por Carlos Cunha (*)
Se prever o futuro é, por si, ousado, quando falamos de futuro da tecnologia, o nível de dificuldade parece aumentar ainda mais. A rapidez com que as coisas se processam, os inúmeros desafios da inovação e as tendências de consumo cada vez mais imprevisíveis fazem deste um exercício imperfeito de raiz. Ainda que apenas uma pequena fração das inovações seja verdadeiramente disruptiva face o status quo, tal deve-se, muitas vezes, ao facto de falarmos de avanços que vão para lá do seu tempo e para os quais não existe ainda mercado. Apesar de tudo isto, vou aceitar o desafio e, tendo por base a atividade atual do comportamento do consumidor e das empresas, tentarei fazer algumas previsões sobre o rumo que tomarão as tecnologias no próximo ano.
- 2022 será fundamental para a computação móvel e os smart glasses
De acordo com a IBM, 91% das empresas planeiam implementar estratégias de edge computing dentro dos próximos 5 anos. Para indústrias como o fabrico, esta será cada vez mais a norma, com tecnologias de realidade assistida (AR) como os smart glasses a mostrarem-se cruciais para permitir que os trabalhadores de campo operem em qualquer lado sem necessitarem de estar conectados a uma rede Wi-Fi. Mas pôr tecnologias AR em funcionamento é, na verdade, extremamente complexo. Para apresentar realisticamente ao utilizador uma versão aprimorada do seu ambiente envolvente, os smart glasses têm de compreender conjuntos múltiplos de dados e reagir em tempo-real – o que é particularmente difícil se cada passo exigir o envio de dados do dispositivo para processamento. E os atrasos podem ser, literalmente, fatais: consideremos, por exemplo, a utilização de smart glasses na prestação de cuidados de saúde.
E é por isto que o edge computing está em crescimento: permite aos dispositivos inteligentes reagir aos ambientes imediatamente e com rigor, tornando-os, ao mesmo tempo, mais utilizáveis numa ampla gama de aplicações. O último estudo da Dynabook concluiu que 63% das organizações planeiam implementar os smart glasses no decorrer dos próximos 24 meses, e, em 2022, acreditamos que os negócios vão formalizar as suas ideias definitivamente para dar espaço, finalmente, a estas tecnologias.
- Garantir condições de cibersegurança para um ambiente de trabalho híbrido será essencial
A pandemia veio alterar para sempre a forma como trabalhamos, mas o trabalho híbrido não está isento de riscos. Felizmente, as empresas têm-se apercebido disso e, como tal, há cada vez mais disposição para realizar avaliações regulares dos processos de segurança que protegem não só os dados da organização, como de toda a força de trabalho. Uma área em que isto ganhará importância é a segurança ao nível do dispositivo.
O estudo da Dynabook refere que 81% dos decisores de TI classificam as funcionalidades de segurança como importantes quando se trata de tomar decisões de compra de novos dispositivos – e este continuará a ser o caso enquanto os trabalhadores levarem os seus dispositivos para casa. As empresas terão de equipar o seu staff com dispositivos seguros que incluam funcionalidades como a autenticação de dois fatores, Windows 11, e o padrão Trusted Platform Module para garantir que trabalhar de casa é tão seguro quanto no escritório. Em 2022, veremos as empresas a reforçar as suas medidas de segurança, introduzindo também soluções móveis mais seguras para os clientes.
- Tecnologia Edge AI para melhorar a experiência do cliente
O edge computing tem sido alvo de um aumento significativo de interesse desde a introdução do 5G. Um relatório de 2021 da Linux Foundation prevê que a capitalização do mercado global de infraestruturas de edge computing ultrapassará os 800 mil milhões de dólares até 2028. Ao mesmo tempo, as organizações têm procurado investir em inteligência artificial (IA ou, em inglês, AI) em pelo menos algumas das funções do seu negócio. Em 2022, isto será mais do que uma simples transformação digital – com a fusão do edge computing e da IA, aplicações para assistência remota ou monitorização de linha de montagem tornar-se-ão cada vez mais acessíveis. E, à medida que os consumidores fazem mais decisões de compra pelo online, a tecnologia Edge AI, através do analytics, entrará em cena para a compreensão das tendências de consumo e dos padrões de compra e de decisão, fornecendo insights instantâneos que permitirão tomar decisões empresariais em tempo-real.
Na segunda metade de 2022, é possível que vejamos até grandes empresas a utilizarem câmaras fotográficas otimizadas com tecnologia Edge AI para identificar grupos etários de consumo e direcionar anúncios personalizados. Apesar de esta possibilidade levantar questões de privacidade e segurança indubitáveis, o crescimento do Edge AI não está de todo a abrandar.
- Serviços de entrega via Drone vêm agitar o setor da logística
A pandemia exerceu uma pressão memorável sobre as cadeias de abastecimento em todo o mundo, e as empresas de logística precisaram de tecnologias de automação e robótica, para ajudar a recolher, embalar e despachar quantidades cada vez maiores de encomendas. Ambas estas tecnologias continuarão a desempenhar um papel importante com a entrada de 2022.
Os serviços de entrega via Drone estavam à frente do seu tempo há 5 anos, o que atualmente é um dos fatores que explica por que razão os planos da Amazon Prime Air estão a colapsar. Previsões recentes indicam, contudo, que a maré está prestes a mudar: a dimensão do mercado global de robótica de armazém deverá crescer de 4,7 mil milhões de dólares em 2021 para 9,1 mil milhões de dólares em 2026. À medida que esta tecnologia começa a ter asas para voar, é expectável que nos próximos 12 meses haja maior burburinho em torno dos serviços de entrega via Drone.
- O ano do portátil reciclado
Não seria um artigo sobre previsões se não mencionasse a importância de opções sustentáveis. Penso que 2022 será o ano dos portáteis reciclados. Com as séries de dispositivos a ser atualizados cada vez mais frequentemente desde março de 2020, há uma preocupação crescente relativa ao impacto negativo que esta prática pode ter no ambiente, e as organizações estão a ser pressionadas para agir.
De acordo com a E-Waste, 97% das empresas globais tiveram de comprar novos computadores portáteis para acomodar a mudança para o trabalho remoto durante a pandemia. No próximo ano, as empresas procurarão fazer escolhas inteligentes e sustentáveis de várias maneiras – especialmente se quiserem cumprir os compromissos da COP26. Uma das "vitórias fáceis" será começar a eliminar eticamente os dispositivos antigos através de iniciativas como a revenda e a reciclagem. Esperamos ver mais empresas a adotar estas iniciativas e, à medida que progredimos ao longo da década, estamos confiantes de que as empresas encontrarão a melhor e mais sustentável forma de reduzir a sua pegada de carbono e de fazer com que o trabalho híbrido funcione para todos.
(*) Diretor Comercial da Dynabook Portugal
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