Após mais de uma década a mapear com precisão inédita quase dois mil milhões de estrelas da Via Láctea, a missão Gaia da Agência Espacial Europeia (ESA), chegou hoje oficialmente ao fim. Portugal esteve envolvido desde a génese desta missão histórica, através de uma equipa coordenada pelo LIP - Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas.

Lançada em 2013, Gaia tornou-se um dos projetos mais ambiciosos de sempre no estudo da galáxia. A sonda espacial registou mais de três biliões de medições, revelando detalhes sobre a estrutura, composição e evolução da Via Láctea, incluindo colisões com outras galáxias, enxames estelares desconhecidos, buracos negros, exoplanetas e milhões de galáxias distantes.

Clique nas imagens para mais detalhes

Com as reservas de combustível a esgotarem-se, a ESA planeou uma desativação responsável. A 27 de março de 2025, a missão foi oficialmente encerrada após uma manobra final que colocou a sonda numa órbita solar segura.

Missão Gaia da ESA descobre possíveis luas em mais de 350 asteroides
Missão Gaia da ESA descobre possíveis luas em mais de 350 asteroides
Ver artigo

Portugal teve um papel pioneiro na missão Gaia, sendo a primeira missão científica espacial com envolvimento desde a fase de definição, em 2006. A equipa portuguesa, coordenada por André Moitinho (LIP e Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa), contribuiu em áreas como o controlo de qualidade dos dados, calibração astrométrica, reconstrução de imagens e otimização de parâmetros de observação.

Nos últimos anos, o destaque foi o desenvolvimento do Gaia Archive Visualisation Service (GAVS), uma ferramenta essencial para a exploração visual e interativa dos dados, utilizada por cientistas de todo o mundo.

Embora a sonda tenha sido desativada, Gaia está longe de terminar. A próxima grande entrega de dados está prevista para 2026, e o catálogo final após 2030. Estes dados continuarão a impulsionar descobertas durante décadas.

Veja o vídeo preparado pela ESA

A bordo da sonda seguem gravados os nomes de cerca de 1.500 membros da equipa - incluindo os portugueses - "como homenagem simbólica a uma missão que mudou para sempre a forma como olhamos o céu", pode ler-se em comunicado.