A oposição russa acusou as gigantes Google e Apple de “censura” por terem cedido às pressões do Governo, removendo o programa criado pelo movimento do opositor preso Alexei Navalny. A decisão surge após meses de repressão que afastaram os críticos do Presidente russo, Vladimir Putin, do escrutínio.
Os funcionários da Apple enfrentaram “táticas de intimidação e ameaças de detenção”, segundo a mesma fonte. Contactados pela agência noticiosa francesa AFP, os dois grupos tecnológicos californianos não emitiram qualquer comentário.
“Todo o Estado russo e até mesmo as grandes empresas tecnológicas estão contra nós, mas isso não significa que vamos baixar os braços”, afirmou a equipa de Navalny na aplicação de mensagens instantâneas Telegram.
Leonid Volkov, responsável da oposição exilado, acusou a Apple e a Google de “censura” e de “cederem à chantagem do Kremlin” ao suprimir a aplicação das suas lojas ‘online’.
“Esta aplicação é ilegal no nosso país”, disse o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, acrescentando que “as duas plataformas receberam notificações” que as levaram a cumprir “o espírito e a letra da lei” russa.
Como quase nenhum candidato anti-Putin foi autorizado a concorrer às legislativas, os apoiantes de Navalny elaboraram uma estratégia de chamado “Voto Inteligente” destinada a apoiar o candidato — em muitos casos, comunista — mais bem posicionado para deixar em dificuldades o do partido no poder, Rússia Unida.
A aplicação permitia saber em que candidato votar em cada um dos círculos eleitorais das legislativas, mas também em dezenas de eleições locais e regionais. No passado, esta abordagem obteve algum êxito, nomeadamente em Moscovo em 2019.
As autoridades russas já tinham aumentado, na quinta-feira, a pressão sobre as norte-americanas Google e Apple para que as empresas apagassem a aplicação ‘Navalny’ das suas plataformas antes das eleições legislativas que tiveram hoje início e vão decorrer durante o fim de semana.
Os deputados russos realizaram, na quinta-feira, uma sessão na Comissão do Senado para a Proteção da Soberania do Estado e Prevenção de Interferência nos Assuntos Soberanos da Rússia, que contou com a presença de representantes das empresas Google e Apple para se defenderem contra acusações de interferência nas eleições.
O argumento das autoridades russas é que a aplicação conduzia o utilizador diretamente à página “Voto Inteligente”, elaborada pelo líder da oposição russo que se encontra preso, Alexei Navalny, para tentar derrotar o partido no poder, Rússia Unida.
A iniciativa, em curso desde 2019 e que incomodava o Kremlin, identificava por nomes e sobrenomes os candidatos com maior probabilidade de conseguir evitar a eleição do representante do Rússia Unida, fossem eles liberais, comunistas ou nacionalistas.
No passado dia 10, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo convocou o embaixador dos Estados Unidos na Rússia, John Sullivan, para uma reunião em que Moscovo transmitiu a “inadmissibilidade da ingerência nos assuntos internos” do país.
A base jurídica que a Rússia usou para bloquear a aplicação ‘Navalny’ e a sua página “Voto Inteligente” é que a rede de escritórios e duas organizações do líder da oposição, incluindo o Fundo Anticorrupção, foram proibidas pela Justiça russa em junho passado, quando um juiz as declarou “extremistas”.
As autoridades russas acusam ainda outras empresas americanas – como a Cisco e a Cloudflare – de ajudarem a contornar o bloqueio de páginas ‘online’ proibidas na Rússia, como o “Voto Inteligente”, para além de terem bloqueado seis outras aplicações VPN (tecnologia que permite contornar mecanismos censórios na Internet).
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