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Os processos acabaram por atrasar-se face às intenções iniciais, tal como acontece na grande maioria deste tipo de situações, mas entretanto o tempo de demora foi aproveitado por Graciano Santos Neto, presidente da empresa brasileira, para esclarecer junto do mercado nacional os objectivos de que se reveste o projecto da empresa que representa, a Cobra Tecnologia, para a região do Minho e contrariar a ideia gerada de início, segundo ele erradamente, que a brasileira queria roubar quota às empresas portuguesas no fabrico de PCs.



Em entrevista ao TeK, Graciano Santos Neto falou dos avanços do projecto, investimentos, dificuldades e deixou claro que a presença das empresas portuguesas é muito bem vinda e até essencial na aproximação que se pensa fazer ao mercado comunitário.



TeK: A abertura do escritório da Cobra Europa em Lisboa, prevista para Agosto, ainda não se concretizou. Estão muito atrasados nas vossas intenções?

Graciano Santos Neto:
Não. Vamos tratar imediatamente de abrir o nosso escritório cá para poder arrancar em paralelo com a parte comercial e até Novembro teremos a proposta final pronta para entregar à API para que possamos dar seguimento às negociações de instalação da Cobra e conseguir, no ano que vem - em Abril ou Maio -, avançar com a construção do pólo tecnológico em Ponte de Lima.



TeK: Isso quer dizer que o acordo com a API ainda não está totalmente concluído?

G.S.N.:
O acordo está fechado. Temos que apresentar agora o projecto definitivo, onde consta o nome das oito primeiras empresas brasileiras que irão integrar o conjunto inicial do cluster. Daremos entrada do processo na API até finais de Novembro, para que possa ser aprovado, se não até Dezembro, pelo menos até Janeiro - esta altura de fim do ano é muito complicada.



TeK: Da última vez que falámos ainda havia pontos por estabelecer com a Câmara Municipal de Ponte de Lima. Relativamente a essa parte está tudo definido?

G.S.N.:
Os pormenores com o município já estão todos no papel: local, contrapartidas, está tudo assinado. Foi estabelecido com a Câmara um protocolo com a validade por dois anos. Ou seja teremos dois anos para cumprir os objectivos estipulados no acordo, nomeadamente o de construção, gerar um determinado número de postos de trabalho e a doação dos primeiros 450 computadores produzidos, destinados à inclusão digital nas escolas daquela região.



TeK: Quais são os objectivos do pólo tecnológico da Gemeeira? Que tipo de produtos irão daí resultar, que género de empresas vamos poder ver associar-se à Cobra no Minho?

G.S.N.:
O primeiro objectivo foi o de criar um cluster no sentido de estabelecer uma fábrica que possa desenvolver produtos na área de automação bancária. Vamos criar máquinas de auto-atendimento onde se possa levantar dinheiro, fazer depósitos, consultas de movimentos; vamos fazer PCs, teremos igualmente uma parte dedicada aos servidores e construir, para a parte de automação comercial, os POS para leitura de cartões de débito e crédito.

Isto acrescenta-se às empresas que vão poder desenvolver software para o mercado comum europeu, tanto na área de eGov, como na área da banca. O Brasil está muito adiantado nesta área da automação bancária. Este software de automação bancária destina-se essencialmente ao mercado comum europeu, visando um pouco o mercado de leste - onde os países necessitam de evoluir tecnologicamente, e visando igualmente os PALOP.

O objectivo desta fábrica é conseguir produzir equipamentos mais baratos com qualidade e que nos quais se possa colocar software a custos atractivos para o mercado comum europeu.



TeK: Iniciaram há algum tempo uma campanha de angariação no Brasil para empresas que quisessem integrar este projecto da Cobra para a Europa. Como é que correu?

G.S.N.:
Estamos neste momento a definir a escolha das oito primeiras empresas brasileiras que nos vão acompanhar. Conseguimos reunir um grupo de mais de 50 empresas interessadas em participar neste cluster. Estamos a tentar escolher as empresas que realmente tenham produtos que obedeçam ao conjunto de necessidades do mercado comum europeu, como um todo e que não concorram entre si próprias. O processo já está bastante adiantado. Em Novembro queremos trazer em visita connosco um conjunto de 30 a 40 empresas, não só para contactarem com a API, mas também para sentirem um pouco, para conhecerem o mercado. Faz igualmente parte dos nossos planos integrar empresas portuguesas neste cluster.



TeK: Já pode avançar os nomes das empresas portuguesas com as quais pensam estabelecer parcerias?

G.S.N.:
As parcerias estão a ser conversadas, mas existe um acordo de sigilo, por enquanto, mas que será ultrapassado em breve e na altura terei todo gosto em anunciá-las.



