Quando se tem uma estrela na galáxia, não vale a pena mexer na fórmula em cada viagem. Basta afinar alguns pormenores e continuar a brilhar. Provavelmente é assim que a Samsung pensa desde que atingiu a liderança do mercado de smartphones, e as últimas gerações dos seus modelos de topo de gama, os Galaxy S mostram isso mesmo. O design mantém-se quase inalterado e há poucos pormenores a melhorar, com as principais mudanças a residir nas funcionalidades e aumento de qualidade de componentes chave, como a câmara, o ecrã e o desempenho.
Mesmo assim a Samsung tem mostrado a capacidade de ouvir os consumidores e de fazer alterações estratégicas. No caso do Galaxy S9 isso acontece sobretudo na localização do sensor de impressão digital e em pequenos afinamentos do interface, que fazem com que as poucas críticas que tínhamos feito ao S8 caiam agora por terra.
O SAPO TEK já tinha tido um primeiro contacto com os novos Galaxy S9 e S9+ numa sessão reservada a alguns jornalistas ainda antes do lançamento oficial no MWC18, onde foi possível testar algumas das funcionalidades em experiências controladas, preparadas para maximizar os efeitos de som e das novidades da câmara fotográfica mas nada se compara à experiência no dia a dia para comprovar na prática as vantagens que as novas características trazem. E por isso, nas últimas semanas o Galaxy S9+ foi presença assídua na redação e companhia de viagens, mostrando a capacidade e disponibilidade para uma utilização intensa que se exige a um smartphone desta gama. E não desiludiu. Mas será que vale o que a Samsung está a cobrar por ele?
Um ecrã a tender para o infinito
Mais do que pelas características técnicas, que se querem bem apuradas, hoje grande parte da decisão de compra de um smartphone passa pelo design. E aqui a Samsung tem feito um investimento significativo, arredondando formas, polindo pormenores e ajustando tudo ao milímetro para maior usabilidade.
A primeira coisa que salta à vista é a qualidade do ecrã Super Amoled quad HD curved que é talvez demasiado reflexivo quando desligado, mas que se ilumina de forma impressionante com a apresentação de imagens e vídeos. As cores escolhidas pela marca, e que trazem pela primeira vez a “cor do ano”, o lilás, promovem este aspecto premium que fica bem no bolso, dentro da mala ou mesmo sobre qualquer mesa de reuniões.
A Samsung conseguiu reduzir a moldura na base e no topo do telefone, evitando o notch que se tem tornado tão frequente nos telefones com utilização integral do ecrã e apesar do Galaxy S9+ ser grande (muito grande nas suas 6,2 polegadas) a utilização é confortável devido ao formato 18:5:9 e não se sente como um peso excessivo, também pelo prolongamento do vidro à parte traseira.
Esta não é uma característica que tenhamos apreciado por aí além, sobretudo na hora de fazer fotografias com todos os reflexos de luz e imagens que se tornam intrusivos quando se quer uma imagem “limpa” do telefone. É elegante e bonito, mas esta escolha de revestimento faz com que o telefone obrigue a uma limpeza de dedadas constante e também que “deslize” bastante. Na verdade basta uma superfície mais inclinada para acabar mesmo no chão, com riscos para a sua integridade. A solução é usar uma capa, mas isso faz com que se esconda aquilo que a Samsung tanto trabalho (e custo) teve para garantir.
Para explorar melhor o ecrã “infinito” é preciso fazer alguns ajustes ao formato das imagens, mas agora a Samsung melhorou o modo “landscape”, para quem quer utilizar o telefone em modo horizontal, e as notificações surgem agora no topo do ecrã mesmo nesta posição, o que facilita quando está a jogar um jogo, ou ver um vídeo.
A localização dos botões é a mesma que tinha sido escolhida no S8, com a manutenção do “botão Bixby” do lado esquerdo do ecrã, perto dos botões de volume, o que obriga a alguma adaptação.
A principal diferença está mesmo na mudança da localização do sensor de impressão digital, que está agora por baixo das câmaras e que torna mais rápido “acordar” o telefone com a utilização de uma única mão. A localização do sensor era uma das características mais criticadas do S8 e por isso foi com agrado que vimos que a Samsung soube ouvir os utilizadores e ajustar este posicionamento. A verdade é que é mesmo muito mais simples e agradável de usar, com o dedo a “encontrar” facilmente o sensor sem esbarrar em obstáculos incómodos.
