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Depois de ter apresentado a nova tecnologia Oracle 10g nos Estados Unidos no início de Setembro, a empresa tem feito uma série de apresentações na Europa onde mostra aos clientes a nova estratégia a aposta na divulgação de palavras-chave como simplificação, automatização e redução de custos com infra-estrutura de hardware. Charles Philips, vice-presidente executivo da Oracle Corporation foi o homem escolhido para este papel, mostrando na passada sexta feira em Madrid as razões da nova aposta da empresa na tecnologia de grid computing.




O TeK aproveitou a oportunidade para uma entrevista com aquele que é actualmente um dos "meninos de ouro" de Larry Ellison. Apenas com 37 anos, Charles Philips integrou recentemente a Oracle depois de ter trabalhado durante nove anos na Morgan Stanley, durante os quais foi reconhecido por cinco anos consecutivos como um dos principais analistas do mercado de software empresarial.

Seguindo a mesma linha frontal que o presidente da Oracle, Charles Philips respondeu sem rodeios às perguntas sobre a estratégia 10g, o alargamento ao mercado de empresas de média dimensão, a compra da Peoplesoft e ainda a ameaça da SCO à comunidade open source. Sem pejo em criticar a concorrência por algumas opções tomadas, o executivo da Oracle defendeu a estratégia da empresa e as opções tomadas, explicando ainda a evolução da companhia para o grid computing.

TeK: Quais os principais objectivos da estratégia de grid computing e porquê a mudança de designação do nome dos produtos e a introdução da letra g?

Charles Philips:
Esta é uma nova geração de tecnologia em que a Oracle está a entrar agora. A era da Internet foi importante para levar o computador às massas e desenvolver a Internet, mas agora temos de aprender a gerir todos os equipamentos que temos instalados nas empresas. Temos tantos servidores que não estamos a usá-los muito bem e devemos tirar partido do enorme investimento que foi feito e conseguir tirar vantagens dele. Por isso penso que muitas empresas querem usar estes servidores de forma mais eficiente.

É essa a mensagem que queremos passar: podemos usar a infra-estrutura que já temos, não é necessário comprar nada de novo, só usamos de forma diferente e de forma mais eficiente.

O Oracle 10g é uma das primeiras gerações de tecnologia em que em vez de comprar uma enorme quantidade de novos equipamentos, fazemos o oposto, obtemos mais poder computacional das máquinas que já temos.

TeK: Como é que esta estratégia se integra na ideia de software como um serviço que a Oracle tem vindo a promover há algum tempo?

C.P.:
O software como um serviço é a forma como pensamos que a indústria vai evoluir com o tempo. É uma estratégia a longo prazo e o Oracle 10g é um passo importante para estratégia de software como serviço. As grids serão usadas nesse sentido, é a forma de pensar em transformar o sistema informático numa espécie de utility. Com a grid computing transforma-se a infra-estrutura numa utility.

TeK: As palavras base desta estratégia são simplificar e reduzir custos, optimizando recursos...

C.P.:
Muitas empresas têm uma série de servidores dispersos que foram comprando ao longo dos anos e estão a geri-los individualmente, não usando a sua capacidade total sem ser em momentos de pico. O que estamos a dizer é para mudar a forma de ver as coisas e, em vez de gerir cada servidor de forma isolada, podemos geri-los como um conjunto, à semelhança das grandes redes mundiais, como a electricidade e a água, em que se consegue administrar mais eficazmente os recursos, atribuindo mais capacidade sempre que necessário.

TeK: Esta nova estratégia permite também à Oracle chegar às empresas de menor dimensão, que tradicionalmente não tinham o dinheiro suficiente para implementar uma solução da empresa?

C.P.:
Sim, estamos também a focar-nos no "mid marketing" com este lançamento. A facilidade de utilização e a automação associadas ao 10g permitem executar uma série de funções sem necessidade de aumentar os recursos. E um produto em que uma empresa pode começar com um pequeno número de servidores e com o tempo ir aumentando a sua capacidade é também um factor fundamental para chegar a estas empresas de média dimensão.

TeK: O Oracle 10g integra três produtos diferentes, o Oracle Database 10g, Oracle Application Server 10g e Oracle Enterprise Manager 10g Grid Control. A Oracle aconselha as empresas a adquirirem o pacote ou podem usar os produtos separadamente?

C.P.:
As empresas podem usá-los separadamente. É comum que isso aconteça actualmente com os produtos Oracle, mas porque tivemos uma política de integração cuidada com este pacote, existem uma série de vantagens na sua utilização conjunta. Se o servidor de base de dados tiver uma quebra dará essa informação ao servidor aplicacional e pode transferir algumas funções. Essas funções adicionam valor ao produto.

Por isso, parte da nossa estratégia e a razão pela qual estamos em diferentes áreas é que a integração do produto traz valor aos clientes através da automação e simplificação.

TeK: O grid computing é actualmente uma palavra-chave na estratégia de várias empresas de tecnologia. Como é que a Oracle diferencia a sua oferta em relação à IBM, HP ou Sun?

