
Esta segunda-feira, sem se fazer prever, Portugal e Espanha sofreram o maior apagão de eletricidade de que há memória. As casas e empresas ficaram sem energia, as telecomunicações começaram-se a ir abaixo passadas algumas horas. Foram cerca de 8 horas de apagão completo até que a e-Redes começou a repor os serviços. Mas isso não evitou o encerramento de empresas e lojas mais cedo, uma corrida aos supermercados que remonta o COVID-19 à procura de água, pilhas (e provavelmente papel higiénico).
O certo é que o país ainda está à procura de respostas concretas sobre o que originou o apagão. E também estará a fazer contas aos prejuízos que estas oito horas sem energia causaram nas infraestruturas críticas do país.
Considerando este cenário, o SAPO TEK entrevistou Paulo Veiga, CEO da EAD: Empresa de Arquivo de Documentação sobre as consequências deste apagão e o problema que diz ser mais profundo que a falta de energia: “a fragilidade da gestão da informação crítica em empresas, bancos, hospitais e organismos públicos”, organizações que são clientes da EAD.
A EAD é uma empresa especialista em gestão de continuidade da informação. “No dia em que a luz apaga, o que diferencia uma empresa que sobrevive de uma que fecha é o acesso imediato à sua memória crítica: contratos, dados, processos, tudo o que permite decidir e agir”, refere a empresa em comunicado. Ao SAPO TEK, Paulo Veiga explica que com o apagão, as empresas viram-se privadas de comunicações, seja por telefone ou internet.
Dá o exemplo de que na parte da manhã esteve em Assembleia Geral da empresa, mas esta acabou ao meio-dia e pouco, até as baterias dos portáteis aguentarem. A EAD ainda se manteve em funcionamento até às 17, por via oral, mas as pessoas tiveram de regressar mais cedo a casa por falta de energia. Com isto defende que o apagão deve servir para as empresas reverem os seus planos de contingência e continuidade de negócio.
Paulo Veiga considera que nos planos de contingência devem-se juntar as variáveis de energia, que são um dos bens mais importantes de uma empresa. “As empresas têm informação crítica em sistemas, sejam proprietários ou cloud, ou em prestadores de serviços especializados”. Compara que antes, para aceder à informação, tinham tudo numa pasta com os documentos. Agora está tudo num computador e esta segunda-feira ficou evidente que as empresas devem fazer uma análise crítica sobre como, e de que maneira, devem guardar os seus documentos.
No caso da EAD, Paulo Veiga diz que tem toda a informação do plano de contingência em papel num cofre do seu escritório e em formato PDF no telemóvel para acesso rápido. “O papel ressalva se os sistemas informáticos morrerem. De nada serve, se não tiverem sido registadas e classificadas, não se podendo correr o risco de perder o suporte original em papel. Com isto, ter a informação o mais disponível possível e organizada numa cloud de nada importa, caso se precise dela e não se consegue aceder, como aconteceu no apagão. “Estamos sempre a dizer aos nossos clientes que o suporte de papel ainda é importante e não deve ser negligenciado. Pode não estar à distância de um click, mas está à distância de uma mão”.
Ainda assim, o negócio da EAD não está apenas dependente dos arquivos de papel. Os seus arquivos contêm 2 milhões de caixas, com cinco pastas em cada uma. Mas anualmente, a empresa digitaliza cerca de 40 milhões de documentos. Das 426 pessoas que trabalham na empresa em Portugal, 160 trabalham na desmaterialização, organização e indexação para as suas plataformas ou das bases de negócios dos seus clientes. “Somos prestadores de serviços, não sou apologista do papel, mas sim da eficácia”. Com isto, um evento disruptivo não previsto como este que aconteceu com o apagão, acaba por dar algum sentido ao propósito do negócio da EAD.
Questionado sobre aquilo que espera ter aprendido com o apagão é a revisita das políticas de gestão documental, os planos de continuidade de negócio e a política de papel. Considera que nos próximos três dias os sistemas voltem a trabalhar e a regressar à normalidade, mas depois disso, há que ter um comité de segurança e qualidade de gestão documental que se devem reunir para fazer um debriefing da lógica da continuidade e criar cenários possíveis em torno do mesmo. “Não vai haver eletricidade nos próximos três dias, como vamos trabalhar? É preciso encontrar uma resposta, que é o que a nossa empresa também vai fazer”, aponta o líder da EAD.
No final desta terça-feira a EAD ainda estava a levantar os últimos sistemas. O seu reservatório do gerador teria energia até às 23h00 e não foi abastecido porque as notícias deram conta de que a energia estava a ser reposta a partir das 20h00. Mas este evento vai ser analisado internamente pela empresa para melhorar a resiliência no futuro. “Não será preciso a todos irem a correr comprar geradores ou rádios a pilhas (quando bastava ligarem o rádio do carro), mas devem ser retiradas conclusões, com calma, sobre o que aconteceu e criar novos cenários para o caso de voltar a acontecer. Isto de forma a evitar-se o pânico, tanto nas empresas como nas pessoas”.
Aponta que ao mínimo sinal de crise há uma corrida aos postos de abastecimento e supermercados. Isso deve-se à falta de cultura para estas situações, que em Portugal viu episódio semelhante durante a pandemia, mas não se aprendeu muito. Mas refere que no Japão, as pessoas treinam constantemente para este tipo de situações, como acontece nos alertas de tsunamis.
Mas e se este apagão se prolongasse por mais que um dia ou dois? “Diria que seria uma dimensão que embora não fosse catastrófica, poderia gerar mais prejuízos numa semana do que toda a situação pandémica”. Explica que durante a pandemia nunca houve um corte de energia e não se registou os respetivos efeitos. Mas Paulo Veiga aponta que teria um efeito muito negativo para o PIB, “basta somar as semanas que tem um ano e retirar o valor de uma delas, incluindo as semanas posteriores de recuperação que teriam de ser contabilizadas”.
Aponta que é agora a vez dos políticos e sociedade civil analisarem a situação atual da energia, “o quanto se está a pagar pela energia verde e não a termos quando precisamos”. Acredita que o tema deva ser agora uma prioridade, porque os prejuízos desta situação são muito piores do que aqueles que aconteceram durante a pandemia ou de um tremor de terra, porque neste caso, o país apagou do norte ao sul. Na sua opinião, Portugal já deveria ter adotado o sistema de energia nuclear. “Se a Auto Europa, por exemplo, tivesse acesso a energia atómica seria bem mais competitiva”. Paulo Veiga tem empresas em Espanha e acha chocante pagar o dobro pela energia em Portugal.
Questionado sobre que propostas tem a EAD para salvaguardar futuramente este tipo de situações dos seus clientes, Paulo Veiga explica que a empresa guarda a informação tanto em formato papel como digital, guardados na sua própria infraestrutura, onde o centro de dados se encontra no rés-do-chão do edifício. O sistema tem todos os meios de redundância, sejam os gerados de energia, como diferentes linhas de comunicação não dependentes de apenas uma operadora de telecomunicações.
O CEO da empresa diz que os seus funcionários conseguem responder aos clientes que precisem de determinado documento físico, dispondo de frota própria para entregar em qualquer parte do país. Ou no caso de digital, abre-se um FTP para o envio seguro do mesmo. Dá o exemplo de certos ciberataques a hospitais nacionais, que a EAD tinha o único sistema de backups para fornecer aos seus clientes. A cibersegurança é um dos temas que a empresa trabalha para ajudar a proteger os seus clientes.
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