
Por Francisco Jerónimo (*)
A Worldwide Developers Conference (WWDC) 2025 da Apple reforçou o compromisso da empresa com o aperfeiçoamento das suas plataformas, em vez de grandes rupturas. O evento destacou três temas centrais: uma reformulação abrangente das plataformas de software da Apple, uma nova convenção de nomes para os sistemas operativos alinhada com os anos do calendário, e um avanço incremental da Apple Intelligence.
Uma Experiência de Utilizador Unificada e Refinada
No centro dos anúncios esteve uma revisão visual e estrutural do ecossistema de software da Apple. iOS, macOS, iPadOS, watchOS, visionOS e tvOS adotam agora um esquema de nomes baseado no ano — iOS 26, macOS 26 (Tahoe), entre outros — sinalizando a intenção da Apple de sincronizar os ciclos de desenvolvimento e proporcionar uma cadência de atualizações mais previsível.
Mais do que uma mudança cosmética, a interface de utilizador nestas plataformas oferece uma nova linguagem de design “Liquid Glass” que enfatiza a luz, a transparência e a profundidade. Esta estética — influenciada pelo visionOS — introduz menus mais translúcidos, ícones renovados e barras de ferramentas redesenhadas, que, em conjunto, unificam os ambientes móveis, de desktop e de realidade estendida (XR) da Apple.
Estratégicamente, esta experiência de utilizador coesa serve um duplo propósito: reforça o bloqueio do ecossistema e estabelece um novo padrão visual que pode diferenciar ainda mais a interface da Apple em relação aos concorrentes, especialmente os dispositivos Android. Na prática, esta atualização incentiva subtilmente os consumidores a atualizar o hardware enquanto aprofundam o seu investimento no ecossistema Apple.
Apple Intelligence: Capacitação dos Desenvolvedores em vez de Disrupção
No campo da inteligência artificial, a WWDC 2025 adotou uma abordagem cautelosa. Embora a Apple Intelligence tenha permanecido central nos anúncios, o foco foi menos em aplicações disruptivas e mais em melhorias incrementais e capacitação dos desenvolvedores.
De destaque, a Apple apresentou o Foundations Model Framework, que abre o acesso aos seus modelos base alojados no dispositivo e na cloud privada para os desenvolvedores. Isto representa uma mudança estratégica, permitindo que terceiros desenvolvam em cima das ferramentas de IA da Apple, como Genmoji, assistentes de escrita e funcionalidades de sumarização. Este movimento aproxima a Apple de concorrentes como OpenAI, Google e Meta, que já oferecem APIs para desenvolvedores há algum tempo.
Para os utilizadores, as melhorias incluem suporte linguístico alargado, integração mais profunda da Tradução em Tempo Real nas apps Mensagens, FaceTime e Telefone, e funcionalidades focadas na privacidade como Filtragem de Chamadas e Assistência de Espera para reduzir chamadas indesejadas. As atualizações de Inteligência Visual melhoram a análise de capturas de ecrã e interações contextuais com conteúdos de imagem. A app Atalhos beneficia de automações mais inteligentes, capazes de invocar os modelos de IA da Apple ou mesmo serviços externos como o ChatGPT.
No entanto, a ausência de uma grande renovação da Siri, prevista apenas para 2026, destaca a postura cautelosa da Apple no domínio dos assistentes de voz, onde atualmente fica atrás dos concorrentes. A ênfase da Apple em oferecer uma experiência de qualidade em vez de iterar rapidamente reflete o reconhecimento de que os consumidores ainda não estão totalmente envolvidos com a IA, e lançamentos prematuros poderiam comprometer tanto a satisfação do utilizador como a credibilidade da indústria. Ao contrário dos anos anteriores, esta WWDC não apresentou inovações de grande destaque mediático, mas sim uma calibração cuidadosa, coesão da plataforma e fornecimento de ferramentas de AI para apoiar os desenvolvedores. Estes movimentos pretendem criar uma base para o crescimento futuro e manter a fidelidade dos utilizadores num panorama tecnológico cada vez mais competitivo.
Aproximando iPad e Mac
A WWDC reforçou também a visão de longo prazo da Apple do iPad como um dispositivo focado na produtividade, cada vez mais próximo de substituir um portátil, especialmente para utilizadores avançados. A introdução de multitarefa semelhante à do Mac no iPadOS sinaliza uma convergência contínua entre estas plataformas.
O macOS 26 (Tahoe) adota totalmente o design Liquid Glass, atualiza a barra de menus e os controlos das janelas, e redesenha o Centro de Controlo, permitindo pela primeira vez a adição de aplicações de terceiros. Melhorias no Spotlight e uma nova app Ações aumentam a eficiência do fluxo de trabalho ao oferecer sugestões contextuais e automação de tarefas personalizável.
Uma nova app Pré-visualização para iPad, seleção de microfone melhorada com suporte para captura local de áudio em apps de videoconferência, e capacidades renovadas de pesquisa no Spotlight melhoram ainda mais as ferramentas de produtividade em vários dispositivos.
visionOS e watchOS: Usabilidade e Personalização Incrementais
Para o headset visionPro, o visionOS 26 foca-se em melhorias de usabilidade, como scroll ocular, suporte a controladores de terceiros (incluindo controladores da Sony PlayStation VR) e experiências partilhadas multiutilizador. Estas atualizações visam ampliar o apelo do dispositivo tanto para jogos como para colaboração.
O watchOS introduz o Workout Buddy, um assistente personalizado de fitness alimentado pela Apple Intelligence que analisa o histórico de treino e oferece insights motivacionais com orientação por voz dos treinadores do Fitness+.
Perspetivas Futuras: Um Ano de Transição
A WWDC 2025 posiciona a Apple numa fase de transição. A empresa está a preservar a confiança dos utilizadores e o envolvimento dos desenvolvedores enquanto se prepara para saltos mais significativos. Em vez de perseguir o hype da IA, a Apple reforça as suas forças tradicionais: privacidade, integração perfeita e entrega de experiências de utilizador aprimoradas.
Esta abordagem traz riscos. Os concorrentes estão a integrar rapidamente a IA nas suas plataformas, e o ritmo mais conservador da Apple pode dificultar a perceção pública da sua capacidade de acompanhar. Contudo, o equilíbrio cuidadoso entre inovação e controlo de qualidade reflete uma compreensão de que o mercado da IA ainda é incipiente para muitos consumidores.
Os riscos aumentam à medida que os rivais aceleram as suas ofertas de IA, mas a Apple parece confiante na sua estratégia de construir capacidades fundamentais e capacitar o seu ecossistema de desenvolvedores antes de lançar funcionalidades disruptivas de IA.
O verdadeiro teste chegará em 2026, quando a empresa deverá renovar a Siri e possivelmente introduzir experiências mais radicais impulsionadas por IA. Até lá, a Apple mantém o foco no aperfeiçoamento: arquitetando plataformas unificadas, alinhando ferramentas e aguardando o momento ótimo para agir de forma decisiva.
(*) Vice President EMEA, Devices (Data & Analytics)
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