Tecnologias como realidade imersiva, inteligência artificial e computer vision estão a transformar a cirurgia do cancro da mama na Fundação Champalimaud (FC). Hoje, é apresentada uma nova infraestrutura na nuvem de armazenamento, consulta e análise de dados médicos por investigadores.
A infraestrutura foi criada pelo Digital Surgery Lab, da Unidade de Mama da Fundação Champalimaud, em parceria com a Altice e a BMD Software. O objetivo é criar um sistema estandardizado de armazenamento na Cloud de dados anonimizados de pacientes, para que fiquem acessíveis, em segurança, aos investigadores.
Em comunicado, Pedro Gouveia, cirurgião e líder da equipa multidisciplinar do Digital Surgery Lab, começa por explicar que, hoje, tanto em Portugal como na maioria dos centros na Europa, o acesso a esta informação requer uma ida aos hospitais para consultar arquivos e gravar os dados em CD. “Em pleno século XXI, estamos ainda a usar discos físicos para transferir informação!”, realça.
O método não é seguro, uma vez que não é possível controlar quem acede aos dados nem ter a certeza de que a sua anonimização, algo essencial para garantir o cumprimento do RGPD, foi feita corretamente.
“Agora, pela primeira vez, nós conseguimos demonstrar que é possível transferir e armazenar ficheiros digitais em segurança, de forma virtual, via internet, utilizando ferramentas que já existem nos hospitais”, afirma Pedro Gouveia.
Olhando para o futuro, os investigadores acreditam que, se o formato desses dados estiver devidamente normalizado, será possível que hospitais e centros de investigação possam transferir informação médica de uma forma totalmente transparente.
A infraestrutura hoje apresentada é a primeira fase de um projeto, chamado MetaBreast, que está a ser desenvolvido pela Unidade de Mama da FC e outros parceiros. O projeto foi aprovado para receber financiamento do Plano de Resiliência e Recuperação (PRR), com a FC a receber 1,4 milhões de euros.
Para lá da investigação, na segunda fase do projeto, a equipa ambiciona criar um um dispositivo médico comercial que dará aos médicos a possibilidade de acederem a dados de saúde e imagem através de óculos de realidade aumentada, como detalhado anteriormente por Pedro Gouveia em entrevista ao SAPO TEK.
Veja as imagens do Digital Surgery Lab
O desenvolvimento da infraestrutura na nuvem torna esta parte do projeto ainda mais ambiciosa. “Já tínhamos falado de criar uma base de dados online. Mas o que estamos agora a criar é muito mais do que isso”, detalha Pedro Gouveia
“O que nós fizemos é uma coisa completamente diferente: criámos um sistema de interoperabilidade e armazenamento de dados em saúde”, que liga digitalmente o sistema clínico a um repositório de dados em nuvem. “Interoperabilidade é a palavra-chave”, enfatiza o cirurgião.
Note-se que os arquivos de imagens médicas dos hospitais já têm um sistema estandardizado, chamado PACS (Picture Archiving and Communication System), desenvolvido utilizando um padrão chamado DICOM (Digital Imaging and Communications in Medicine). Os dados não imagiológicos também vão estar integrados na nova infraestrutura.
“Todos os dados de imagem e os processos clínicos da Unidade de Mama vão ser transferidos para dois computadores da rede privada da Altice nas Picoas (Lisboa)”, indica Gouveia.
Dentro da Cloud do Centro Clínico Champalimaud foi criado um PACS de gateway, que recebe os dados do PACS clínico da Unidade de Mama, pseudo-anonimiza-os e envia-os para fora da nuvem da clínica. A informação é enviada para um PACS de investigação, instalado nos servidores da Altice.
“A unidade da Mama tem já 3.500 doentes com dados clínicos estruturados que vão portanto poder ‘viajar’ de PACS em PACS até ao destino final”, explica Pedro Gouveia. No futuro, as próprias pacientes poderão aceder, com as devidas credenciais, a todo o seu processo clínico eletrónico a partir de qualquer hospital ou clínica que possua um PACS.
O PACS de gateway e o PACS de investigação já estão operacionais e já começaram as transferências de um para o outro. A equipa tenciona testar a fiabilidade da infraestrutura através de um estudo clínico com várias centenas de pacientes.
No futuro, os dados presentes nas imagens médicas, que ainda não estão a ser explorados, poderão ser aproveitados para melhorar a qualidade de vida de quem tem cancro da mama.
“Há uma série de informações que são visíveis nestas imagens, mas que hoje em dia não estamos a utilizar, como problemas cardiovasculares que as doentes já tenham ou que possam vir a ter, riscos de doença cardiovascular, de osteoporose, de doença obstrutiva respiratória”, afirma João Santinha, especialista de inteligência artificial aplicada às imagens médicas do Digital Surgery Lab.
A equipa do Digital Surgery Lab está também a preparar a criação de uma spin-off, chamda Heka Vision, que permita comercializar o dispositivo médico de IA e realidade aumentada que venha a ser desenvolvido no projeto MetaBreast.
“Temos um roadmap a cinco anos com necessidades de investimento de 13 milhões de euros para realizar todos os ensaios clínicos necessários e colocar o dispositivo no mercado”, acrescenta Pedro Gouveia.
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