O Huawei P40 lite veio comigo para casa, de quarentena, e na última semana tem sido uma companhia fiel, mas a mudança para o “novo normal” do confinamento em casa devido ao COVID-19, e da organização das várias equipas em trabalho remoto, não permitiram que lhe desse a atenção devida. E a verdade é que a merece.
Não é habitual fazermos testes mais profundos a modelos de gama média, e nos últimos tempos temos reservado a margem de tempo para os topo de gama que continuam a surgir com frequência pela mão de várias marcas. Mas o facto de não publicarmos os artigos não quer dizer que não tenhamos experimentado vários modelos desta faixa de preços, o que permite avaliar que o Huawei P40 lite é um bom “challenger” nesta gama.
E porque decidimos escrever uma review deste modelo “light” da gama P40 da Huawei? É que este é diferente, e marca um primeiro passo da Huawei na massificação de smartphones sem os Google Mobile Services, suportado em Android 10 open source. Isto significa que, à partida, os utilizadores não vão encontrar as aplicações da Google, e muitas das suas apps habituais não estão na loja de aplicações da Huawei. É uma limitação que pode ser contornada mas, como explicamos mais à frente, é ainda um entrave para muitos potenciais compradores.
A gama lite tem sido um dos sucessos de venda da Huawei em vários mercados, e Portugal não é exceção. Com as limitações decorrentes do bloqueio económico nos Estados Unidos, que impedem a Huawei de aceder a tecnologia norte americana e de usar os serviços da Google, a marca tem continuado a lançar novas versões dos lite, como o P30 lite, numa nova edição que continua a usar os Google Mobile Services. Mas o P40 lite é a primeira “prova dura” no terreno depois da experiência do Mate 30, que o SAPO TEK também experimentou, e deu a experimentar a alguns utilizadores.
Também por isso a Huawei reforçou ainda mais aquilo em que é boa e onde se tem conseguido diferenciar nos smartphones: a fotografia, a bateria com carregamento rápido e a performance com os chipsets Kirin. Mas basta olhar para as especificações para perceber que o P40 lite não estaria naturalmente na gama de preço dos 330 euros com que foi colocado no mercado. E a experiência de utilização deixa muito bons auspícios para abrir o apetite para o P40 e o P40 Pro que vão ser anunciados amanhã.
Design minimalista, confortável e com jack de 3,5 mm
O design do P40 lite é elegante e ainda mais minimalista do que o do antecessor. A moldura do ecrã de 6,4 polegadas é mais fina, e embora se sintam claramente a transição entre o display e o chassi, é confortável de usar, mesmo só com uma mão, sem a sensação desagradável que alguns modelos têm de que vão a qualquer momento escorregar das mãos.
Com um ecrã IPS LCD, que suporta resolução Full HD, o P40 lite tem uma qualidade bastante razoável de imagem, embora seja muito reflexivo sob a luz do dia o que dificultou as fotografias mas não impediu a visualização de textos e fotos a olho nu.
O modelo que nos fizeram chegar para teste é o Crush Green, um verde esmeralda muito bonito, que combina bem com os tons de relva onde fizemos algumas das fotografias. Mas há também uma versão em preto para quem gosta de tons mais tradicionais.
Curiosamente na caixa não estava a habitual capa de proteção com que a Huawei faz acompanhar os seus smartphones, mas o ecrã vem protegido com uma película, muito prática para quem tem a tendência para deixar cair frequentemente o smartphone e que evita assim partir o display.
Diferente é também a colocação da câmara frontal no lado esquerdo do ecrã, com o “furo” para a lente – o chamado punch hole – em vez de um espaço mais intrusivo com o “buraco” que em modelos anteriores era a opção, que é designado por notch. Ainda na estrutura, e na utilização, destaca-se a colocação do leitor de impressão digital na lateral, que funciona também como botão de ligar/desligar, uma opção menos comum mas que já foi utilizada por outras marcas, como a Sony, e que a Samsung também integrou no Galaxy Z Flip, o seu smartphone dobrável.
A verdade é que é prático, e o leitor funciona muito bem, de forma rápida, por isso rapidamente se tornou um hábito simpático para desbloquear o equipamento. Também o reconhecimento facial é uma boa opção, igualmente rápida e prática, e durante a utilização praticamente não foi preciso usar o PIN, porque mesmo depois das muitas lavagens de mãos – e uso de álcool gel – que agora fazem parte da rotina e que são uma complicação para os leitores de impressão digital no ecrã, era sempre fácil desbloquear o P40 lite com um ou com outro método.
Na traseira, com o brilhante verde esmeralda, a arrumação do sistema de quatro câmaras é também minimalista. Arrumado ao lado esquerdo encontra um quadrado com quatro câmaras, e logo por baixo o LED do flash. Há uma saliência para arrumar este “set” de câmaras, mas isso não desequilibra o smartphone, mesmo quando pousado sobre uma mesa, onde acaba por passar muito tempo enquanto estou a trabalhar.
Na parte de baixo do smartphone está um microfone, que combinado com o de topo oferece uma excelente captação de som em conversação ou em gravação, a porta USB-C, uma saída de som e uma entrada de 3,5 mm para phones, que já não é muito habitual nos telemóveis que temos testado, mas que é sempre bem-vinda.
