Como é que se cria um produto com sucesso? Cria-se algo visualmente apelativo, que seja fácil de usar, que entregue valor ao consumidor de forma quase inquestionável e acima de tudo que mostre que a forma de viver sem o produto já não faz tanto sentido.

Quando o diretor executivo da Tesla subiu ao palco para falar do novo produto da empresa, a Powerwall, ninguém esperava que ele fosse tão franco e tão sucinto no que tinha para mostrar. Mas a verdade é que não precisou sequer de 20 minutos para fazer com que muitos se questionassem se este pode ser o próximo grande salto tecnológico na área da energia.

Além de aconselhar a visualização da conferência de imprensa, que pode ser encontrada no YouTube, o TeK tenta agora explicar o que é, como funciona e que implicações pode ter a Powerwall.

Elon Musk acredita que mediante as condições certas, os utilizadores podem mesmo dispensar os serviços energéticos das empresas do sector. Uma afirmação arrojada, mas que certamente dá muito que pensar.

No título a referência a energia gratuita está protegida por aspas pois este não é um cenário totalmente verdadeiro: ou seja, é preciso investir primeiro para alguns anos depois poder de facto ter toda a energia que precisa sem pagar nada. Mas este seria um compromisso que milhões de pessoas e empresas em todo o mundo estariam certamente dispostas a fazer.

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O que é a Powerwall?

A Powerwall foi o produto que a Tesla apresentou no final da semana passada. Na prática é uma bateria que armazena a energia elétrica gerada por painéis solares.

Imagine que tem uma casa. No telhado tem painéis solares que recolhem a energia solar. Esta energia pode ser acondicionada na Powerwall. O sistema da Tesla acaba por funcionar como as baterias portáteis que se usam atualmente com os smartphones.

Elon Musk garantiu que o sistema é compatível com a maioria dos sistemas de produção de energia solar, pelo que ao nível de suporte das tecnologias que já estão implementadas também não deverá levantar grandes problemas.

Uma Powerwall pode custar 3.000 dólares - cerca de 2.665 euros - para o uso do dia a dia e 3.500 dólares - cerca de 3.100 euros - para o modelo que serve como backup energético.

Houve um grande cuidado ao nível do design e da segurança. Isto para que os utilizadores possam ter a Powerwall dentro ou fora de portas, sem qualquer inconveniente. O CEO da Tesla garante que cumpre todas as normas obrigatórias e o equipamento tem ainda um sistema de controlo de temperatura com base em líquido.

Se fica bem num anexo, na garagem, no sótão, na sala das máquinas ou até na parede exterior da casa, isso caberá a cada um decidir.

Qual a capacidade da Powerwall?

Uma Powerwall para o consumo consegue armazenar 7Kwh de energia. Uma Powerwall pensado para casos de backup energético consegue armazenar 10Kwh.

Para ter uma ideia, uma lâmpada de 60 watts precisa de estar ligada 56 horas seguidas para consumir um Kwh de energia.

O objetivo é que numa primeira fase, antes de tentar a total independência da rede de energia de empresas públicas e privadas, as Powerwalls sejam usadas para minimizar custos energéticos e ajudem a balancear a rede de energia solar doméstica. Isto porque na altura em que há mais luz solar, as pessoas não estão em casa.

Os picos de utilização são de manhã e ao final da tarde, pelo que a Tesla considerou ser necessário arranjar algo que ajudasse a trazer algum balanço entre produção e consumo energético.

Mas para os que consideram que a capacidade da Powerwall é limitada, então fique a saber que pode ligar até nove unidades em paralelo: para um total de 63Kwh. Isto seria o suficiente para manter uma casa com duas pessoas e utilizações “normais” de energia durante duas semanas sem recorrer à rede do operador de eletricidade.

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Claro que a Tesla tem interesses próprios neste segmento - no final, é uma das empresas que tem liderado a revolução dos veículos elétricos. Ter uma Powerwall em casa poderá ser o primeiro passo par “convidar” os utilizadores a comprar um carro elétrico. Mas seja um Tesla ou de outra marca qualquer, essa também seria uma revolução bem vinda.

Ainda ao nível da revolução é preciso dizer que a mesma não estaria completa se apenas abarcasse o tradicional mercado de consumo e não tentasse chegar junto das empresas. Para o mercado empresarial a Tesla tem o Power Pack, que no geral é uma bateria de dimensões muito maiores e que pode ser ligada a outros Power Packs de forma infinita.

Para gáudio de todos os que estavam na apresentação destes produtos, Elon Musk revelou que todo o evento estava a ser alimentado justamente por estas baterias gigantes - ou seja, estavam a dispensar totalmente a necessidade de um serviço de energia de um operador público ou privado.

O que preciso de saber mais?

A Tesla salienta que a Powerwall não precisa de manutenção, ainda que deva ser instalada por um técnico certificado. Além disso, a empresa dá ainda uma garantia de 10 anos.

No entanto é pouco provável que veja este sistema implementado na Europa num curto espaço de tempo. Atualmente a Tesla ainda tem dificuldade em produzir as baterias domésticas e apenas com as pré-encomendas já feitas atualmente, só em 2016 é que haverá vazão para novos pedidos.

Mas 2016 é também o ano no qual a Tesla espera ter a Gigafactory pronta - uma fábrica de grandes proporções que vai estar dedicada à produção de baterias elétricas, tanto para carros da empresa, como para as recém-anunciadas Powerwall.

A Tesla só tinha previsto dedicar um terço da produção da fábrica às baterias domésticas, mas o CEO da empresa admitiu num encontro com os analistas que se a procura pelas Powerwalls se mantiver alta, então poderá colocar a fábrica num rácio de produção de 50-50.


Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico