Em nome da ciência e do futuro da exploração espacial, equipas de investigadores e voluntários estão a enfrentar desafios que parecem saídos de um filme de ficção científica. Seja estar deitado durante dois meses ou a explorar o potencial de materiais superabsorventes, ambos os esforços têm um objetivo em comum: preservar a saúde e a segurança dos astronautas em missões de longa duração.

Imagine passar 60 dias na cama, com os pés ligeiramente elevados e sem nunca sair da posição horizontal, nem mesmo para comer ou tomar banho. Para os participantes deste estudo extremo, é a realidade diária. O objetivo? Compreender como o corpo humano reage às condições de microgravidade que os astronautas enfrentam no espaço.

A experiência é ainda mais meticulosa, com os voluntários divididos em três grupos. O primeiro permanece deitado sem qualquer tipo de exercício, representando os efeitos mais extremos da ausência de gravidade. O segundo grupo faz exercícios numa bicicleta adaptada à posição horizontal, imitando os treinos físicos que os astronautas fazem no espaço. O terceiro grupo, além de pedalar, é submetido a uma centrifugadora que cria gravidade artificial, permitindo que os cientistas analisem se esta pode ser a chave para evitar a deterioração física durante longas missões interplanetárias.

A ESA explica tudo num vídeo: 

A ausência de gravidade provoca perdas de massa muscular e óssea, alterações na circulação de fluidos e outros efeitos semelhantes aos observados em pacientes acamados por longos períodos na Terra. Ao estudar esses voluntários, os cientistas desenvolvem estratégias para mitigar esses problemas, incluindo exercícios físicos em posição reclinada e até a possível introdução de gravidade artificial como tecnologia padrão para, por exemplo  uma futura missão a Marte.

Hidrogéis na batalha contra a radiação

Outro grande inimigo no espaço é a radiação cósmica. Enquanto estamos protegidos pela atmosfera terrestre, os astronautas estão expostos a níveis alarmantes de radiação, que podem causar danos sérios à saúde.

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A solução pode estar numa tecnologia surpreendentemente familiar: os hidrogéis. Estes materiais, capazes de absorver centenas de vezes o seu peso em água, são conhecidos por aplicações quotidianas como fraldas ou lentes de contacto. Investigadores da Universidade de Ghent, na Bélgica, estão a adaptá-los para criar escudos de radiação eficazes.

A água contida nos hidrogéis interage com as partículas de radiação, desacelerando-as e protegendo os astronautas. Ao contrário de sistemas tradicionais de água em movimento, os hidrogéis distribuem-se de forma uniforme, sem risco de fugas, mesmo em caso de perfuração. Estes materiais podem ser integrados em fatos espaciais, habitats ou até mesmo em naves não tripuladas.