Batizado como relógio para o Fim do Mundo ou dia do Juízo Final, este contador simbólico foi criado em 1947 e mantido pela Bulletin of the Atomic Scientists, uma organização criada dois anos antes por cientistas envolvidos no desenvolvimento do Projeto Manhattan, aquele que daria origem à bomba nuclear. Desde então, o relógio representa a analogia de que a humanidade está muito próximo da meia-noite, ou melhor, do seu fim.
“Mais perto que nunca: o relógio está a 100 segundos da meia-noite”, pode ler-se na mais recente publicação da organização. Os cientistas deixam o apelo aos líderes e cidadãos do mundo de que nunca esteve tão próximo da meia-noite desde a sua criação. E isso deve-se a dois cenários potencialmente catastróficos: as alterações climatéricas e uma nova guerra nuclear. E a isto, junte-se ainda o multiplicador do perigo cibernético que poderá cortar a capacidade de resposta das sociedades.
No que diz respeito ao perigo nuclear, é salientado que os líderes nacionais abandonaram negociações importantes sobre o controlo de armas no ano passado. O que criou um incentivo renovado à corrida das armas nucleares. Destacam ainda que continua por resolver os programas nucleares do Irão e Coreia do Norte. E que a cooperação entre os Estados Unidos e a Rússia para o controlo e desarmamento das armas é praticamente inexistente.
Quanto às alterações climatéricas, a organização salienta grande consciencialização sobre a crise em 2019, muito devido à manifestação da população jovem, destacando-se a sueca Greta Thunberg. No entanto, a ação dos governos mundiais não é suficiente para fazer face ao desafio. É salientado que são poucos os planos para a limitação das emissões do carbono, o principal responsável pelas alterações climáticas. E o resultado parece estar à vista, registando o ano mais quente de sempre, grandes incêndios, assim como o derreter rápido dos gelos glaciares.
Estes dois grandes perigos para a humanidade, é referido, são amplificados pelo que apelida de propaganda sofisticada e amplificada pela tecnologia. “Nos últimos dois anos, temos visto líderes influentes denigrir ou descartar os métodos mais eficazes para corrigir os perigos mais complexos, a favor dos seus próprios interesses e ganhos na política doméstica”, é referido no boletim.
Por estes motivos, o Relógio do Juízo Final avançou mais 20 segundos em direção à meia-noite, o mais próximo de sempre do “apocalipse”. Este marco é o aviso da comunidade científica que faz parte da associação aos líderes e população mundial para o cenário mais perigoso de sempre “ainda mais que na sombra da Guerra Fria”. Está a 100 segundo da meia-noite…
Mãos dadas para salvar o planeta
Apesar da mensagem alarmista e catastrófica, a Bulletin of the Atomic Scientists deixou também dicas de como o mundo deverá responder a estes perigos. Em primeiro lugar os líderes dos Estados Unidos e da Rússia devem voltar à mesa das negociações de forma a impedir a corrida às armas nucleares, além de reduzir o estado de alerta de ambas as nações.
Os países devem publicamente anunciar o apoio ao acordo de Paris sobre o objetivo de descer a temperatura abaixo dos 2 graus Celcius mais elevados que o nível pré-industrial. E para tal, deverá haver mudanças no sistema de energia mundial que devem ser aplicados. A associação vira-se ainda em particular para os cidadãos americanos para exigir uma ação imediata nas políticas climáticas do seu Governo, a propósito da decisão de Donald Trump de se retirar do Acordo de Paris. E deixa o alerta para quem vencer as próximas eleições presidenciais, o dever de retomar o Acordo.
Outra medida refere-se ao impedimento da proliferação nuclear no Médio Oriente, sobretudo garantir que o Irão não quebre as negociações. Por fim, a comunidade internacional deve iniciar discussões multilaterais para estabelecer normas de comportamento, desencorajando e penalizando o uso indevido da ciência. O mesmo para as campanhas irrealistas dos políticos, que traçam linhas ténues entre os factos e as “motivações políticas fantasiosas”.
“Não há razões para que o Relógio do Juízo Final não se afaste da meia-noite, pois já foi feito no passado quando os líderes inteligentes tomaram ação, sob a pressão dos cidadãos bem-informados e envolvidos em torno do mundo”, concluindo que as pessoas têm a capacidade de desmascarar a desinformação das redes sociais e melhorar as expetativas dos seus filhos e netos, e que é agora o tempo de agir.
O mais longe que o relógio esteve da meia-noite foi em 1991, quando faltavam 17 minutos, mas anteriormente esteve também próximo, em 1953 quando os cientistas calcularam que apenas dois minutos separava o mundo da perdição devido aos testes nucleares conduzidos pelos Estados Unidos e a União Soviética.
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