Às nove e meia da manhã já estavam a postos. São todos homens e vieram competir entre si para ver quem é o participante mais equilibrado. O dia prometia ser duro e começou logo com dureza: as provas físicas.



O primeiro teste foi dar uma volta ao circuito do Autódromo do Estoril, a correr. Ao fim do primeiro quilómetro as pernas já traiam alguns participantes, ao fim do segundo a separação entre os participantes era ainda maior. Mas este foi só o início para “queimar” o pequeno almoço.



Impulsão, resistência e destreza estão entre as características que foram avaliadas de manhã. Tudo com um carro de competição – e de luxo – como pano de fundo para manter altos os níveis motivacionais.




Enquanto os candidatos iam suando de esforço do lado de fora, o TeK encontrou o campeão português e internacional da edição 2013 do GT Academy. Miguel Faísca, agora um piloto profissional, estava na box número um do autódromo a testar os quatro sistemas de jogo onde os participantes iriam a seguir.



Miguel é o melhor exemplo do sonho que os 14 jovens e adultos deste ano procuram – fazer um percurso relâmpago, passando das consolas às pistas reais, sob pressão real e a sentir na pele o que de mais real pode haver num desporto de adrenalina, velocidade e incerteza constante.



Em conversa com o TeK, Miguel Faísca revela que estar de volta ao local onde começou a ser feliz proporciona novos sentimentos. “É diferente estar nesta perspetiva, este ano estou como mentor e estou a sentir-me bem”, explicou o piloto.



O português que brilhou no ano passado concorda com o facto de o seu sucesso trazer uma desvantagem para os participantes da quinta edição do GT Academy. “Há uma maior pressão, sim, e é mais difícil porque nunca houve nenhum país vencedor repetente”, atirou Miguel Faísca, que desfez logo este cenário com um “mas nada é impossível”.



As provas virtuais, onde os pilotos se sentam num simulador com o jogo Gran Turismo, começaram entretanto a decorrer e o TeK ficou a conhecer dois participantes enquanto outros aceleravam nas pistas.

Pedro Melim participa pela primeira vez no evento e veio de propósito da Madeira para marcar presença no Autódromo. Veio sozinho e com poucas horas de sono, mas “o cheiro a gasolina e o barulho do motor” vão despertar qualquer sonolência.



O madeirense qualificou-se com o terceiro melhor tempo na prova online, mesmo sem ter uma PlayStation. Pediu emprestada a um amigo e treinou durante duas semanas. Entretanto já não toca numa consola há um mês e talvez por causa disso os tempos no simulador não foram os melhores.



“Se não der este ano, para o ano vou estar aqui com tudo a postos”, disse Pedro Melim que considera Miguel Faísca como uma inspiração. Até lá vai aguardar pela prova de condução e pela entrevista em inglês, uma área onde espera ter uma grande vantagem sobre os mais diretos concorrentes.



Já Pipo Rodrigues surpreendeu todos ao conquistar tempos rápidos e constantes. O jovem também participa pela primeira vez no GT Academy e qualificou-se através de um evento ao vivo, depois de ter falhado a qualificação online.



O treino também foi feito com recurso a uma consola emprestada e a um volante emprestado. Mas o seu ponto mais forte é a condução, o que o coloca numa boa posição para se assumir como candidato.



No entanto a modéstia é mais forte. Pipo Rodrigues diz que espera conseguir ser um dos dois finalistas, mas não quer colocar as expectativas num patamar demasiado alto para que a desilusão não venha a ser igualmente grande.



Em resumo, o que é preciso para ser campeão? Miguel Faísca diz que o segredo está na determinação, e este é o conselho que deixa aos futuros representantes portugueses. Mas parece haver outro fator comum: pedir uma consola emprestada obriga os jogadores a superarem-se. Sim, porque basta lembrar que no ano passado, Miguel Faísca também se desenrascou com uma consola de outra pessoa.



O “virtualismo” continua a fazer parte da carreira de Miguel. Exigente por natureza, os simuladores ajudam a fazer o reconhecimento prévio das pistas e ajuda a aumentar a concentração. Mas enquanto afinava as máquinas acabou por confessar que não há simulador que supere a emoção da condução real.



E no fundo, não é isso o que todos procuram?

Rui da Rocha Ferreira


Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico