A Cimeira da inteligência artificial decorre em Paris até terça-feira, que servirá de palco para os líderes mundiais discutirem estratégia para criar uma IA que seja mais ética, acessível a todos e de forma mais simples. A França pretende fazer um investimento histórico na tecnologia e o presidente Emmanuel Macron anunciou um investimento no país de 109 mil milhões de euros para os próximos anos.

Mostrou também um quadro sobre o número de startups ligadas à IA que foram criadas em França desde 2018. Se neste primeiro ano eram menos de 100, sé em 2024 foram registadas 800 startups, num número sempre crescente anualmente.

Crescimento de startups de IA
Crescimento de startups de IA Créditos: Emmanuel Macron

Em vésperas de receber a cimeira no seu país, Emmanuel Macron publicou um vídeo cheio de humor ligado à inteligência artificial, ou melhor, sobre o uso das deepfakes que pode colocar qualquer pessoa nas mais caricatas situações. O seu rosto foi utilizado em telediscos, a cantar, dançar, a arranjar o cabelo, a participar num filme e até a “pedir likes” para o seu canal no YouTube.

Depois da chamada de atenção com o humor, Macron aparece em tom sério, referindo o bom trabalho do vídeo, que estava bem feito e o fez rir. “Mas, falando mais sério, com a inteligência artificial podemos fazer coisas muito grandes. Mudanças na saúde, na energia e na vida da nossa sociedade. E por isso a França e a Europa devem estar no centro desta revolução para aproveitar a oportunidade e também para promover os nossos princípios, aquilo em que acreditamos. Este é o objetivo desta cimeira de ação em matéria de inteligência artificial”, destacou o presidente de França antes de voltar à ação, como quem diz, vestir a pele de McGyver.

Cimeira em Paris para promover uma inteligência artificial mais ética e acessível

A Cimeira de Ação sobre Inteligência Artificial decorre entre esta segunda e terça-feira em Paris (coorganizada com a Índia), juntando líderes governamentais, organizações internacionais, académicos, artistas e membros da sociedade civil para discutir o tema da IA. Portugal está representado pela ministra da Juventude e Modernização, Margarida Balseiro Lopes, esperando-se a presença de uma centena de países, incluindo os Estados Unidos, pelo vice-presidente J.D.Vance e a China, pelo vice-primeiro-ministro Zhang Guoqing.

Em Paris vai discutir-se como a IA pode ser utilizada para desenvolver a ciência, criar novas soluções, mas também padrões que garantam que a tecnologia serve o interesse público.

Em vésperas da Cimeira, no último domingo, foi anunciado o lançamento de uma nova iniciativa de IA de interesse público, que envolve a França e mais oito países, patrocinada por 11 líderes tecnológicos. A iniciativa chama-se Current AI e conta com um investimento inicial de 400 milhões de dólares, avança a Lusa.

Esta iniciativa, que tem a bordo Arthur Mensch da startup francesa Mistral AI e Fidjo Simo, diretor da plataforma de compras Instacart, espera angariar cerca de 2,5 mil milhões de dólares nos próximos cinco anos. Tem como objetivo desenvolver o acesso a bases de dados privadas e públicas em áreas como a saúde e educação, assim como investir em ferramentas e infraestruturas de código aberto para tornar a IA mais transparente e segura. O projeto pretende desenvolver sistemas para avaliar o impacto social e ambiental da IA.

Os países fundadores da Current AI incluem a Alemanha, Suíça, Chile, Finlândia, Nigéria, Marrocos, Quénia e Eslovénia. Emmanuel Macron diz que o Current AI vai contribuir para o desenvolvimento dos seus próprios sistemas de IA em França e na Europa, diversificando o mercado e a promoção de inovação em todo o mundo. A Google, Salesforce e a AI Collaborative do fundador do eBay, Pierre Omidyar, também estão envolvidos na iniciativa.

Já a Cimeira de IA em Paris vai igualmente contar com alguns dos líderes mundiais da tecnologia, tais como Sam Altman, CEO da OpenAI e Sundar Pichai, CEO da Google, responsável pelo Gemini.

De recordar que a União Europeia continua a correr para recuperar o atraso na inteligência artificial. E tem vindo a investir nas chamadas “fábricas de IA”, escolhendo localizações estratégicas em toda a Europa, incluindo Portugal, através da recente atualização do sistema EuroHPC, MareNostrum 5. A iniciativa da criação das fábricas foi lançada em setembro de 2024, tendo reservado inicialmente 2 mil milhões de euros para investir nas fábricas de IA.

O reforço na aposta na Europa da tecnologia de IA pretende também ser uma resposta às recentes preocupações levantadas com as restrições à importação de chips de IA impostas pelos Estados Unidos, que afetam vários países da União Europeia.