C.P.:
A maior parte dessas empresas fala de hardware quando se refere ao grid computing. Basicamente o que estão a fazer é vender-lhe uma grande máquina que pode ter até 32 processadores. Começam por lhe vender 4 processadores e, conforme as suas necessidades de processamento aumentam, vão vendendo mais capacidade. No fundo é uma opção de financiamento, não lhe traz as vantagens de gestão da infra-estrutura que nós oferecemos através do Oracle 10g, nem a automação, e sobretudo não lhe trazem a vantagem do baixo custo. Esta é uma das grandes preocupações da Oracle.

A parte do hardware numa grid é importante e tem de estar lá, mas o que transforma a grid numa estrutura fiável, e permite a gestão eficaz dos recursos, é o software. E é nessa área que estamos a trabalhar, especialmente nas bases de dados onde somos os únicos a integrar funcionalidades de automação para grid computing.

TeK: Quem são então os vossos maiores concorrentes nesta área?

C.P.:
Bom, é uma questão interessante. De um lado podemos considerar que temos muitos concorrentes, mas por outro lado não temos nenhum. Todos falam de conceitos no mesmo sentido em que nós apresentamos a nossa estratégia de grid computing, mas se olharmos para a tecnologia que temos e a automação que conseguimos introduzir na gestão dessa grid, somos os únicos a oferecer estas capacidades. Só com os investimentos que fizemos nesta área nos últimos 10 anos conseguimos oferecer este produto. Não é algo que se possa desenvolver de um dia para o outro. Vai levar à concorrência muitos anos a desenvolver uma arquitectura semelhante.

Actualmente não estamos preocupados com a possibilidade de alguém apresentar um produto concorrente, com as mesmas funcionalidades. A nossa maior preocupação agora é explicar ao mercado quais as vantagens desta tecnologia e as capacidades do Oracle 10g.

Não temos dúvidas de quando as pessoas perceberem as vantagens de gerir a infra-estrutura de forma automatizada a vão preferir à gestão manual.

TeK: O Oracle 10g estará disponível para o mercado apenas em Dezembro. Qual é a vossa perspectiva em relação à adesão do mercado à nova solução e quais são os preços?

C.P.: Temos já algumas centenas de empresas no programa beta, com quem estamos a fazer testes intensivos e de quem temos recebido um óptimo feedback. Também estamos a usar a tecnologia internamente na Oracle.

O preço da solução será revelado mais próximo da data de lançamento, em Dezembro, e esperamos que os clientes fiquem satisfeitos com o preço.

TeK: O preço será mais elevado ou ao nível dos produtos actuais da Oracle?

C.P.:
Esta é uma nova geração de tecnologia e não é adequado compará-la com os produtos anteriores. Será diferente, mas, como disse, esperamos que os clientes fiquem agradados com os preços.

TeK: Haverá upgrades em relação aos produtos de base de dados Oracle 9i?

C.P.:
Estamos a investir muito em disponibilizar serviços e ferramentas de migração. Se as empresas tiverem Oracle 8i ou 9i a migração é muito simples, quase transparente...

TeK: Quanto tempo pensa que a maior parte dos clientes actuais poderá levar para tomar a decisão de migrar para a nova solução?

C.P.:
Poderá levar algum tempo. De qualquer forma não é necessário fazer toda a migração de uma vez. As empresas poderão começar com alguns servidores, algumas aplicações, provavelmente aquelas que são mais valiosas e críticas. Há um ganho de eficiência e não é necessário ter de comprar hardware, pelo que penso que a adesão à nova tecnologia será mais rápida. Mas deixaremos essa decisão aos clientes, e estes poderão fazer a migração ao seu próprio ritmo.

TeK: Agora algumas perguntas sobre a intenção de compra da Peoplesoft. A última oferta da Oracle mantém-se de pé? E como está o processo de aprovação da parte das entidades reguladoras?

C.P.:
Sim, a oferta mantém-se e de facto estamos a contar fechar esta transacção, com as respectivas autorizações regulatórias, até final do ano. Estamos actualmente a fornecer às autoridades os documentos solicitados, devendo esse processo estar concluído até final de Outubro. Depois disso têm cerca de 30 dias para dar uma resposta e por isso a nossa estimativa é que no final de Novembro quer a União Europeia quer os Estados Unidos nos comuniquem a sua decisão.

Este é um factor crítico. Se tivermos o acordo dos reguladores para avançar com a aquisição não há nada que se possa opor à compra da empresa, mas se não houver essa aprovação temos de esquecer o assunto. Nada mais interessa se não conseguirmos a aprovação das entidades regulatórias. Este é o factor mais relevante para o processo. Não está nas mãos da Peoplesoft, nem de Craig Conway [presidente da Peoplesoft], se a compra se faz ou não, nem depende da fada dos dentes. Só depende de uma decisão positiva dos reguladores da concorrência.

TeK: Em que ponto está o processo levantado contra a Oracle pelos Estados norte-americanos por abuso de posição dominante no processo da Peoplesoft?

