Por Yancy Vaillant e Esteban Lafuente (*)

A capacidade de passar da entrega de produtos para a entrega de soluções é cada vez mais importante para a competitividade dos fabricantes. A digitalização facilitou a entrega de soluções baseadas em serviços ao permitir capacidades produtivas através da monitorização, controlo, otimização e automatização à distância.

Conforme comprovado por vários estudos, a servitização representa para os fabricantes um meio acessível de personalização, que lhes permite transitar mais facilmente de um modelo de negócio de produto para um modelo de negócio de solução.

A servitização digital pode assim permitir que os fabricantes consigam vantagens competitivas através da introdução de sistemas de produtos-serviços no conhecimento baseado nos dados da empresa sobre os seus parceiros e clientes. Para o fazer, as plataformas de IA podem ser um fator fundamental para os fabricantes no seu percurso de servitização, uma vez que facilitam a implementação de funções baseadas em IA, simplificando a adoção da mesma. As plataformas de IA podem assim facilitar, em grande medida, a servitização digital e a consequente capacidade de entrega de soluções das empresas de indústrias transformadoras.

Com o objetivo de identificar se a servitização digital contribuiu para o desempenho ambiental das empresas e se o fez para além do impacto da servitização por si só, Lafuente, Vaillant e Rabetino elaboraram, em 2023, um artigo que indica que a servitização digital contribui significativamente para o desempenho ambiental das empresas. Este facto contrasta com a ausência de um impacto positivo significativo quando se limita a análise a práticas de servitização não-digitais.

A proliferação de produtos inteligentes equipados com sensores e conetividade que aumentaram significativamente a criação de valor através da monitorização, controlo, otimização e autonomização é outro fator crucial quando se fala do potencial da servitização.

Embora o potencial das tecnologias digitais destes produtos esteja reconhecido, as verdadeiras capacidades inteligentes desses produtos exigem mais do que a mera recolha de dados: exigem uma Inovação de Serviços Digitais (DSI) potenciada por IA. O estudo de Lafuente, Vaillant e Persaud, que será apresentado na 11th International Conference on Business Servitization (ICBS), na Nova SBE, defende e demonstra que a integração da IA com estratégias de servitização digital permite aos fabricantes desenvolver produtos inteligentes avançados. O estudo revela que só a implementação combinada de estratégias de servitização e de IA faz avançar significativamente as capacidades inteligentes de um produto. Esta investigação realça ainda o papel crítico da DSI na progressão dos produtos inteligentes através das fases de monitorização, controlo, otimização e autonomização.

Um estudo complementar, que será apresentado por Vaillant e Lafuente, analisa o número crescente de produtos conectados melhorados digitalmente que procuram gerar maior valor através da adição de capacidades "inteligentes" que permitem a monitorização remota, o controlo, a otimização e a autonomização. Os fabricantes estão a investir fortemente na investigação e no desenvolvimento que possa levar à criação de produtos que incorporem essas caraterísticas e capacidades inteligentes. Contudo, os dados mostram que o investimento em Investigação e Desenvolvimento (I&D) não está necessariamente correlacionado de forma positiva com o desenvolvimento de produtos "mais inteligentes'.

Isto deve-se, principalmente, ao facto de os produtos inteligentes tenderem a funcionar no âmbito de sistemas de sistemas com vários intervenientes, onde a criação de valor interdependente sufoca as iniciativas de inovação unilateral descoordenadas de qualquer interveniente no ecossistema. O estudo conclui que, para que os investimentos em I&D de produtos inteligentes sejam eficazes, estes esforços devem ser realizados em conjunto com colaboradores do sistema de valores e complementares. O estudo identifica ainda que as colaborações em I&D baseadas na investigação são especialmente eficazes na criação de produtos com capacidades de otimização e autonomização mais avançadas ("mais inteligentes"). Em contrapartida, a fase de desenvolvimento da I&D não é tão crucial para este efeito.

Estes são apenas alguns exemplos da investigação de ponta que está a ser desenvolvida e avançada na interseção entre modelos de negócio de soluções, servitização digital e plataformas de IA, no âmbito da 11th International Conference on Business Servitization (ICBS). A conferência, organizada pela Nova School of Business & Economics (Nova SBE), nos dias 7 e 8 de novembro, teve como objetivo debater e definir questões fundamentais para o desenvolvimento futuro da servitização.

(*) Os autores integram a TBS Education e  o Instituto Tecnológico da Costa Rica (ITCR), respetivamente