Inovação e conhecimento são duas das apostas mais relevantes para as organizações numa altura em que a volatilidade, incerteza e complexidade tornam mais difícil a definição de estratégias a médio e longo prazo. Estas são ideias chave que foram abordadas na tertúlia promovida pelo .PT na semana passada, onde também a necessidade de reforçar a cibersegurança e formar profissionais nesta área teve um papel relevante no debate.
Luisa Ribeiro Lopes, presidente do conselho Diretivo do .PT, destacou a importância dos encontros promovidos com as empresas, organizações e sociedade civil para debater e promover a partilha de conhecimento nestas áreas. A assinatura de um protocolo de colaboração com a Cisco, para integrar o programa Cisco Networking Academy (NetAcad) no plano de atividades do .PT, disponibilizando gratuitamente cursos, apoio, ferramentas e sistemas, foi o pretexto para a organização do evento que contou também com o Diretor Nacional da Polícia Judiciária, Luis Neves e a Diretora Nacional Adjunta, Luisa Proença, assim como com o professor associado do ISEG, Paulo Carvalho.
A necessidade de formar mais pessoas nas competências básicas de cibersegurança, mas também aumentar o número de recursos humanos disponíveis com formação avançada, foi realçada por Luisa Ribeiro Lopes, que lembra que esta é uma área onde todas as organizações têm de investir.
“É muito importante formarmos as pessoas que já estão no mercado de trabalho mas também reforçar as competências de quem está noutras áreas e pode entrar no mundo das tecnologias, onde existe uma grande carência de recursos, através de upskilling e reskilling”, sublinha.
A presidente do conselho diretivo do .PTexplicou ainda como o .PT desenvolveu um espaço de inovação também no edifício Barra Barra, que é a sede da associação que gere os domínios de topo em Portugal, e onde trabalha com vários projetos e parcerias em áreas de desenvolvimento das competências, da cibersegurança e da cidadania digital.
“Queremos ser um Hub digital de inovação, um espaço aberto, e que as empresas possam desenvolver ideias e projetos connosco”, afirmou Luisa Ribeiro Lopes.
O processo de transformação e inovação que a Polícia Judiciária está a realizar, e que já decorre há quatro anos, foi destacado por Luis Neves, Diretor Nacional da PJ, que admite que esta mudança inverteu completamente o status quo da polícia e da sua forma de estar na vida institucional e na vida pública. “A polícia fechou-se muito durante décadas […] hoje é evidente que temos de encontrar parcerias na sociedade e no mundo académico para defendermos melhor o cidadão e o país”, afirmou na sua intervenção.
A necessidade de ter uma visão que permita inovar numa instituição que conta com quase 3 mil pessoas foi também sublinhada, apontando a inovação e a aposta nos recursos humanos como fundamental para esta transformação. A PJ criou a Direção de Serviços de Inovação e Desenvolvimento e com esta estrutura conseguiu abrir portas ao desenvolvimento de ações colaborativas e parcerias, modernizando a forma de trabalhar e quebrando muros antigos, aproveitando os fundos europeus existentes para desenvolver novos projetos.
“Temos dado saltos qualitativos e desenvolvido ideias inovadoras que são aplicáveis à nossa atividade policial e que nos aportam conhecimento e novas metodologias, com poupanças e ganhos muito relevantes”, defende Luis Neves.
O Diretor Nacional lembrou que o conhecimento é um dos quatro pilares da PJ, a par do compromisso com os valores da instituição, a coragem e a integridade, e que esta direção quer desenvolver a área de inovação e trazer novas competências para a polícia, no laboratório de polícia científica, na unidade de perícias informáticas e em todas as áreas de combate ao crime organizado e corrupção.
Trabalhar a inovação de dentro para fora
Durante o debate, muitas das ideias partilhadas na sessão de abertura acabaram por ser detalhadas e reforçadas pelos oradores convidados. Inês Esteves do .PT, Luisa Proença da Polícia Judiciária, Miguel Almeida da Cisco e Paulo Carvalho do ISEG, defenderam que é urgente garantir mais inovação e reforçar as competências, em especial no digital, lembrando também a importância de ter mais conhecimento e partilha de informação na área da cibersegurança.
