Corre-se o risco de se perderem os investimentos feitos nos últimos dez anos

Que futuro para a Sociedade da Informação em Portugal?

Por Francisco Jaime Quesado (*)

Portugal tem vindo a realizar desde há dez anos fortes investimentos públicos na área da modernização tecnológica e formação em novas competências. Tem sido assumido pelos sucessivos Governos a prioridade conferida à missão de estimular fortemente a acessibilidade e participação, assegurando a dinamização, o desenvolvimento e a consolidação das Tecnologias de Informação e Comunicação como um instrumento central de modernização e melhoria da qualidade de vida da sociedade portuguesa. Ao fim deste tempo todo, muito falta fazer. Se a Política Pública não continuar a intervir, corre-se o risco de se perderem os investimentos feitos nos últimos dez anos.

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A construção de uma Sociedade da Informação e do Conhecimento é um desafio complexo e transversal a todos os actores e exige um capital de compromisso colaborativo entre todos. Em 2011 Portugal é já claramente um país da linha da frente em matéria de infra-estruturas de última geração - para além da ligação das escolas e de grande parte de instituições públicas em banda larga, a modernização administrativa da Administração Pública Central e Local avançou em grande ritmo e existe uma Rede de Espaços Públicos de acesso universal à Internet, com grande impacto em zonas mais isoladas e segmentos sociais mais desfavorecidos.

Apesar do enorme progresso registado, os sinais empíricos evidenciam uma leitura menos positivo do comportamento da sociedade portuguesa em termos dos requisitos que a Inovação e a Criatividade implicam. A consolidação duma Sociedade do Conhecimento em Portugal implica, antes de mais, saber responder às seguintes questões:


  • Qual o caminho a dar às TIC enquanto instrumentos centrais duma política activa de intervenção pública como matriz transversal da renovação da nossa sociedade ?

  • Qual a forma possível de fazer das empresas (e em particular das PME) os actores relevantes na criação e valor e garantia de padrões de qualidade e vida social adequados, num cenário de crescente "deslocalização" económica?

  • Qual o papel efectivo da educação como quadro referencial essencial da adequação dos actores sociais aos novos desafios da sociedade do conhecimento? Os actores do conhecimento de que tanto se precisa são "educados" ou "formados"?

  • Qual o papel do I&D enquanto área capaz de fazer o compromisso necessário entre a urgência da ciência e a inevitabilidade da sua mais do que necessária aplicabilidade prática para efeitos de indução duma cultura estruturada de inovação?

  • Qual o sentido efectivo das políticas de empregabilidade e inclusão social enquanto instrumentos de promoção dum objectivo global de coesão social? O que fazer de todos os que pelo desemprego se sentem cada vez mais marginalizados pelo sistema?

Pretende-se desta forma criar as condições para a qualificação "em rede" dos diferentes Actores que dinamizam o país, proporcionando uma verdadeira "agenda de modernidade", participativa e apostada no novo paradigma da competitividade, essencial para a criação duma oportunidade nacional na economia global. O Conhecimento ganha desta forma um estatuto central na mudança do paradigma de desenvolvimento do país, materializado no compromisso entre Coesão Social e Competitividade.

A experiência de implementação dos Projectos executados nos últimos anos, envolvendo as mais variadas naturezas de Entidades (Administração Pública Central, Local, Universidades, Centros I&D, outras Entidades) constitui um laboratório único a desenvolver no futuro. Portugal não pode fugir ao desafio de se tornar verdadeiramente uma Sociedade do Conhecimento. Para isso, o nosso contributo individual numa rede colectiva moderna será fundamental.

(*) Especialista em Estratégia, Inovação e Competitividade