Apesar de estarmos habituados a modelos mais poderosos, como o P30 Pro, o Mate 20 Pro ou mesmo o Samsung S20 ou o iPhone 11, a capacidade de processamento não foi nunca um entrave. Não tive tempo para explorar muito aplicações mais exigentes, nem jogos exigentes em processamento gráfico, mas para o dia a dia não dei conta de nenhuma lentidão. O Kirin 810, e 7 nanómetros, com 6 GB de RAM e o Android 10, deram conta do recado na visualização de páginas web, carregamento e utilização de aplicações e utilização de vídeo.
Um "novo" ecossistema com o Huawei Mobile Services
Como provavelmente vai acontecer à maioria dos utilizadores, o primeiro passo quando começa a configurar o smartphone, depois de o tirar da caixa, é usar o Phone Clone, a aplicação de importação de configurações, aplicações e dados de outros telefone. A Huawei tem continuado a afinar este processo e é cada vez mais prático e rápido. Nos últimos meses já o usámos várias vezes em diferentes telefones testados.
Com este processo vai conseguir migrar todas as aplicações que tem noutro telefone, Android ou iOS, mas isso não quer dizer que as consiga usar por causa da falta dos Google Mobile Services. Há várias formas de contornar esta limitação e instalar os serviços da Google, e vai encontrar vários esquemas e truques em muitos blogs, mas é preciso ter em conta que nem todas as pessoas vão conseguir fazer esta instalação, e que é sempre uma solução a prazo. Aliás, nas últimas semanas uma das soluções que existia começou a ser bloqueada com avisos do Google Play Protect que assustaram vários utilizadores. Já há uma forma de resolver, mas mais uma vez será provisória.
Note que mesmo a importação de apps também é provisória. As que são carregadas com o Phone Clone e não estão na loja de aplicações da Huawei depois não são atualizadas.
A boa notícia é que o número de aplicações na app store da Huawei – a AppGallery – continua a crescer, e que a empresa está a investir fortemente neste processo, como temos noticiado. Mesmo nas apps portuguesas já se encontram as mais populares, e as aplicações do SAPO também já estão na loja.
Está também a ser preparada uma nova ferramenta, a App Search, que já está a ser testada em alguns países e que vai direcionar os utilizadores para APKs de instalação de aplicações quando estas não existem na loja da marca. A somar a isto, a Huawei montou um processo de apoio para os clientes, que testou com o Mate 30, e que chama VIP Service, para ajudar de forma muito personalizada neste processo de encontrar e instalar as suas aplicações preferidas.
Fotografia, o grande trunfo do P40 lite
Deixámos para o fim a característica que mais nos interessou no P40 lite: a fotografia. Esta é cada vez mais o fator chave de decisão de mudança e compra de um novo smartphone. Toda a gente quer fazer as melhores fotos, com efeitos mais profissionais, qualidade de vídeo e zoom, e por isso a Huawei tem investido tanto neste segmento, onde ganha pontos com a parceria da Leica.
A câmara frontal de 16 MP está otimizada para selfies e videochamadas, com um modo noite para baixa luminosidade e otimização da qualidade com a utilização de algoritmos de inteligência artificial. E os filtros de realidade aumentada podem ser divertidos se quiser adicionar mais elementos à imagem, mas não se esqueça de desligar para conversas mais sérias.
Mas é nas câmaras traseiras que a Huawei aposta mais fortemente, com um sistema de quatro câmaras, onde a principal tem um sensor de 48 MP que é usados só na totalidade em modo Pro. Esta lente, de grande angular com abertura de 1.8f é acompanhada de três sensores com abertura de 2.4f, uma ultra grande angular de 16 MP, uma macro e uma Bokeh de 8 MP com abertura.
A falta de tempo e a limitação do cenário em tempo de quarentena não permitiu explorar muito o potencial, e os “modelos” não se mostraram muito cooperantes com as várias tentativas.
O modo noite foi uma boa surpresa, assim como a qualidade em vídeo e timelapse, em baixo com uma vista do amanhecer a partir da varanda.
Estas funcionalidades e a qualidade das câmaras são um bom “appetizer” para o que será lançado amanhã com o P40 e a versão Pro, onde certamente a Huawei leva ainda mais longe a aposta fotográfica.
Uma última nota para a bateria. Não chegámos a fazer testes para descarregar totalmente a bateria, mas a experiência mostrou que a duração se estende bastante para além de um dia de duração, mesmo com uso intenso, e a integração do suporte à tecnologia de carregamento rápido de 40 W, e o respetivo carregador na caixa, fazem também com que isso deixe ser uma preocupação. Em cerca de 30 minutos consegue recuperar mais de metade da carga, o que dá para muitas horas de utilização.
O Huawei P40 lite já está em pré venda há vários dias e chega às lojas a 330 euros, mas com oferta da Huawei Band 4, uma pulseira de desporto que faz a monitorização de dados de sono, frequência cardíaca e exercício físico em 9 modos de desporto, e que não experimentámos.
Quando se chega ao fim de uma análise há sempre a pergunta: este é um smartphone que vale a pena comprar? A resposta é sim, mas com cautela. A nossa utilização mostra que mais uma vez a Huawei conseguiu um excelente conjunto de especificações, um design elegante e confortável e um preço muito interessante, mas aqui há que considerar a falta dos Google Mobile Services, que, pelo menos por enquanto, continuam a ser uma limitação impossível de ignorar. Consegue-se viver sem ele, usando o Android 10 e o EMUI 10 da Huawei que já traz ferramentas que a maioria dos smartphones desta gama de preço ainda não têm, mas algumas das soluções de suporte a aplicações são ainda provisórias.
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