Dando continuidade à visão de transformação da PJ que tinha sido abordado por Luis Neves, Luisa Proença, diretora nacional adjunta da Polícia Judiciária, sublinha que é com entusiasmo que a atual direção sente que a PJ está num caminho de mudança e de inovação. “As ameaças são muito grande e a polícia tem de inovar e ter uma dinâmica de constante adaptação”, sublinhou Luisa Proença, lembrando que a PJ é responsável em Portugal pela prevenção e combate à criminalidade mais complexa, e que atenta contra os calores democráticos e o Estado de Direito, pelo que o desafio é muito grande e é preciso encontrar novas formas de trabalhar, onde a tecnologia é um aliado importante.
A Direção de Serviços de Inovação tem essa missão de facilitar os processos e adoção de nova tecnologia, mobilizando os fundos europeus para criar um espaço de testes e de experimentação, que também segue as melhores práticas das congéneres europeias.
“Sem os fundos europeus não conseguiríamos fazer este caminho. Os fundos do Horizonte 2020 permitem-nos financiar projetos inovadores, que são adaptados à missão da polícia, e estamos articulados com os laboratórios de inovação de todas as polícias”, explica Luisa Proença. “Tudo isto depende de uma estratégia europeia e também absorve a estratégia nacional em matérias de combate às várias formas de crime”.
A diretora nacional adjunta sublinha ainda que temos uma polícia científica com qualidade e com investigação criminal que está ao maior nível de inovação. “Já formos reconhecidos como um caso de excelência de inovação”, destaca Luisa Proença, “hoje estamos muito atentos ao que é a polícia do futuro, ao metaverso, às questões relacionadas co o blockchain e a inteligência artificial”.
A mesma filosofia de abrir portas à inovação e experimentação foi também adotada no .PT e Inês Esteves, Vogal do Conselho Diretivo do .PT, sublinha que o objetivo é ter um papel agregador do ecossistema da Internet em Portugal, desenvolvendo a inovação e o conhecimento. “Queremos ter aqui um ecossistema que consegue articular entidades tão diferentes como aas empresas, a academia e as autoridades. Faz parte do nosso ADN e é um compromisso que resulta dos nossos estatutos”, reforça Inês Esteves.
Para além do protocolo com a Cisco que seria assinado no final da sessão, o .PT tem acolhido e apoiado vários projetos na área da cidadania e das competências, como a Rampa Digital da Google, as bolsas de formação da Huawei, os projetos da CDI e também as iniciativas do InCoDe.2030. A tecnologia tem sido também internalizada na operação do .PT, com recurso a inteligência artificial na gestão de nomes de domínios e o reforço da cibersegurança com o PTSOC – Centro de operações de segurança.
Processos e cultura de inovação que têm de acelerar nas empresas
Com uma posição privilegiada na relação com o tecido empresarial, Miguel Almeida foi convidado a fazer uma análise sobre o estado de maturidade do digital em Portugal, e a inovação que é feita nesta área. Elogiando o que foi feito na PJ, o Diretor Geral da Cisco em Portugal diz que é necessário que exista uma visão e que as organizações juntem as pessoas que possam implementar essa transformação, mas admite que na maioria das empresas isso ainda não acontece.
“Nas maiores empresas diria que a maioria tem esse caminho definido, mas nas microempresas, que são 98% do nosso tecido empresarial, isso não acontece”, afirma Miguel Almeida. “Eu acho que é aí que temos de atuar […] as grandes empresas devem ter como desígnio ensinar os outros a inovar, porque é a única forma de economicamente continuarmos a crescer e o digital tem aqui um papel muito importante”, avisa, lembrando que o digital e a capacitação nesta área são essenciais.
O executivo aponta também uma mudança de cultura com a maior abertura das empresas à academia, que contribui para acelerar a transformação e a inovação dos processos, produtos e serviços.
Em representação da Academia, Paulo Carvalho, professor associado do ISEG, admite que a Inovação é um conceito muito vasto e que é preciso perceber que não é tecnologia, não é digital e que pode ser produto, serviço ou conceitos, mas também experiências. “Esta coisa que chamamos de inovação tem muito a ver com o futuro, com a identificação e criação de coisas novas e é uma avenida de crescimento, para fazer coisas de forma diferente”, explica, avisando que “inovação não é invenção, não é sermos criativos, mas tem a ver com o valor percecionado pelo consumidor, o utilizador. Só quando isso acontece é que temos inovação”.
