Por Ana Neves e Pedro Marques (*)

Atualmente a promoção da navegação segura da Internet passa necessariamente pela capacitação técnica e comportamental no uso da Internet e das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) por toda a população com diferentes níveis etários e qualificações, porque se percebeu que se trata de uma forma do exercício pleno da cidadania na sociedade tecnológica cada vez mais exigente em que vivemos.

Por outro lado, a adoção vertiginosa das tecnologias digitais impõe o prosseguimento constante de estratégias de combate ao défice crescente de competências digitais dos cidadãos e a aquisição, por todos, das competências necessárias para prosperar na economia e na sociedade digitais.

Por outro lado, os jovens consideram que as ações para uma navegação mais segura da Internet pode já não lhes dizer diretamente respeito pois eles não são conhecidos por… “nativos digitais”? Não são eles o grupo-alvo que mais rapidamente se adapta às novas tecnologias e aplicações que todos os dias chegam aos nossos computadores e dispositivos móveis?

A questão é que a adaptação a uma ferramenta digital, nem sempre é acompanhada pela maturidade necessária para o uso seguro da mesma, o que leva, por um lado, a um maior fosso geracional por os jovens considerarem que pais e adultos não conseguem acompanhar a sociedade digital e, por outro, dificulta o próprio diálogo sobre os riscos associados à utilização da tecnologia.

Como forma de combater este problema, o Centro Internet Segura tem centrado a sua intervenção junto dos jovens em tópicos específicos, baseando-se nas evidências europeias relativas a consequências associadas a uma utilização menos informada.

Um dos exemplos mais evidentes é o tópico das redes sociais, que se divide em questões técnicas (o que fazer em caso de roubo de perfis ou da criação de perfis falsos e tentativas de Phishing) e disseminação de conteúdos ilegais, onde é necessário entender e interiorizar fenómenos como a sobre-exposição ou a reputação online. Os relacionamentos online, por serem tão abrangentes e associarem em si mesmos diversos riscos, como o Sexting, Revenge Porn, Catphishing, Grooming, Sextortion, Cyberbullying, entre outras, é também uma área amplamente trabalhada pelo Centro Internet Segura.

Outro exemplo recai nas questões técnicas e comportamentais dos jogos que, por assumirem cada vez mais a componente online, partilham riscos semelhantes a redes sociais, acrescidos a outras preocupações, nomeadamente a adequação à idade, a possibilidade de compras dentro das aplicações e interações com desconhecidos através destas plataformas – questão muitas vezes esquecidas pelos jovens.

No estudo “A Saúde Dos Adolescentes Portugueses Em Tempos De Recessão” de 2014, revela que cerca de metade dos adolescentes utiliza o computador para conversar, navegar na internet, enviar e-mails, fazer os trabalhos da escola, etc, entre uma a três horas durante a semana e fim de semana.

A par com as horas de utilização, também a frequência com que os jovens falam com amigos pela Internet através de programas como Whatsapp, Facetime ou Messenger aumenta. Um terço dos jovens prefere comunicar com os amigos através das redes sociais, como o Facebook, Twitter e Instagram. E são essencialmente as jovens que mais frequentemente têm a prática de tirar “selfies” para enviar aos amigos ou publicar online.

O Centro Internet Segura promove o diálogo e o acompanhamento como base da solução - entre gerações, entre pares, entre profissionais - a partilha de informação, o conhecimento dos riscos e entendimento das consequências associadas a um uso menos cuidado das tecnologias. É natural que, neste diálogo, sejam ainda abrangidas questões relativas ao acesso a conteúdos ilegais na Internet. Falamos de questões como materiais de exploração online de Abuso Sexual de Menores, Apologia à Violência ou Apologia ao Racismo. O Centro Internet Segura providencia uma linha operacional para a denúncia destes conteúdos – a Linha Alerta. As denúncias podem ser efetuadas a qualquer momento, de forma rápida e anónima, através do envio do URL onde se encontra o conteúdo ilegal no formulário disponível em https://linhaalerta.internetsegura.pt/.

Continua assim muito por fazer em termos de navegação segura na Internet, e este trabalho aumenta tão quão mais disruptiva se torna a sociedade diariamente. E isto aplica-se a todas as faixas etárias e níveis de qualificação, como já atrás referido.

Como dizia Vint Cerf - nascido a 23 de junho de 1943 que, juntamente com Rob Kahn, é considerado um dos “pais” da Internet, por ter participado na criação dos protocolos TCP/Internet Protocol (IP), que são o alicerce da conexão à rede - no “Internet Governance Forum 2016”, que se realizou em Guadalajara, em dezembro, “If you think older people don’t know how to use the Internet, I have news for you: we invented it.”

(*) Ana Neves – Diretora do Departamento da Sociedade da Informação | Fundação para a Ciência e a Tecnologia

Pedro Marques - Centro Internet Segura, Departamento da Sociedade da Informação | Fundação para a Ciência e a Tecnologia

Nota da Redação: foi feita a correção da última frase que por lapso tinha ficado cortada.