Por Luís Henrique Narvion (*)

Portugal, assim como muitos outros países, enfrenta desafios significativos relacionados com a gestão de riscos e crises em várias esferas, incluindo saúde, segurança pública, economia e meio ambiente. Embora haja esforços contínuos para lidar com estes desafios, persiste uma falha notável: a falta de uma cultura consolidada de gestão de riscos em Portugal.

Em comparação com algumas nações mais avançadas neste campo, Portugal ainda tem um caminho a percorrer no desenvolvimento e na implementação de práticas robustas de gestão de riscos. Esta falta de cultura de gestão de riscos é evidente em diversos setores e pode ter consequências sérias em tempos de crise.

A nível corporativo, a falta de uma abordagem estruturada para a gestão de riscos pode expor as empresas portuguesas a uma série de ameaças, desde questões de conformidade e regulamentação, até riscos operacionais e de reputação. A ausência de uma cultura de gestão de riscos pode levar a decisões inadequadas e a exposição a perdas financeiras significativas.

Em suma, a falta de uma cultura consolidada de gestão de riscos é um desafio significativo para Portugal, mas também representa uma oportunidade de avançar em direção a práticas mais eficazes e resilientes. Ao combinar tecnologias emergentes, como Inteligência Artificial Generativa, com uma abordagem proativa e colaborativa, Portugal pode melhorar a sua capacidade de antecipar, prevenir e responder a uma ampla gama de riscos e crises, protegendo assim o bem-estar e a segurança da sua população.

Alguns exemplos de falhas na gestão de riscos em Portugal incluem:

  1. Falta de Investimento em Prevenção e Mitigação: Em muitos casos, há uma tendência de investir mais em resposta a crises do que em medidas preventivas e de mitigação. Isso pode resultar em uma abordagem reativa à gestão de riscos, deixando empresas e pessoas mais vulneráveis a eventos adversos.
  2. Desafios na Gestão de Riscos Naturais: Portugal enfrenta riscos significativos de desastres naturais, como incêndios florestais, estiagens, sismos e inundações. No entanto, questões como gestão inadequada do território, falta de monitoramento eficaz e recursos limitados podem dificultar a prevenção e resposta a esses eventos.
  3. Riscos Socioeconómicos: Questões socioeconômicas, como desigualdade social e pobreza, podem aumentar a vulnerabilidade da população a diversos riscos, incluindo saúde, segurança alimentar e habitação inadequada. A falta de políticas abrangentes para abordar essas questões pode agravar os impactos de crises em comunidades vulneráveis.
  4. Cibersegurança: Com o aumento da digitalização em todos os setores, incluindo governamentais, financeiros e de infraestrutura crítica, a cibersegurança se tornou uma preocupação crescente em Portugal. Falhas na proteção de dados e sistemas podem resultar em ataques cibernéticos que afetam não apenas a segurança digital, mas também a estabilidade econômica e a segurança nacional.

Vários exemplos de falhas foram observados nos últimos anos em Portugal e amplamente noticiadas pela imprensa, entre os quais:

  • Vodafone Portugal alvo de ciberataque
  • Ru Pinto condenado por extorsão e violação de e-mails e amnistiado em 68 crimes
  • Afinal não foi só a PLMJ, VdA, Morais Leitão e Abreu Associados também foram alvo do hacker Rui Pinto

Desafios na Gestão de Crises

Em crises recentes, como a pandemia da COVID-19, tem havido críticas à coordenação e comunicação entre as autoridades governamentais, bem como à capacidade de resposta rápida e eficaz. A falta de planos de contingência abrangentes e ações proativas podem dificultar a gestão eficaz futura de crises.

Estas falhas destacam a importância de abordar as lacunas na gestão de riscos em Portugal e implementar medidas para fortalecer a resiliência do país face a desafios emergentes e complexos. Tal inclui investir em prevenção e mitigação, fortalecer a infraestrutura de resposta a crises, promover a igualdade social e económica e melhorar a coordenação entre as diferentes entidades envolvidas na gestão de riscos e crises.

Gestão de Riscos, Gestão de Crise e Inteligência Artificial Generativa

A interseção entre gestão de riscos, gestão de crise e inteligência artificial generativa é cada vez mais relevante num mundo complexo e interconectado. Neste artigo, exploraremos como estes campos se entrelaçam e como a Inteligência Artificial (IA) Generativa pode ser uma ferramenta poderosa para enfrentar desafios nesses domínios.

