Por Francisco Jaime Quesado (*)

A crise económica e social associada a esta pandemia está a provocar grandes alterações no comportamento dos principias agentes económicos. Com o contexto de confinamento a que as pessoas têm estado obrigadas e a acelerada diminuição da mobilidade, o turismo e as atividades associadas – como o alojamento e a restauração – enfrentam profundos desafios de reposicionamento estratégico e de alteração da sua cadeia de valor. As agendas do digital e da sustentabilidade, que dominam as prioridades a nível europeu e nacional, terão também na área do turismo um laboratório experimental de iniciativas inovadoras e focadas em novas soluções com impacto concreto no terreno – é o claro exemplo da iniciativa Hotel 4.0 dinamizada pela AHRESP e que pretende ajudar a reposicionar o setor para os novos desafios que aí vêm.

O setor do turismo teve um crescimento exponencial nos últimos anos, tendo vindo a representar antes da pandemia cerca de 14% do PIB, com um contributo central em termos de emprego e de criação de capital social básico em várias regiões do país. Para além das fortes campanhas de promoção em mercados externos, o efeito da democratização do espaço aéreo – em particular com os fenómenos das low costs – e o desenvolvimento de uma imagem de marca do país – assente em tendências fortes como a da revista Monocle e outras afins – colocaram os nossos principais destinos nas grandes rotas internacionais. Um pouco por todo o país a base hoteleira – quer de grandes cadeias internacionais e nacionais quer de dimensão mais independente – cresceu de forma exponencial, passando a existir uma oferta muito completa e variada em quantidade e qualidade.

A forte regressão no movimento turístico e na mobilidade interna provocada pela pandemia veio alterar dum momento para o outro o cenário e neste contexto de crise são muitos os desafios que se colocam ao setor do alojamento – e em particular da pandemia – na preparação deste novo tempo que temos pela frente com o Next Normal. As unidades hoteleiras – em especial as mais independentes e localizadas em zonas menos centrais – terão que se reposicionar para estar na linha da frente da capacidade competitiva de atração de clientes internacionais e nacionais. Conforme o projeto Hotel 4.0 pretende demonstrar, importa fazer um compromisso inteligente entre a proposta de soluções de oferta inovadora e a utilização do digital como um enabler de eficiência operacional.

Os turistas privilegiam cada vez mais o efeito de demonstração de experiências de qualidade que permitam desfrutar de fatores de distinção como a natureza, a cultura e outros atrativos interessantes. Os hotéis têm sabido responder a esta procura cada vez mais exigente e diversificada e quer nas cidades quer nas zonas do interior as ofertas de qualidade têm surgido a um ritmo impressionante, potenciando uma resposta estruturada com efeitos positivos nas economias locais e na sua base económica. Importa por isso neste momento de mudança, e em linha com um benchmarking estratégico internacional inteligente, proceder a um reposicionamento da cadeia de valor da oferta hoteleira, apoiada por uma cultura de inovação aberta e de inteligência coletiva reforçada e sustentada.

As mudanças estratégicas ao nível do comportamento da oferta e da procura não se fazem por decreto. Assentam antes num processo colaborativo e participado de reforço de uma cultura digital e de promoção de uma agenda de inovação e valor capazes de mobilizar redes de conhecimento e de partilha de boas práticas. A dinamização por parte da AHRESP da iniciativa Hotel 4.0 é um exemplo desse contributo - de referir, neste contexto, o papel inovador dum Think Tank que integra especialistas e responsáveis do setor  que irão  discutir os novos desafios que se colocam para o futuro e desta forma dar um contributo para a sua melhoria competitiva.

(*) Economista e Gestor – Especialista em Inovação e Competitividade