
Desenvolver jogos para consolas ou para o mundo mobile não é "pera doce" nem o investimento se traduz em "favas contadas". A Biodroid é um dos maiores estúdios de desenvolvimento de jogos em Portugal e já passou por várias fases, algumas das quais difíceis, como explica o responsável pela área de jogos.
Num sector que está em desenvolvimento acelerado, como o TeK já relatou num artigo que contou com a participação de vários intervenientes do mercado, esta semana dedicamos atenção especial aos estúdios portugueses e depois de tomar o pulso ao potencial do mercado publicámos uma montra sobre quem dá cartas no mundo dos videojogos em português e cinco curtas entrevistas a players do mundo dos jogos de consolas e telemóveis.
As duas primeiras já estão online, com Miguel Vicente a explicar a visão da Microsoft e Ivan Barroso a dar uma perspectiva da evolução nos últimos anos.
Hoje publicamos as respostas de Ricardo Flores, Head of Games da Biodroid, o primeiro estúdio de um grupo de três que acederam responder a algumas perguntas enviadas por email.
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TeK: Já é possível fazer dinheiro com o desenvolvimento de jogos em Portugal? Como tem sido a vossa experiência?
Ricardo Flores: Sim é possível fazer dinheiro do desenvolvimento de videojogos a partir de Portugal, não para o nosso mercado. O importante nos nossos dias é ver os videojogos como um serviço, um serviço de entretenimento.
Já não os podemos encarar apenas como um produto que uma vez acabado se lança e trabalho terminado passamos para o próximo. Hoje há toda uma componente de produto e de ciclo de vida do mesmo que é preciso integrar desde a conceção no desenvolvimento do videojogo.
A Biodroid ao longo dos seus 7 anos teve que se adaptar, nascemos no velho modelo das consolas onde os editores compravam o nosso jogo e não tínhamos que nos preocupar mais, passamos para a produção de jogos móveis e assistimos ao aparecimento dos smartphones com modelos de comercialização sem editores mas ainda com um preço à cabeça e tivemos depois que nos adaptar à corrente Free2Play e aos atuais modelos de jogos como um serviço.
Tem sido uma experiência dolorosa, cometemos muitos erros e vimos projetos falharem por não termos entendido o mercado ou demorado demasiado tempo a reagir às necessidades do mercado. Felizmente agora temos uma equipa de Marketing e Produto que acompanha o desenvolvimento desde a pré-produção ao pós-venda. Somos hoje uma empresa de serviços o que fez aumentar a rentabilidade dos nossos projetos.
TeK: Os jogos móveis contribuíram para facilitar o acesso a uma rede mundial onde se pode rentabilizar mais rapidamente o investimento ou as consolas continuam a “mandar”, sobretudo com a nova geração?
Ricardo Flores: Os jogos móveis são provavelmente dos negócios digitais mais difíceis de rentabilizar. Estamos num mercado que amadureceu muito rapidamente e onde não há receitas para o sucesso. Jogos muito bons falham e jogos menos bons são hits, é claro também há jogos bons que são um sucesso.
A incerteza só se consegue diminuir quando pensamos em produto e numa estratégia a médio longo prazo. Isto porque em muitos casos a monetização dos jogos tem que se ir adaptando aos desejos e hábitos de consumo dos jogadores. Mais uma vez, os jogos como um serviço onde ao longo da vida útil de um jogo vamos construindo a própria experiência de jogo. Se o teu jogo for um sucesso a rentabilidade pode ser enorme no móvel já que os investimentos também são mais baixos.
Quanto às consolas estas adaptaram-se à realidade e concorrência mobile, os custos de entrada baixaram e hoje é possível produzir para consola por valores perto de um AAA móvel, como as ferramentas são parecidas ou mesmo as mesmas as barreiras ao desenvolvimento também são hoje menores. Rentabilizar investimentos em consola é outro universo já que os donos das plataformas têm muito poder sobre a loja e sobre o marketing na loja, sem o apoio deles parece-me complicado ter sucesso, a não ser que tenham um enorme orçamento de marketing.
TeK: Parece-lhe que o governo deveria focalizar mais investimento para apoiar as empresas e startups que desenvolvem jogos e aplicações para ajudar a criar um cluster nesta área e massa crítica?
Ricardo Flores: O importante é gerar massa crítica e o interesse dos investidores, principalmente dos privados. Ao nível governamental, o importante é compreenderem esta indústria e ainda não chegamos aí, há para já um desconhecimento sobre o setor, só depois de o compreender e de conversar com as empresas já se movem nesta área em Portugal mas também no estrangeiro é que deveriam procurar medidas de incentivo.
Neste momento os jogos são colocados no setor das Apps o que está totalmente errado, as necessidades são diferentes, o que produzimos tem outras necessidades e outros modelos de negócio. Devemos estudar o caso de sucesso Finlandês ou mesmo o que se está a passar no Reino Unido. Os videojogos são uma indústria Europeia, os maiores players mundiais de momento são Europeus.
TeK: E formação específica nesta área? Existe talento suficiente para esta massa crítica?
Ricardo Flores: Penso que perto de 500 pessoas reunidas num dia para falar e conversar sobre videojogos demonstra bem que já temos massa critica e que talento não falta. Há projetos com enorme potencial e muito originais. Estamos a assistir a um verdadeiro Boom na formação, só este ano há mais de 250 vagas em cursos superiores ligados aos videojogos. Há mestrados que abriram este ano pela primeira vez e já têm as vagas preenchidas. No tema formação estou convencido que estamos no bom caminho. A única questão é mesmo se há neste momento profissionais suficientes em Portugal para assegurar a formação e as componentes práticas dos cursos, esse será um fator decisivo para o sucesso de muitos deles.
Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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