Por Ricardo Macieira (*)

No mundo atual, os conceitos de centralização e descentralização são fundamentais para compreender o funcionamento das organizações e a forma como os dados são geridos. A centralização refere-se à concentração de poder e controlo numa única entidade, enquanto a descentralização distribui esse poder por várias entidades independentes. Exemplos clássicos incluem a Suíça, conhecida pelo seu sistema político descentralizado, e o McDonald's, que opera através de um modelo de franchise altamente descentralizado.

A centralização oferece vantagens como a eficiência e a uniformidade, mas também apresenta riscos significativos, especialmente no que respeita à privacidade e segurança dos dados. Quando os dados são controlados por uma única entidade, como no caso de gigantes tecnológicos como a Apple, o Facebook e a Google, existe um risco mais elevado de violações de dados e de potenciais abusos de poder. Por outro lado, a descentralização distribui o controlo dos dados por várias entidades, reduzindo o risco de um único ponto de falha. Tecnologias como a blockchain e as redes peer-to-peer são um ótimo exemplo desta abordagem, oferecendo maior transparência e segurança.

Num momento em que a privacidade dos dados pessoais é tão importante e mais prezada do que nunca, a descentralização pode ser uma solução eficaz para os proteger. Com uma rede de blockchain descentralizada, não existe a definição de “confiança”. Contrariamente aos sistemas tradicionais, com a descentralização a noção de confiança é abstrata. Além disso, torna-se muito mais difícil hackear informação que está distribuída e repartida, sendo impossível de reagrupar ou identificar na totalidade. Em articulação com a forte encriptação implementada nestes sistemas, a descentralização devolve aos consumidores as rédeas  do controlo sobre os seus dados pessoais e a forma como são usados.

Para além da rede descentralizada, há outras medidas que as organizações podem - e devem - aplicar com vista à proteção digital dos utilizadores. Criptografia como a zero-knowledge proof (ZKP), que permite a autenticação sem revelar os dados, e a custódia pessoal, uma ferramenta que nos dá o controlo total e absoluto sobre as informações pessoais, são algumas inovações que lideram pelo exemplo e que colocam os utilizadores à frente do volante da sua privacidade digital.

Ao abraçar fórmulas que nos protegem e empoderam no universo online, as organizações fortalecem e consolidam as suas políticas de proteção e privacidade. Numa realidade que anda, progressivamente, de mãos dadas com a tecnologia e com a responsabilidade que as entidades empresariais têm sobre o tratamento de dados pessoais, a solução passa por repartir e distribuir a propriedade do que sempre foi nosso: a privacidade.

(*) Diretor regional para a Europa da Tools for Humanity