TeK: E como está a relação da Cobra com a APFEI? Aquela apreensão inicial das fabricantes portuguesas com a vossa aproximação ao mercado nacional dos PCs já foi ultrapassada?

G.S.N.:
Acho que sim. Existem depoimentos publicados entretanto onde se menciona a possibilidade de chegarem a um entendimento connosco e nos próximos dias será uma das entidades com quem me irei reunir.



TeK: A que se terá ficado a dever esta reacção inicial menos simpática da APFEI à instalação do projecto da Cobra Tecnologia em Portugal?

G.S.N.:
Apostámos numa iniciativa de marketing muito forte que parece ter sido interpretado por parte das empresas portuguesas como uma espécie de tentativa de lhes roubar mercado. É o contrário: queremos que as empresas portuguesas se juntem a nós para que possamos sair juntos para o mercado comum europeu. Sabemos que Portugal é um mercado pequeno. O objectivo é o mercado europeu, o leste europeu. É aí que queremos propor uma fusão entre empresas brasileiras e portuguesas, que por si só teriam muita dificuldade em avançar, em fazer frente às multinacionais já instaladas.

Um novo grupo, com um novo projecto, com novos produtos, com custos mais baixos. É esse o objectivo. Acho que isso não foi muito bem trabalhado inicialmente com a nossa aproximação ao mercado português, mas é algo que estamos determinados a esclarecer.



TeK: Quais são os montantes envolvidos no financiamento da criação do cluster para Ponte de Lima?
G.S.N.:
No total são 120 milhões de euros. O investimento inicial está na ordem dos 30 por cento desse valor.



TeK: A participação das partes envolvidas mantém-se a mesma?

G.S.N.:
Sim. O que pretendemos agora e que as empresas portuguesas entrem também nesta primeira parte dos 30 por cento, ou com produtos ou com investimento próprio, e que passem a fazer parte da decisão do crescimento do cluster.



TeK: Falando da outra face da moeda, em termos de facturação, o que se prevê para este conglomerado de tecnologia no Minho?

G.S.N:
Prevemos que o cluster se complete e concretize no espaço de 18 a 24 meses. Pretendemos facturar depois de três anos na ordem dos 150 milhões de euros ano. O compromisso que estabelecemos com a API é de chegar aos mesmos valores de facturação em até seis anos.



TeK: As coisas acabaram por se atrasar um pouco. O início da construção da fábrica estava previsto para Março. Onde é que se situam agora os objectivos temporais?

G.S.N.:
As coisas devem arrancar o mais tardar em Maio e a ideia é levar 12 meses a criar a parte de infra-estrutura da fabrica. Ao mesmo tempo queremos já a partir do inicio da construção estar em paralelo com o desenvolvimento de software para o mercado comum europeu.



TeK: Então, quando é que vamos poder ver os primeiros produtos resultantes do pólo?

G.S.N.:
Se tudo correr mediante os planos agora redefinidos, ou seja se a construção avançar até Maio, creio que em oito meses poderemos ter produtos para oferecer ao mercado.



TeK: Estamos a falar na oferta de software?
G.S.N.:
Sim. Mais na área bancária e na área de automação comercial. Até porque em 2006 vamos ter o Basileia II. Por isso convinha-nos até ao final de 2005 termos produtos nesta área prontos.



TeK: E quando é que poderão surgir os computadores?

G.S.N.:
Acho que só teremos PCs após 12 meses de funcionamento em pleno. Em 12 meses construímos a fábrica, três/quatro meses depois, teremos os PCs montados, PCs e máquinas de auto-atendimento. A linha de fábrica vai ter tanto a linha de automação bancária, a linha de desktop, e a linha de automação comercial. Vamos fazer três linhas de produção. Podemos montar parte das máquinas no Brasil e acabar aqui, ou montar todas as máquinas em Portugal.



TeK: As parcerias lusas que a Cobra procura estarão mais relacionadas com a parte do fabrico dos PCs, presumo ...

G.S.N.:
Sim. Serão muito mais na área de hardware e menos na área de software. Até porque não estamos só a montar a fábrica, mas também a empresa de serviços, e estaremos a utilizá-la para nos ajudar no atendimento ao cliente.
A Cobra Europa para nós é, não só, um momento comercial entre Portugal e Brasil, mas uma consolidação tecnológica entre os dois países. É importante que haja esta relação entre os nós, esta troca tecnológica. Estamos igualmente a abrir as portas do nosso país às empresas e produtos portugueses. Serão muito bem vindas e a Cobra poderá ajudá-las a entrar no mercado brasileiro. Até já temos alguns bancos dispostos a disponibilizar investimento para a aproximação das empresas tecnológicas portuguesas ao Brasil.

Patricia Calé