Para além da autenticação por impressão digital, a Samsung está a apostar no reconhecimento de rosto e reconhecimento de iris, que não podem ser usados em simultâneo, mas que ainda têm alguns passos a dar para um funcionamento perfeito. Basta uma situação de menor luminosidade, ou o uso de óculos de leitura, para dificultar o processo e por isso acabámos por perder a paciência e optar pela impressão digital. Essa foi a escolha também de outras pessoas que experimentaram o telefone. Afinal temos de o segurar na mesma, provavelmente com o dedo indicador na zona do sensor, e por isso não vale a pena introduzir uma complicação adicional.
Desempenho à prova… de tudo!
Como era de esperar, a Samsung artilhou os novos Galaxy com todos os “brinquedos” que tinha ao seu dispor. O S9 e o S9+ partilham o processador Exynos octocore, que combina um quad core de 2,7 GHz e outro de 1,7 GHz (na Europa), e pode contar com a RAM de 4 ou 6 GB (no S9+) para dar mais endurace a qualquer tarefa mais exigentes, nomeadamente em processamento multimédia, isto embora para o processamento da fotografia seja a DRAM incluída que tem uma palavra mais importante a dizer.
No armazenamento conte com 64 GB nos dois modelos (há versões de 128 GB mas só em alguns mercados), e é expansível agora a uma enormidade de 400 GB com um cartão microSD, não incluído no pacote.
A bateria do S9+ é de 3.500 mAh mas o tempo de “vida” sem recorrer ao carregamento é menor do que no S8+, pelo menos nos vários testes que têm sido feitos. O ecrã maior e as funcionalidades multimédia usadas intensamente fazem com que a autonomia não seja a desejável. Os testes que fizemos com vídeo intensivo acabaram por drenar a bateria, mas mesmo assim foi quase sempre possível chegar ao fim do dia ainda com carga. E aqui conta a capacidade de Fast Charging, repondo rapidamente a 100% a bateria quando ligado à energia com o carregador da Samsung.
A versão Android é a 8.0, a Oreo, mas “quitada” com o interface da Samsung, a Samsung Experience, que também recebeu algumas melhorias, especialmente no menu rápido, mas também na pesquisa e nas notificações. Pequenas mudanças que se vão refletir num acesso mais rápido no dia a dia.
Também a Bixby amadureceu e tem melhor resposta, quer por voz quer na identificação de imagens e tradução de textos escritos. Ainda não é perfeita, faz algumas vezes “orelhas moucas”, mas até conta piadas. Quando não sabe o que responder não inventa, e recorre ao caminho mais fácil da pesquisa.
A Samsung não parece estar disposta a abdicar da evolução que já fez neste caminho de ter a sua própria assistente digital, ganhando espaço num cenário onde para já dominam outras vozes, como a Siri, a Alexa ou a Cortana.
A empresa estabeleceu uma parceria com uma marca de cosméticos para juntar este reconhecimento de produtos às compras online e o caminho pode ser este, à semelhança do que também a Amazon está a fazer com a Alexa com o reconhecimento de comandos de aquisição de produtos.
Acessórios habituais
Dentro da caixa a Samsung mantém o mesmo tipo de acessórios a que já habituou os seus utilizadores: auriculares AKG, carregador, cabo, adaptador para transferência de dados e um outro microUSB/USB-C. Em alguns países há ainda uma capa protetora de silicone, mas a opção não está disponível para o mercado português.
Na loja estão disponíveis várias capas adaptadas a diferentes gostos, necessidades e orçamentos, mas o que gostaríamos de ver era a inclusão do DEX, o acessório que torna mesmo o Galaxy S9 num computador e que ainda custa mais cerca de 100 euros.
Vale a pena fazer uma nota adicional para o som. Para além dos earphones da AKG, a Samsung melhorou o posicionamento e a qualidade de som dos S9 com o Dolby Atmos e um efeito de som surround que é bastante simpático considerando o tamanho do telefone, as condicionantes de um “pacote” estreito e o uso do vidro, especialmente em alta voz. O efeito pode também ser experimentado nos earphones, mas vai certamente surpreender amigos e família se colocar um vídeo e puser o S9+ a tocar.