Gestão de Riscos e Crise: Um Contexto Fundamental

A gestão de riscos é essencial para identificar, avaliar e mitigar potenciais ameaças que podem impactar uma organização, seja financeira, operacional ou reputacionalmente. No entanto, apesar dos esforços preventivos, as crises podem surgir de forma inesperada, requerendo respostas rápidas e eficazes.

Uma crise pode ser desencadeada por uma variedade de eventos, como desastres naturais, crises de saúde pública, falhas tecnológicas, ou mesmo crises reputacionais causadas por má conduta corporativa. Em todos estes casos, a capacidade de resposta rápida e coordenada é crucial para minimizar danos e proteger os interesses da organização.

A boa gestão de riscos deve ser implementada de forma transversal na administração pública ou no setor privado. Não se trata de trabalho ou exercício exclusivo de departamentos jurídicos ou advogados à procura de soluções quando a crise já está instalada.

Prevenção, estudo, antecipação, envolvimento de todas as áreas e, acima de tudo, a aculturação das pessoas e corporações (top down), são as chaves do sucesso.

Inteligência Artificial Generativa: Uma Nova Abordagem

A Inteligência Artificial Generativa oferece uma abordagem inovadora para lidar com riscos e crises. Ao contrário dos sistemas de IA convencionais, que são projetados para resolver problemas específicos com base em conjuntos de dados existentes, a IA generativa é capaz de criar novos conteúdos, imagens ou até mesmo cenários futuros.

Essa capacidade de criar conteúdo original e simular cenários hipotéticos é especialmente valiosa para a gestão de riscos e crises. Por exemplo, sistemas de IA generativa podem ser utilizados para simular possíveis crises e avaliar a eficácia dos planos de contingência existentes. Podem também ajudar na identificação de vulnerabilidades e na elaboração de estratégias proativas de mitigação de riscos.

Além disso, a IA generativa pode ser usada para desenvolver cenários de formação realistas, permitindo que as equipas de resposta a crises simulem e se preparem para uma ampla gama de situações adversas. Isto ajuda a melhorar a prontidão e a eficácia das equipas de resposta, reduzindo o tempo de reação em momentos de crise real.

Aplicações Práticas

Várias organizações já estão a explorar o potencial da Inteligência Artificial generativa na gestão de riscos e crises. Por exemplo, as empresas de seguros estão a usar modelos generativos para simular eventos catastróficos e avaliar o impacto potencial nas suas carteiras de seguros.

Da mesma forma, governos e agências de segurança estão a aproveitar a IA generativa para antecipar ameaças emergentes e desenvolver estratégias de resposta mais eficazes. Estas aplicações demonstram como a IA generativa pode complementar abordagens tradicionais de gestão de riscos e crise, fornecendo insights valiosos e soluções inovadoras.

Desafios e Considerações Éticas

No entanto, o uso da inteligência artificial generativa na gestão de riscos e crises também apresenta desafios e considerações éticas. Por exemplo, a criação de cenários de crise extremamente realistas pode gerar ansiedade e stress entre os participantes da formação. Da mesma forma, a disseminação de informações falsas ou enganosas geradas por IA pode exacerbar crises existentes e minar a confiança pública.

Portanto, é crucial que as organizações considerem cuidadosamente o impacto potencial das suas iniciativas de IA generativa e implementem salvaguardas adequadas para mitigar riscos e proteger os interesses das partes interessadas.

Conclusão

A interseção entre gestão de riscos, gestão de crise e Inteligência Artificial generativa oferece oportunidades para melhorar a preparação e a resposta a eventos adversos. Ao aproveitar o poder da IA generativa, as organizações podem identificar riscos emergentes, desenvolver estratégias de mitigação eficazes e fortalecer a resiliência organizacional. No entanto, é crucial abordar os desafios éticos e garantir que a IA generativa seja usada de forma responsável e transparente.

A boa gestão de riscos e a transparência como são tratadas as vulnerabilidades fazem parte da boa Governança, e do tema atual e recorrente ESG (Environmental, Social and Governance).

(*) COO, EFFICAZX Portugal