Emails, chamadas telefónicas, conversas no Skype, fotografias e posts colocados nas redes sociais. Toda a atividade de todos os cidadãos do mundo está a ser vigiada por um poderosíssimo sistema de informação, baseado em supercomputadores, e é usada para controlar questões de segurança e até segredos comerciais.

Parece um enredo de um dos muitos filmes que têm usado a chamada "teoria da conspiração" como base para algumas horas de diversão no cinema, mas não é. O PRISM (sigla de Planning Tool for Resource Integration, Synchronization, and Management) é um sistema real e foi desmascarado no início deste mês por um espião que agora procura asilo politico no Equador.

Edward Snowden já é considerado por muitos um herói, mas é apelidado de traidor pelos Estados Unidos. O espião terá aceite um cargo de consultor com o objetivo de desmascarar o PRISM e divulgou um PowerPoint de 41 páginas aos jornais The Guardian e The Washington Post.

[caption]Prism[/caption]

Mas Edward Snowden não foi o primeiro a desmascarar o sistema da NSA. Já antes Bill Binney, que trabalhou durante vários anos na Agência, revelou a capacidade de investigação e armazenamento de dados que estava a ser construída. E desde o início do século que se fala do sistema Echelon, uma "escuta" de âmbito global.

A onda de protestos que surgiu depois das revelações é enorme e assume uma proporção cada vez maior, não só da parte de Governos de outros países como de utilizadores individuais e organizações de defesa da privacidade, mas também nos Estados Unidos os cidadãos se sentiram ameaçados por serem vigiados por uma agência que supostamente só deveria fazer vigilância externa.

E mesmo as garantias dadas pela administração de Obama de que o programa foi descontinuado não acalmaram as hostes, até porque continuam a ser contrariadas por novos dados.

Uma carta aberta, assinada pelo Diretor da NSA tenta mostrar os factos sobre o PRISM e garantir que todas as ações são legais, mas parece haver pouco quem esteja disposto a acreditar piamente nestas declarações.

Quem divulga o quê?

Apple, Microsoft, Google e a operadora norte-americana Verizon estarão entre as empresas que forneceram dados à NSA, a agência de segurança interna dos EUA, embora todas tenham negado o seu envolvimento e pedido mais transparência às entidades governamentais.

Apesar das recentes revelações, pouco se sabe sobre o PRISM e teme-se que a informação divulgada seja apenas a ponta de um iceberg de atividades de espionagem de cidadãos e recolha de dados a nível global. A própria existência da Agência Nacional de Segurança (NSA), criada na década de 50 pelo então presidente Harry Truman, foi mantida em segredo durante cerca de 20 anos.

Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 a NSA viu os seus poderes de controle de comunicações reforçados, assim como os recursos humanos e financeiros, que lhe permitiram criar o maior sistema de análise de dados digitais alguma vez conhecido.

O crescimento da atividade justifica que esteja planeada ainda este ano uma mudança de instalações para o deserto perto de Salt Lake City, onde a NSA conseguirá, segundo uma investigação da Fox News, processar e arquivar dados equivalentes a cinco vezes o tráfego mundial da internet mundial.

[caption]centro de dados nsa[/caption]

Os dados recolhidos por jornais como o The Guardian e o The Washington Post mostram que a agência já coleciona dados de todas as chamadas telefónicas nos Estados Unidos que incluem informação de números, duração e localização das chamadas.

Mas tudo indica que o programa permite acesso direto a servidores das maiores empresas de Internet para vigilância de mensagens, vídeos, fotografias e posts para identificar padrões de comportamento que possam ser ligados a atividades terroristas.

Segundo o The Washington Post, em 2007 a NSA contratou a Microsoft como sua primeira parceira para o programa Prism, de vigilância doméstica, Ainda antes do Congresso ter aprovado o Protect America Act.

Um novo relatório ontem publicado pelo The Guardian revela que o programa de recolha de metadados de cidadãos norte-americanos ainda está em operação, mesmo depois da administração Obama insistir que foi descontinuado em 2011 por questões operacionais e que não foi retomado.

Em dezembro do ano passado a direção de Special Source Operations (SSO) da NSA referia uma nova capacidade de captar cada vez mais tráfego de Internet e dados, com um novo sistema que podia direcionar mais de metade do tráfego intercetado para os repositórios da agência.

Designada solução One-End Foreign (1EF), permitia que mais de 75% do tráfego passasse no filtro, indica um documento citado pela SSO, que revela mais capacidade de identificação de mais comunicações.

Segundo o mesmo jornal, a escala de metadados é muitas vezes ligada ao um outro programa da NSA, o ShellTrumpet, relativamente ao qual a agência se congratulava de ter processado em dezembro de 2012 o seu trilionésimo registo.

Nas próximas semanas serão certamente conhecidos novos dados sobre o sistema à medida que mais organizações questionam os Estados Unidos sobre a utilização de dados e a necessidade de transparência, mas para já há muito quem se preocupe com a forma de proteger a sua informação online.

A própria Mozilla lançou uma campanha, designada Stop Watching Us que junta várias organizações na defesa da privacidade e promove alguns conselhos sobre como proteger os dados, usando serviços como o Do Not Track, Persona ou o add-on Collusion no Firefox.

[caption]stop watching us[/caption]

E você, já começou a usar sistemas de proteção e codificação nos seus emails e comunicações?

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico