Já era esperado que a Huawei apresentasse este ano em Barcelona um smartphone dobrável, o Huawei Mate X, sobretudo depois do anúncio do Samsung Galaxy Fold na última semana. O que não se esperava é que o conceito estivesse já tão funcional e que a marca permitisse aos jornalistas mexer no smartphone, embora com limitações.
Depois da apresentação na zona de hands on todos os Mate X estavam fortemente guardados dentro de umas redomas, com muita segurança à volta, mas numa entrevista conjunta a Richard Yu, o CEO da área de consumo da Huawei passou o Mate X para as mãos dos jornalistas (literalmente) e pudemos em ambiente controlado verificar a leveza, robustez e funcionalidade do smartphone. E é impressionante.
O aspecto é já bastante final e à partida parece muito leve e frágil, e tivemos quase receio de o partir, mas a experiência de dobrar revela uma resistência, apoiada pelo material traseiro que parece ser de uma liga metálica, e pela dobradiça que suporta o movimento mecânico. Uma das partes do ecrã é mais pequena e “encaixa” numa espécie de bloco onde está localizada a câmara, ficando fechado com o clique. Para abrir é preciso carregar no botão.
O mecanismo funcionou bem nas várias experiências, é suave ao toque e fácil de usar, e mesmo o software funcionou de forma rápida, adaptando-se à mudança de dimensão do ecrã e funcionando na horizontal e na vertical. Richard Yu lançou várias aplicações e explicou que está a trabalhar com a Google e a “convencer as pessoas” de que o interface por gestos é o que faz mais sentido.
4 anos de desenvolvimento e mil milhões de dólares investidos
Durante a entrevista conjunta Richard Yu explicou que a Huawei já está a desenvolver o conceito há três a quatro anos e que já investiu mais de mil milhões de dólares no Mate X, um peso significativo nos mais de 5 mil milhões que a marca investe anualmente em Investigação e Desenvolvimento. “Experimentámos outras tecnologias, também soluções como a da Samsung, e não gostamos. Parecem dois smartphones colados […] Esta é a melhor opção, é mais fino, porque se for grande e pesado ninguém vai querer usar”, afirmou.
E a durabilidade? “Fizemos testes e o smartphone por dobrar-se pelo menos cem mil vezes e acho que isso é suficiente para muitos anos”, defendeu o CEO da área de consumo e mobile da Huawei. À margem desta entrevista conjunta Richard Yu detalhou ao SAPO TEK que existem múltiplas camadas no ecrã do Mate X que funcionam em conjunto, como as folhas de um bloco de papel, e que lhe dá resistência quando dobra. Quem fabrica o painel do ecrã é uma empresa chinesa que está a desenvolver a tecnologia em conjunto com a Huawei, mas apesar de o CEO ter mencionado a empresa não conseguimos ainda confirmar o nome correcto.
5G, câmara no ecrã e adaptação das apps ao Mate X
Particularmente bem-disposto e visivelmente satisfeito com a apresentação, Richard Yu respondeu a todas as perguntas dos jornalistas e detalhou algumas das opções técnicas, como a escolha do 5G para o Mate X, que vai fazer com que o smartphone tenha ainda de ser testado com as novas redes dos operadores, embora suporte também 3G e 4G. “Todos vão precisar do 5G. Depois de experimentarem não vão querer voltar ao 4G”, adiantou, dizendo que vai ser útil para muitos serviços.
Falta da câmara no ecrã? Não é necessária. “Para que é que precisávamos?”, questionou, explicando que o notch ficava feio e que a sua colocação no bloco que dobra é mais fiável.
Quanto às aplicações, Richard Yu diz que não vai ser necessário nenhuma adaptação para funcionarem igualmente bem quando o ecrã está aberto e tem 8 polegadas e quando o Mate X é dobrado para ter um tamanho mais próximo dos atuais smartphones, com 6,6 polegadas à frente e 6,38 polegadas atrás.
Smartphones dobráveis vão ser o “standard” e preço vai baixar
O CEO da Huawei diz que já está a usar o Mate X há vários dias e que “gosto mesmo muito”, admitindo que não sabe se volta a usar o smartphone normal porque este é mais confortável e fácil para ler emails. “O pequeno ecrã não é bom para os olhos de quem trabalha muitas horas a olhar para o smartphone”, afirmou.
A convicção é de que “em poucos anos o foldable vai tornar-se standard”. Há pessoas que gostam de telefones pequenos, mas a maior parte prefere os ecrãs grandes. E a visão da Huawei é que “no futuro todos podem ter um smartphone como este, dobrável”, salientou Richard Yu.
O preço é ainda um obstáculo, com o valor fixado nos 2.300 euros, o que faz deste smartphone o mais caro de sempre (excluindo os modelos de luxo com metais e pedras preciosas ou edições exclusivas). Mas o custo vai baixar. “No futuro o preço vai baixar com a massificação”, lembrou o CEO da Huawei.
E que outros formatos podem vir a surgir? Com os ecrãs maleáveis há outros gadgets que podem mudar, como os relógios que podem ter um ecrã que se estende no braço, e há outros interfaces que a Huawei está a experimentar, embora o CEO não quisesse revelar muito mais detalhes.
Chegar a número um e os receios de comprar marcas chinesas
Richard Yu voltou a sublinhar a vontade da Huawei de chegar a número um do mercado mobile. Os números de crescimento de vendas e de receitas já tinham sido divulgados na conferência de apresentação das novidades, mas o CEO da área de mobile voltou a afirmar que este ano ficam muito perto do número 1, apesar de no mercado dos Estados Unidos as vendas serem quase zero. “Acredito que em dois anos temos possibilidade de ser lideres mundialmente. Não este ano mas no próximo”, explicou aos jornalistas.
A inevitável pergunta sobre os bloqueios económicos e o receio que alguns consumidores têm de comprar produtos da marca foi respondida de forma clara. “Temos o melhor da privacidade e segurança e não deixamos nenhuma backdoor”, garantiu Richar Yu. Mesmo nenhuma, nem para o Governo da China. E até quando em alguns países a polícia pede para abrir o sistema “não conseguimos fazer porque a encriptação é muito forte”, justificou.
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