Os smartphones parecem prontos a dominar o mundo, e a nossa atenção. Os terminais agregam cada vez mais funcionalidades, tomam conta de tarefas como a gestão da actividade física, a centralização dos emails e a comunicação através das redes sociais, para além da fotografia, os jogos, os mapas e a navegação por GPS ou a leitura e edição de documentos, e chegam a novos domínios como a detecção de doenças, ou a identificação de taxas de alcoolemia elevadas. A simples comunicação de voz, que era o seu objectivo inicial, parece uma tarefa cada vez menos central, e a imaginação é o limite para o que se pode ainda “empacotar” nestes equipamentos cada vez mais inteligentes. Sejam eles smartphones, tablets ou acessórios wearables.

E que tendências vão dominar este ano? O TeK falou com Francisco Jerónimo, Research Director de Research da IDC para a área de equipamentos móveis na Europa, Médio Oriente e África, para antecipar as tecnologias que vão ser dominantes no mundo dos telemóveis, mas também nos tablets e nos portáteis e híbridos. E as notas dominantes são a massificação das funcionalidades de topo de gama e a adição de mais inteligência nos assistentes digitais.

“Em 2015 assistimos, ao nível dos smartphones, a um focus crescente nos produtos de média gama (telefones entre os €150-€300). Cada vez mais marcas estão a apostar em trazer para a média gama as características dos telefones de alta gama. Para os utilizadores isto significa que a qualidade dos ecrãs, a qualidade das câmaras fotográficas, a velocidade dos processadores, etc. já estão acessíveis a um maior número de pessoas”, explica Francisco Jerónimo, que garante que esta tendência está a acentuar-se à medida que as fabricantes chinesas continuam a alargar a sua presença nos mercados ocidentais.

“Assistimos a um forte dinamismo de novas marcas que se tentam diferenciar dos tradicionais fabricantes, através de uma proposta de valor baseada em designs atractivos, a preços competitivos”. E isso é bom sobretudo para os clientes.

A nível de novidades tecnológicas não há muito a dizer, excepção feita ao “force touch”, ou no caso da Apple ao 3D touch. A tecnologia permite expandir a forma de interacção com o telefone, dando acesso a mais informação sem obrigar a novos clique para passar para um novo ecrã ou aplicação.

Crescimento mais lento

A massificação dos smartphones está porém a ditar uma tendências a que já assistimos noutras categorias de produtos: o abrandamento do crescimento das vendas. Em 2015 a IDC estima que o mercado de smartphones em Portugal cresceu apenas 8%, um valor significativamente inferior ao crescimento de 24% verificado no ano anterior. “Em determinados países Europeus verificou-se mesmo uma queda neste segmento, o que reflecte bem as dificuldades dos fabricantes em atrair os utilizadores para as últimas novidades. Isto é também resultado da escassez de novidades em termos de inovação dos produtos lançados em 2015”, admite o analista da IDC.

Nos tablets a entrada da Apple no segmento mais profissional em 2015, com o iPad Pro, e o lançamento do Surface Pro 4 da Microsoft, são os momentos mais marcantes. A categoria dos híbridos promete destronar os computadores portáteis e ao juntar o melhor de dois mundos, com o ecrã táctil de um tablet com o processamento de um portátil, atrair uma nova categoria de utilizadores. Contudo Francisco Jerónimo nota que os preços elevados ainda são uma forte limitação à massificação. Mesmo com boa vontade não será fácil à maioria dos portugueses pagar entre 1.000 e 2.500 euros para ter uma destas máquinas consigo.

Mesmo assim, dentro da categoria de tablets os híbridos serão a categoria que mais deve crescer em 2016, isto apesar das “quantidades vendidas representarem uma percentagem bastante pequena do volume de portáteis e tablets que se perspectivam vender em 2016, uma vez que o preço ainda continuará a ser um inibidor da procura”, adianta Francisco Jerónimo.

O ciclo de vida mais longo dos tablets não ajuda a dinamizar o mercado, já que a atualização não é tão premente como nos smartphones. “Quem comprou um tablet há três anos, por exemplo, continua a ter um produto em perfeitas condições de utilização para as necessidades de acesso à internet, redes sociais, ver conteúdo multimédia, etc”, refere o analista.

A tendência este ano passará por lançar produtos mais direcionados ao segmento empresarial. “Para além de ser o segmento com maior potencial de crescimento, é também o mais lucrativo, uma vez que os tablets direcionados aos consumidores estão destinados a serem produtos de preço muito baixo”.

Em termos de plataformas não se esperam mudanças na posição de cada sistema operativo, “por muito desinteressante que seja para quem acompanha o mercado de telecomunicações”. “O Android e o iOS continuarão a representar conjuntos cerca de 95% das vendas totais de smartphones na Europa e em Portugal, em 2016. O Windows continuará a perder quota de mercado, uma vez que o focus está a direcionar-se para produtos de mais alta gama e para o segmento empresarial”, justifica Francisco Jerónimo.

Então e sem novidades que interesse haverá? Há novidades, e uma das principais áreas de inovação nos próximos será o desenvolvimento de verdadeiros “assistentes pessoais digitais”.

“Empresas como a Google, Apple e Microsoft estão activamente a trabalhar em sistemas que permitam aos utilizadores interagirem com os smartphones de uma forma inteligente”, adianta o analista. A Siri da Apple, Cortana da Microsoft e Google Now da Google permitem aos utilizadores utilizar comandos de voz para ativar algumas funções dos telefones ou querer algumas ações limitadas. Contudo, o smartphone sabe mais da vida do utilizador, do que muitas vezes os próprios utilizadores.

“Se perguntar a qualquer pessoa o que estava a fazer há um ano atrás num determinado dia e a uma determinada hora, provavelmente a pessoa não saberá responder porque não se lembra. Mas o smartphone saberá. E sabe porque tem acesso à nossa localização, chamadas, mensagens, emails, fotografias, videos, histórico de pesquisas na net, informação das redes sociais, etc., etc.”, explica Francisco Jerónimo, que admite que apesar de toda esta informação estar disponível no smartphone hoje, continua a estar localizada em aplicações independentes que não comunicam entre si.

“Os gigantes desta industria estão a desenvolver tecnologias avançadas de “deep learning” e inteligência artificial que permita a um telefone responder a questões avançadas dos utilizadores, ao mesmo tempo que activamente executa acções por nós. Como se se tratasse de um verdadeiro assistente pessoal, mas digital”, alerta.

Esta é uma revolução que já começou e que vai acentuar-se em 2016 com o lançamento de versões mais avançadas do Siri, Cortana, Google Now e de outras empresas como a Facebook e Amazon.

E daqui a um ano talvez estes assistentes façam as suas próprias previsões para 2017…