C.P.:
Na verdade apenas o Estado de Connecticut levou avante o processo legal. Os outros Estados estão neste momento numa posição de observação, para além de partilharem entre eles informação, o que para nós é positivo porque não temos necessidade de duplicar esforços para fornecer dados novos individualmente. Os Estados têm sido muito cooperantes e mostrado o seu interesse em estar informados, mas não avançaram com nenhuma acção legal.

Só o Estado de Connecticut avançou com o processo. Na verdade eles até são clientes da Oracle e bastante satisfeitos... Tenho tido vários encontros com o Governador de Connecticut e penso que estamos a fazer progressos, mas esta é uma situação que continuaremos a acompanhar com algum cuidado.

TeK: Mas a própria direcção da Peoplesoft tem também levantado problemas, opondo-se firmemente à aquisição da Oracle...

C.P.:
A estratégia da Peoplesoft é resistir a todo o custo e em vez de perguntar aos accionistas o que querem fazer, decidiram tomar uma posição negativa. Mas, a forma como vemos as coisas é que os accionistas são os donos da empresa e Craig Conway e o resto da direcção não são os donos. Se os accionistas quiserem vender, podem tomar a opção de o fazer e têm o direito de tomar a decisão. Neste momento é crítica a decisão dos reguladores. O que a direcção da Peoplesoft faz ou diz não é relevante, eles não dominam o processo. As decisões estão agora nas mãos dos reguladores e depois dos accionistas.

TeK: Pensa que a concentração decorrente da compra da Peoplesoft, e da J.D. Edwards que já está integrada nesta empresa, poderá de alguma forma limitar as opções dos clientes no mercado de software empresarial?

C.P.: Quando a Microsoft entrar neste mercado este será mais competitivo e não o contrário. Já temos essa experiência. E a Microsoft tem feito uma série de aquisições nesta área o que certamente não irá facilitar-nos a vida, principalmente porque irá concorrer ao nível do preço.

Para além disso, há muitas empresas neste sector, centenas. Há algumas que são grandes empresas e por isso são mais conhecidas, mas há muitas pequenas companhias que se especializaram em pequenos sectores ou áreas geográficas e que tornam a concorrência muito forte. Também a opção de outsourcing é na verdade concorrente nesta área, porque se uma empresa contrata outra companhia para tratar das suas bases de dados só vendemos uma licença.

Outro factor de concorrência vem das empresas que desenvolvem as suas próprias aplicações, já que contratam mão-de-obra de programação barata e por isso têm soluções made in house e nós também temos de concorrer com eles...

E há ainda o open source, com bases de dados de código aberto e de acesso gratuito.

Por isso não me parece que os clientes tenham falta de opções, ou limitações na escolha e que isso possa acontecer se comprarmos a Peoplesoft.

TeK: Qual poderá ser o impacto da compra da Peoplesoft na Europa? Tanto quanto sei a empresa tem uma posição pequena neste mercado.

C.P.:
A Peoplesoft é muito pequena na Europa e pensamos que os seus clientes têm grandes vantagens na integração com a Oracle, porque podermos dar-lhe o valor do apoio de uma estrutura na qual temos investido na última década.


Para além disso nós mantemos a garantia do suporte das aplicações da Peoplesoft durante 10 anos. Mais ninguém dá essa garantia. E os clientes da Peoplesoft estão já habituados à Oracle. Os nossos números indicam que 70 por cento dos clientes que têm aplicações Peoplesoft já têm bases de dados Oracle pelo que poderão beneficiar ainda mais desta integração.

TeK: Gostava ainda de lhe fazer umas perguntas em relação ao open source, e mais propriamente ao Linux. Recentemente veio a público a intenção da HP de garantir aos clientes protecção no caso de serem afectados por um eventual processo legal por parte da SCO, por violação de direito de autor do Unix. A Oracle está a considerar a possibilidade de tomar uma posição semelhante, já que é uma das grandes defensoras do Linux?

C.P.:
Nós somos cépticos em relação às alegações da SCO. Parece mais uma opção desesperada, provavelmente se não tivéssemos uma estratégia poderíamos tomar uma opção semelhante... Estamos atentos à situação, mas os nossos clientes não estão preocupados, pelo que não consideramos importante tomar nenhuma posição.

TeK: Algumas empresas, como a Sun e a Microsoft, optaram mesmo pelo licenciamento junto da SCO. Poderá a Oracle seguir um caminho semelhante?

C.P.:
Se pensarmos neste processo, os únicos que disseram que sim foram os que têm menos a perder. São os mais ameaçados pelo Linux, a Microsoft e a Sun. Por isso decidiram pelo licenciamento. Na verdade, nem nós nem ninguém na indústria ficou surpreendido. A Microsoft quer desesperadamente impedir o desenvolvimento do Linux e para eles a posição é: se esta é uma maneira de o fazer, o licenciamento é um preço barato para conseguir esse objectivo.




Fátima Caçador