O contexto de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, que se convencionou designar com o acrónimo VUCA, faz com que as organizações estejam mais centradas na eficiência e em operacionalizar e optimizar os seus processos, deixando de lado a visão estratégica.
“Temos de incorporar a incerteza e trabalhar em horizontes temporais mais longos porque a eficiência e a optimização puxam-nos para o curto prazo”, justifica Paulo Carvalho, lembrando que dessa forma é mais difícil incorporar a inovação.
A fórmula que deve ser aplicada depende de cada empresa e organização, que tem de encontrar a sua forma de implementar a inovação, sendo mais ambidextras: enquanto optimizam os processos têm de identificar projetos e ideias novas. “Há ainda muito a fazer. É um processo que não é fácil mas isso não quer dizer que não seja obrigatório”, avisa.
Paulo Carvalho diz que é preciso trazer a inovação “para a mesa dos adultos”, deixando de ser vista como uma coisa que um departamento faz e integrando os Conselhos de Administração, tal como também está a acontecer com a cibersegurança.
Mais competências básicas, mas também avançadas
O tema das competências atravessou todo o debate, com a identificação da necessidade de formar mais profissionais nas tecnologias de informação, mas também reforçar competências em todos os cidadãos, na utilização das ferramentas de internet e serviços digitais e na cibersegurança.
“É uma preocupação de todo o ecossistema nacional conseguir captar e reter talento para a área do digital”, sublinhou Inês Esteves, que admite que mesmo com o reforço de cursos na academia o número de pessoas formadas não será suficiente, e que irá demorar muito tempo. Para a vogal do conselho Diretivo do .PT, as empresas devem criar programas que incentivem as pessoas a fazer este caminho de qualificação e reforço de competências, com o reskilling e upskilling de profissionais que possa fazer face a esta falta de recursos identificada.
Isto deve acontecer também na cibersegurança, onde todos somos agentes ativos. “Não é possível haver transformação digital sem se ter consciência dos riscos que existem no mundo digital”, explica.
Miguel Almeida reforçou também a ideia, admitindo que hoje as empresas estão a lutar para contratar e manter os profissionais, e que se não for feito um esforço conjunto não é possível resolver o problema de escassez de pessoas formadas, que é comum a toda a Europa. Apostar na diversidade, trazendo mais mulheres para a tecnologia é um dos caminhos, promovendo também mais a integração geográfica e não limitando as oportunidades aos principais centros urbanos.
O diretor geral da Cisco em Portugal defende que a cibersegurança começa nos comportamentos e que ensinar os básicos da segurança digital é uma questão de cidadania e não de tecnologia. “Não é só a segurança da nossa carteira. Quando estamos dentro da empresa e clicamos num link destes estamos a comprometer toda a organização”, avisa.
Uma academia Cisco dentro do .PT
A assinatura do protocolo entre o .PT e a Cisco materializou o acordo entre as duas organizações que resultou nesta primeira fase na abertura de um curso de cibersegurança, de acesso gratuito, onde qualquer pessoa se pode inscrever para aprender noções básicas de cibersegurança.
A Cisco Networking Academy já soma 25 anos de atividade e Nuno Guarda, líder da equipa da Cisco na EMEA para Emerging talent and apprentices, recorda como começou este projeto que é de responsabilidade social e que conseguiu parcerias com muitas instituições para o desenvolvimento de competências em todo o mundo, abarcando países desenvolvidos mas também regiões onde os alunos têm dificuldade no acesso à internet e até a energia elétrica.
Em Portugal foram feitos esforços de localização dos conteúdos, que ajudam a levar os cursos a uma população mais vasta, e também ajudar na formação de profissionais de tecnologia e que chegam mais rapidamente ao mercado.
Ricardo Pires, gestor de cibersegurança do .PT, explicou que esta parceria com a Cisco decorre da missão que a organização assumiu de ajudar a formar as pessoas nas áreas da tecnologia. O primeiro curso que resulta da parceria, está focado na cibersegurança e mostra os principais riscos e a forma como as pessoas se podem proteger, assim como os principais métodos e táticas usadas pelos atores mal intencionados. “É um curso gratuito, que pode ser feito na altura que mais convier aos participantes e no final vão ter acesso a um certificado”, justifica.
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