Depois de o mau tempo ter ditado o adiamento da separação da Dragon da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), a NASA e a SpaceX anunciaram o sucesso da missão esta terça-feira. A nave espacial de carga da empresa de Elon Musk desacoplou-se da ISS às 14h05 (hora de Lisboa) e segue agora viagem para a Terra. A chegada à costa da Flórida, nos Estados Unidos, está prevista para acontecer esta madrugada, por volta das 1h27, depois de uma "viagem" de 36 horas.

A Dragon da SpaceX, que marca o primeiro regresso direto de dados científicos do espaço para os Estados Unidos desde a "reforma" do programa Space Shuttle em 2011, ligou os propulsores para se afastar da porta do módulo Harmony, estabelecendo uma distância de segurança. A bordo da ISS esteve o astronauta da agência espacial norte-americana Victor Glover a monitorizar o processo.

Clique nas imagens para ver a separação da Dragon da Estação Espacial Internacional que foi transmitida em direto pela NASA

A próxima fase, que passa pela entrada na atmosfera do planeta, deverá acontecer pelas 00h37 (hora de Lisboa) desta quinta-feira. Para começar a sequência de reentrada na Terra, os motores da nave vão ser ligados, iniciando-se uma "queima de combustível". Desta forma, pretende-se que a Dragon estabeleça a rota certa.

Veja o vídeo do livestream da NASA que mostra o sucesso da missão

A missão prevê a chegada à costa na Flórida, onde mergulhará no Oceano Atlântico depois de uma reentrada controlada. De notar, no entanto, que o "splashdown" não vai ser emitido em direto pela NASA.

A importância do regresso de dados científicos à Terra

O regresso da nave à Terra marca o primeiro "desencaixe" de uma nave de carga comercial dos Estados Unidos do International Docking Adapter, o adaptador de sistema de ancoragem para naves espaciais da NASA.

De recordar que a Dragon lançou a 6 de dezembro de 2020 o foguetão SpaceX Falcon 9 na Flórida, que chegou à ISS 24 horasdepois, conseguindo a "primeira ancoragem autónoma de uma nave de reabastecimento de carga comercial dos Estados Unidos". Na altura, a nave entregou mais de 2.902 kg hardware, dados de investigação e suplementos para a tripulação.

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As cápsulas Dragon que chegaram anteriormente foram anexadas à ISS por astronautas através do sistema robótico Canadarm2. Certo é que agora a cápsula volta a destacar-se por conter o dobro da disponibilidade de "arrumação" das cápsulas anteriores, "permitindo um aumento significativo da investigação que pode ser levada de volta à Terra".

No regresso, a nave pode suportar até 12 equipamentos elétricos, permitindo o transporte de mais carga fria e energia para cargas úteis adicionais. “A velha cápsula era como um donut recheado com creme. Era preciso empacotar tudo em volta das paredes e no centro colocávamos uma pilha gigante de sacos”, explica Mary Walsh, da NASA.

Já a nave espacial atualizada da SpaceX é definida como “uma casa de três andares”. “Colocamos a carga no porão e depois no segundo e terceiro andares”. “Portanto, é realmente diferente de uma perspetiva de design”, garante Mary Walsh.

Que dados científicos estão de regresso à Terra?

Dentro da cápsula não faltam dados científicos. Um deles é o sistema Cardinal Heart, que estuda a forma como as mudanças na gravidade afetam as células cardiovasculares aos níveis celulares e de tecido, recorrendo a tecidos cardíacos projetados em 3D. Os resultados podem levar a uma nova forma de compreensão dos problemas cardíacos na Terra, ajudar a identificar novos tratamentos e apoiar o desenvolvimento de medidas de triagem para prever o risco cardiovascular antes do voo espacial.

Uma investigação da agência espacial japonesa também regressa à Terra. O estudo analisa o crescimento de sistemas de órgãos 3D a partir de células estaminais humanas com o objetivo de compreender mudanças genéticas. Neste caso, as conclusões da investigação podem comprovar as vantagens da utilização da microgravidade para desenvolvimentos de ponta em medicina regenerativa e contribuir para o estabelecimento de tecnologias necessárias para a criação de órgãos artificiais.

Ainda na área da saúde, na cápsula da SpaceX vão também regressar ratos vivos. A investigação em causa estuda a função das artérias, veias e estruturas linfáticas do olho e mudanças na retina antes e depois de voos espaciais.

Na ISS também se produziu fibra ótica e as fibras experimentais criadas em microgravidade vão regressar à Terra. Esta "viagem" vai ajudar a verificar a viabilidade de outros estudos que sugerem que as fibras criadas no espaço podem apresentar qualidades muito superiores às produzidas na Terra.