A câmara que ajuda a transformar a fotografia
É bem claro que a Samsung colocou muito do seu tempo e esforço em continuar a melhora a câmara dos Galaxy, que já era bastante boa e acima da média do mercado em muitas das suas características.
A câmara tem uma abertura dupla (F1.5 e F2.4) que reage de forma mais sensível às mudanças de luminosidade, o que se reflete sobretudo em situações de pouca luz. E até é capaz de captar um dos peixes mais envergonhados do nosso aquário.
A redução de ruído com o novo sistema que captura 12 imagens em cada fotografia – em três blocos de quatro imagens cada – combinando-as para uma imagem mais perfeita, ajuda ao resultado final. E se quiser fazer um retrato pode ainda contar com a ajuda do Live Focus, com o ajuste da profundidade de campo para processar o fundo e ajustá-lo de forma mais criativa com os vários modos fornecidos.
Deixámos a funcionalidade mais impressionante para o fim: o Super Slow Motion na gravação de vídeo. Na experiência que fizemos em Londres parecia tudo muito fácil e o efeito fantástico do balão a explodir, ou dos confetis, resultou quase sempre muito bem. Mas no mundo real não é tão fácil obter a mesma espetacularidade.
Há alguns truques a aplicar de forma automática, mas foi preciso recorrer a ajuda de alguns pedaços de pão, pombas e carpas do Aquário Vasco da Gama para um mini documentário da natureza, que ficou muito longe das (piores) produções dos canais do género. E não foi por falta de colaboração dos atores contratados.
AR Emojis, os incompreendidos
Não conseguimos encontrar quase ninguém que tenha ficado satisfeito com esta funcionalidade, mas a Samsung acredita que vai ser um sucesso. E admitimos que talvez até tenha razão.
Com a ajuda da câmara qualquer um pode fazer uma fotografia e usar o reconhecimento da imagem para uma modelação 3D de um emoji que é, pelo menos remotamente, semelhante ao original. Claro que é uma adaptação dos traços do rosto e é depois necessário adaptar o resto nos vários GIF que podem ser usados em sistemas de messaging para partilhar “estados” ou “emoções”. Em alternativa pode usar emojis de animais, ou da Disney, que estão também bastante bem conseguidos.
Mas o mais divertido é usar o avatar para conversar em direto, refletindo as expressões faciais, de interrogação, riso, tristeza ou zanga. Ao que parece o Emoji é demasiado bem-educado para deitar a língua de fora, algo que a Samsung poderá certamente corrigir numa próxima versão.
Uma compra que vale a pena?
A última apreciação é realmente a que importa. Os novos Galaxy S9 e S9+ valem realmente o preço e vale a pena comprar? Depende.
A escolha entre os dois modelos vai depender do tipo de utilização, e do tamanho dos bolsos, literalmente. O Galaxy S9+ que testámos é mais interessante para quem quer realmente explorar muitos conteúdos multimédia, e se for um dos muitos utilizadores que já aproveitam as deslocações, ou os momentos livres nas pausas, para ver séries do telemóvel, esta é a opção certa, não só pela qualidade e dimensão do ecrã mas também pela bateria. Mas é preciso respirar fundo e pensar duas vezes antes de gastar 959 euros num telefone, e pelo menos pode poupar 100 euros e comprar um S9, perdendo um bocadinho de ecrã e de autonomia de bateria, e conseguindo na mesma um excelente telefone.
A resposta à pergunta também depende do telefone que tem atualmente. É fácil perceber que quem já tem um Samsung S8 ou Note8 tem menos argumentos para justificar a mudança para o S9 ou S9+. Os ganhos são incrementais e a menos que se queira dedicar aos documentários feitos com telemóveis e acredite que vai ganhar prémios com isso se calhar mais vale esperar alguns meses e mudar para o próximo. E até pode ser dentro da mesma marca.
Outros Android serão também opção, e aqui o Huawei Mate 10 Pro é um concorrente à altura, isto ainda antes de conhecermos o Huawei P20 que vai ser lançado amanhã. E claro que a Sony tem de entrar nesta corrida com os Xperia XZ2 ou o LG V30. As comparações com o iPhone X são também naturais, mas mais do que as capacidades técnicas e qualidades de cada um, aqui é o ecossistema Android e iOS que têm de ser ponderados, já que é cada vez mais difícil nesta gama haver mobilidade entre os dois mundos.
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