A Dell parece ter perdido o poder de fazer mais. A atual situação da empresa espelha bem o caminho sinuoso que a tecnológica norte-americana tem atravessado ao longo dos últimos anos. Apesar de ter apostado em várias áreas das TIC, a Dell viu empresas como a Apple, Google e Samsung abarcarem grande parte das atenções dos utilizadores e a serem responsáveis pelo anúncio de inovações tecnológicas.
A marca de computadores também teve a sua dose de inovação mas nem sempre foi bem recebida pelos consumidores. Por isso é que a empresa de Michael Dell está neste momento numa fase de reconversão. A saída da bolsa de valores, e que vai contar com o apoio da Microsoft, é um movimento de uma empresa que procura estabilidade e "sossego" que os investidores e corretores de bolsa não dão.
Numa altura em que o Projeto Ophelia, um computador com o tamanho de uma pen, parece ser o grande trunfo futuro da Dell, é preciso olhar para o passado para perceber o que correu mal.
A descida ao inferno com o Dell Dimension 4600
Foi um computador desktop que causou bastantes problemas aos utilizadores. Falhas na fonte de alimentação levaram vários consumidores a encherem páginas inteiras de reclamações.
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Para agravar a situação os técnicos da Dell não conseguiram dar um apoio ao cliente satisfatório, diagnosticando várias vezes de forma errada o problema energético que estava a afetar os PC.
A Jukebox que não conseguiu afrontar o iPod
Michael Dell conseguiu identificar a tendência do mercado na primeira década do século XXI. A convergência entre a eletrónica de consumo, a computação e a esfera privada dos utilizadores. O que o atual CEO da tecnológica não conseguiu foi acertar na estratégia da empresa para abordar as necessidades dos consumidores.
O Digital Jukebox, ou Dell DJ, foi um leitor de mp3 que tentou concorrer com o iPod da Apple e que então fazia grande sucesso. Com chegada ao mercado em 2003, a recetividade foi de tal forma má que três anos depois estava a ser retirado do mercado.
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A interface do dispositivo, a ligação aos computadores e o design pouco apelativo do DJ pôs fim ao musical da empresa norte-americana.
Smartphones precoces
O Dell Streak, smartphone Android com um ecrã de cinco polegas mas de baixa resolução, e o Venue Pro com Windows Phone, um deslizável com teclado QWERTY e ecrã sensível ao toque, demonstraram que a empresa não estava, pelo menos nos últimos anos, talhada para o mercado dos smartphones.
No caso do Dell Streak, a tecnológica norte-americana ainda chamou ao dispositivo de cinco polegadas um tablet - mal soubia que ia ser o form factor mais comum dos smartphones anunciados em 2013.
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O tamanho e o desempenho, sobretudo em termos de software, ditaram o fracasso do Streak às mãos dos poucos utilizadores que adquiriram o equipamento e aos olhos da imprensa especializada.
No Venue Pro mais uma vez foi a construção e os materiais mais baratos que condenaram o telemóvel da Dell - que para piorar a situação vinha equipado com um inacabado Windows Phone 7. A qualidade básica da câmara, a fraca duração da bateria e o sistema de som pouco capaz ditaram o falhanço.
Nas campanhas também não
"Dude, you've got a Dell" foi uma das frases mais populares entre o ano 2000 e 2003. A publicidade da Dell foi na altura aquilo que hoje podia considerar-se "viral".
Mas nem todas as estratégias da marketing foram bem sucedidas e vão ser recordadas com saudosismo. A Della, a página Web desenhada de raiz para as mulheres para promover os computadores da Dell no feminino, saiu do ar 11 dias depois de ter ficado online.
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O desastre valeu críticas de especialistas que usaram os meios de comunicação para mostrar o desagrado por um marketing tão ligeiro e segmentado.
Quanto mais alta a escalada, maior a queda
O Inspiron 8600 representa o ponto agridoce da Dell: o sucesso que conduziu ao declínio. Foi um dos portáteis com mais sucesso da marca norte-americana mas por isso mesmo acabou por ser aquele que afetou mais a imagem da empresa.
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Construído de forma barata e equipado com Windows XP, que acumulou vários problemas com vírus e segurança nos primeiros anos, o Inspiration 8600 foi o porta-estandarte do que o "nem sempre acessivelmente económico" é preferível. Foi então que os consumidores começaram a ver outras alternativas, sobretudo os Mac da Apple.
As luzes ao fundo do túnel
A atual reconversão económica da Dell como empresa mostra que, acima de tudo, o CEO acredita que a marca ainda é capaz de dar ao mundo tecnológico muitas alegrias.
Os computadores Alienware são um desses exemplos. Conseguiram criar um spin-off dentro do universo dos computadores que conquistou os gamers de todo o mundo ao ser reconhecida como uma das principais marcas de portáteis para jogadores dedicados.
O Windows 8 também é uma esperança para a Dell - e para todas as outras fabricantes de computadores. O caráter híbrido do novo Windows pode conter o segredo para conquistar os utilizadores numa altura em que os dispositivos móveis e com ecrãs touch representam a tendência de consumo.
Mas o grande ponto de viragem pode estar no Projeto Ophelia apresentado na CES deste ano. Com o formato de uma pen e um tamanho transportável, este dispositivo MHL conecta-se a qualquer televisor e monitor, permitindo o acesso a um computador baseado na cloud.
Assente acima de tudo no conceito de aplicações, o Ophelia vem equipado com Android 4.1 e permite aceder a alguns dos softwares móveis desenhados para o sistema operativo móvel da Google.
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Com Wi-Fi e Bluetooth integrado, pode ainda funcionar como um centro multimédia. E com um preço de comercialização abaixo dos 100 dólares, cerca de 75 euros, este pode realmente ser um dos fatores de mudança que a Dell precisa para enfrentar a nova era dos computadores.
Diz quem já experimentou o dispositivo que não é nada de extraordinário, mas que acima de tudo, cumpre tudo o que é essencial da maneira que lhe é exigida - fator que os produtos da Dell revisitados nos parágrafos anteriores não foram capazes de atingir.
Escrito ao abrigo do novo Acordo
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