Foi cumprida com sucesso a primeira parte da missão espacial da Boeing, que é um teste à capacidade da cápsula Starliner para levar e trazer humanos do espaço. Depois de duas tentativas falhadas, em 2019 e novamente no verão do ano passado, desta vez o lançamento correu bem e a cápsula segue a caminho da estação espacial internacional, onde ficará nos próximos dias, para depois regressar a Terra firme.
Mas há várias nuances a considerar antes de se poder dizer que a missão é bem-sucedida e que a Boeing pode finalmente começar a fazer aquilo que a Space-X já faz há algum tempo com a Crew Dragon. Primeiro, o lançamento não foi isento de problemas e depois a missão está apenas no início, muito há ainda para verificar sobre os sistemas do veículo.
No primeiro teste de voo da Starliner, em 2019, problemas de software fizeram com que a cápsula não conseguisse alcançar a órbita correta, depois do lançamento, e colocar-se na rota que a conduziria à Estação Espacial Internacional. Explicou-se na altura, que um problema com o sistema de contagem do tempo fez com que os propulsores da cápsula não fossem ligados na altura certa, gastou-se demasiado combustível e já não foi possível alinhar com a rota certa.
Esta quinta-feira, os propulsores voltaram a dar que falar. Trinta e um minutos após o lançamento da Starliner, a cápsula separou-se do rocket Atlas V da United Launch Alliance que o levou para o espaço e quatro propulsores foram ligados, para arder durante menos de um minuto e dar o impulso necessário para colocar a cápsula na órbita correta.
Um segundo depois de terem sido iniciados, um dos propulsores apagou-se, foi ligado um de reserva que acabaria por desligar-se também mais cedo que o previsto, obrigando a ligar outra reserva. A falha nunca colocou em risco a missão, porque a cápsula está equipada com 12 propulsores e 10 revelaram-se operacionais, mas será analisada para identificar a origem e evitar que volte a acontecer, garantiu Steve Stich responsável do NASA Commercial Crew Program, na conferência de imprensa que se seguiu ao lançamento. Note-se que os propulsores vão voltar a ser usados na aproximação à EEI e para posicionar a Starliner na órbita correta para viajar de regresso à Terra.
Por provar está também, ainda, a capacidade do sistema de sensores do veículo para garantir a acoplagem automática com porta que se abrirá para a receber na Estação Espacial Internacional. A viagem serve igualmente para verificar se os sistemas a bordo funcionam corretamente no sentido inverso e em todos os passos necessários para assegurar a viagem de regresso.
A chegada à EEI está prevista para esta tarde 19h10 ET, que já será de madrugada em Lisboa (00h10). A Starliner vai passar cinco dias na plataforma e regressará a casa no dia 25 de maio, para aterrar algures no deserto, no Oeste dos EUA. Se tudo correr como previsto, a próxima missão será tripulada e deverá ser preparada até ao verão, no que se refere à escolha da equipa de quatro astronautas que vai fazer o voo de estreia, a data do voo só será programada depois desta missão terminar.
Entretanto, a fabricante americana terá de resolver várias questões. O sistema de paraquedas para a descida da Starliner ainda está em certificação. O problema que impediu o segundo voo de testes em agosto passado, cancelado horas antes da partida depois de se confirmarem falhas de segurança em algumas válvulas, também não está definitivamente resolvido. A solução usada na missão em curso é provisória e quando houver uma definitiva terá de ser testada e certificada.
A Starliner partiu do Cabo Canaveral às 18h45 ET (23h45, Lisboa), esta quinta-feira. No sábado a equipa de astronautas da EEI vai abrir a cápsula às 11h45 ET (16h45, Lisboa), um momento que será transmitido em direto pela NASA. Lá dentro vai encontrar mais de 350 quilos de carga, entre mantimentos e material da Boeing. Quem também faz a viagem é Rosie the Rocketeer, numa das fotos da galeria abaixo, ocupando um lugar que na próxima viagem da Starliner já será preenchido por um astronauta de carne e osso.
No regresso a Starliner vai trazer para Terra mais de 250 quilos de material, na maioria sistemas recarregáveis da solução de oxigénio que garante ar respirável aos membros da tripulação na estação. Os depósitos serão reabastecidos, e voltam para a EEI numa próxima viagem.
A Boeing foi uma das empresas escolhidas pela NASA para firmar contrato, no âmbito de um programa que está a passar progressivamente o desenvolvimento e operação de veículos espaciais para empresas privadas, com o apoio financeiro da agência espacial norte-americana. Tal como a Space-X tem enfrentado vários desafios na passagem do conceito que a fez conseguir o contrato com a NASA à prática, mas tem demorado mais tempo a livrar-se deles do que a empresa de Elon Musk.
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