Por Joana Teixeira (*)

Não se trata de um desígnio ao alcance exclusivo das organizações mais sofisticadas. Tão pouco uma tendência que se esteja a antecipar. Já nem é somente uma opção.

A transformação digital está em pleno curso, é obrigatória para as empresas que não queiram definhar ainda no curto prazo e é objeto de ação dos gestores ou responsáveis de negócio (seja de modo mais estruturado ou mais avulso).

Mas… resolvemos os problemas de competitividade das nossas empresas abraçando a tecnologia digital, e termina por aqui o desafio a que propusemos?

Podem as necessidades que originaram o conceito de transformação digital, bem como os objetivos que o guiam, ser satisfeitos, por si só, com a adoção de tecnologia digital?

Para começarmos a responder a estas perguntas, recuperemos o básico, a semântica primitiva destes dois conceitos, pesquisemos no “dicionário empresarial” tão usado nos últimos anos. Tecnologia significa “ciência cujo objeto é a aplicação do conhecimento técnico e científico para fins industriais e comerciais” (Priberam) e transformação digital remete para o uso de dispositivos eletrónicos (do computador aos telemóveis, abrangendo ainda a internet) e o que estes são capazes de criar.

A transformação digital depende, desde logo, do investimento na infraestrutura tecnológica que viabilize a incorporação da própria tecnologia, ou seja, a adoção de mecanismos técnicos que suportem a melhoria dos processos e a alavancagem das performances.

Este é o lado formal, puro da transformação digital. É, naturalmente, essencial, o seu pressuposto.

Mas, será autossuficiente?

É a necessidade, a montante, de responder a um mercado efetivamente global, bem como a uma concorrência plural e desconhecida e a um funcionamento que tem na aceleração e mudança duas das suas principais caraterísticas, que obriga as empresas a transformarem-se.

Por outro lado, estes desafios correspondem, a jusante, a objetivos definidos que se pretendem traduzidos em dois macro benefícios pela transformação digital: maior eficiência no processo (incremento na produtividade, diminuição do erro e racionalidade dos meios utilizados) e maior competitividade (alargamento do campo de recrutamento de clientes e aumento da satisfação dos clientes já existentes/fidelização através da sua cada vez melhor experiência).

Para que toda esta transformação seja possível é, muitas vezes, necessário redefinir o modelo de negócio e, sempre, estimular um ambiente de abertura à mudança, de capacidade de adaptação e de permanente inovação, assim como entender todo o ritmo que envolve o consumo nos tempos de hoje (não temendo a aceleração, mas, antes, tirando proveito dela). Tudo isto traduz-se numa progressiva mudança da cultura de empresa e de uma autêntica reestruturação organizacional.

Ora, neste plano, as pessoas são, mais do que nunca, fundamentais. É com elas, sobretudo por via da sua prática diária, que a inovação, a agilidade e a adaptabilidade se erguem como pilares da transformação.

Por conseguinte, qualquer transformação digital que seja estritamente técnica, que não envolva as pessoas e impacte a cultura da empresa terá um alcance de sucesso muito menor. Porque é muito mais do que tecnologia – mesmo que seja a a sua génese –, dificilmente resultará conforme pretendido se se limitar a esta.

E que desperdício seria o investimento em infraestrutura tecnológica não ter a mesma dimensão nos seus resultados. Não acha?

(*) Head of Digital Learning da Cegoc