apesar de ainda estarmos numa fase de descoberta e de exploração de possibilidades, a AI já está a despoletar uma grande revolução na forma como acedemos à informação, como trabalhamos, como interagimos com os sistemas e na forma como organizamos e planeamos as nossas atividades diárias. A onda de transformação ainda está a começar a ganhar forma, mas já existem muitas aplicações baseadas em IA que estão a transformar o dia a dia. É, por isso, perentório democratizar este tipo de tecnologia e entender que a IA irá provocar uma transformação sem igual na gestão dos negócios.

Evolução sim, mas uma evolução útil, com ética e segurança

Naturalmente que as grandes transformações têm impacto e o impacto da IA deve ser regulado, de forma a garantir que os sistemas de IA utilizados sejam seguros, transparentes, rastreáveis, não discriminatórios, respeitadores do ambiente e supervisionados por pessoas, em vez de serem automatizados, para evitar resultados desfavoráveis. Estas são as principais orientações da diretiva europeia aprovadas na Lei da Inteligência Artificial, que apresenta uma abordagem focada na segurança tecnológica, uma preocupação que deve ser transversal a todas as tecnológicas que estejam a desenvolver mecanismos suportados pela IA.

Enquanto empresa responsável pelo desenvolvimento de soluções de gestão empresarial que suportam a atividade diária de milhares de empresas, esse é o grande pilar que sustenta o centro de desenvolvimento de IA que estamos a construir em Braga.  Acreditamos que a ética terá sempre de guiar o desenvolvimento económico, social, cultural e tecnológico e essa é um pilar fundamental de toda a nossa atividade. As soluções dotadas com mecanismos de IA, que estamos a construir, apoiam os utilizadores em tarefas exaustivas e pouco geradoras de motivação e satisfação laboral, como, por exemplo, a recolher e validar quantidades enormes de dados, a identificar falhas e a obter dados mais rigorosos. Estes automatismos estão a ser criados para facilitar tarefas morosas e sujeitas a erro, libertando assim os profissionais para atividades de maior valor acrescentado e que requerem maior criatividade e capacidade intelectual. Desta forma, as empresas conseguem extrair o máximo potencial dos seus negócios, os colaboradores colocam ao serviço da empresa todo o seu potencial e contribuem efetivamente para gerar valor, aumentando a sua satisfação e o seu envolvimento com o propósito da organização.

Apesar de na Cegid nos movermos pela máxima “never stop exploring”, e de procurarmos inovar continuamente para abrir cada vez mais possibilidades de evolução para os nossos clientes, temos os pés bem firmes na terra e queremos, acima de tudo, proporcionar experiência memoráveis aos nossos clientes. Esse foco na experiência do cliente estará sempre acima de tudo o entusiasmo que vivemos atualmente pelos avanços tecnológicos que a IA nos traz.

Numa altura em que tanto se fala de IA, é importante que os gestores saibam distinguir o trigo do joio e procurem soluções inteligentes, mas acima de tudo, soluções úteis e inovadoras que aportam valor aos negócios e cumprem com os mais elevados critérios de compliance e segurança dos dados.

Muito se fala de IA, mas poucos a utilizam verdadeiramente

De acordo com o relatório “Avaliação do Potencial Económico da Transição Digital em Portugal”, desenvolvido pela Deloitte Business Consulting S.A., em colaboração com a Universidade de Coimbra, para a Estrutura de Missão Portugal Digital, a IA é utilizada apenas por 17,3% das empresas em Portugal. A tecnologia de Big Data serve apenas 10,6%. E a cloud abrange 34,6%. Para cada um destes indicadores o objetivo da Estratégia Digital é chegar aos 75%.

Sendo a cloud a base para utilizar aplicações dotadas de IA, percebemos que ainda há um longo caminho a percorrer neste sentido. É necessário acelerar a adoção da tecnologia cloud por parte das empresas portuguesas, pois só assim é que estas serão capazes de tirar partido de todo o potencial que a IA traz para a gestão dos negócios.

A chave pode estar em apostar nos sistemas que as empresas já utilizam. Afinal, e de acordo com o mesmo relatório, 91,2% das grandes empresas utilizam um software ERP para partilhar informação entre vários departamentos e, em relação às PME, este número é de 50,8%. Se utilizarmos este tipo de software como o meio para difundir a adoção da cloud, bem como a utilização da IA, poderemos atingir os objetivos a que Portugal se propõe.

Os objetivos são ambiciosos e estamos preparados para apoiar as empresas nessa jornada, mas sempre conscientes de que é preciso saber respeitar o ritmo de evolução de cada empresa. Todos sabemos que o futuro está na cloud, mas nem todas as empresas estão preparadas para essa nova era. Sabemos que sem cloud não haverá Inteligência Artificial. E sabemos que o futuro está na cloud, mas também temos de saber respeitar o estado de maturidade digital de cada empresa. Por essa razão, estamos a caminhar velozmente junto dos audazes que já querem experimentar todas as possibilidades que a IA nos traz, mas também caminhamos com serenidade junto daqueles que ainda valorizam as soluções mais tradicionais, on-premises, ajudando-os gradualmente a entrar, ao seu ritmo, na nova era digital. O caminho faz-se caminhando e estamos a navegar a várias velocidades, para não deixar ninguém para trás.

(*) Diretor Executivo de Pequenas e Médias Empresas e Contabilistas Certificados da Cegid em Portugal & África