Num ano especialmente "quente" para o planeta, as alterações climáticas estão no centro da discussão da conferência das Nações Unidas (ONU) criada para discutir esta questão, a COP25. Ainda antes do encontro, que arrancou esta segunda-feira e termina no dia 13 de dezembro, António Guterres deixou um alerta: "a guerra contra a natureza deve parar".
Numa conferência de imprensa este domingo, o secretário-geral da ONU afirmou que as "mudanças climáticas já não são mais um problema a longo prazo" e que o mundo está a enfrentar uma "crise climática global". No entanto, caso se tomem as devidas medidas, a palavra de ordem será mesmo a “esperança”.
Desta forma, e considerando que o travão na guerra contra a natureza é "perfeitamente possível", António Guterres fala numa vontade política que ainda está a faltar, depois de atores como empresas e cidadãos já terem dado provas de mudança. Colocar taxas no carbono, terminar com os subsídios nos combustíveis fósseis e com a construção de centrais de carvão a partir de 2020 e alterar as taxas cobradas pela poluição de carbono são algumas medidas referidas pelo secretário-geral português, que destaca a importância da política neste panorama atual.
António Costa, que já discursou na conferência, falou num duplo dever por parte de todos: “ouvir os cientistas e agir”, numa altura em que “o tempo é curto” e a “ameaça para a própria humanidade” é evidente.
Em conformidade com o discurso do secretário-geral da ONU, o Primeiro Ministro garantiu que até 2021 vão ser encerradas as duas centrais de carvão em Portugal e relembrou que Lisboa vai ser em 2020 a Capital Verdeu Europeia, um prémio concedido pela Comissão Europeia.
Portugal deve atingir a neutralidade carbónica até 2050 e o objetivo é que em 2030 80% da energia elétrica tenha origem em fontes energias renováveis
Novos recordes de mau agouro para o planeta Terra
De acordo com um relatório publicado no final do mês de novembro pela Organização Meteorológica Mundial, OMM, os níveis de gases de efeito de estufa subiram e atingiram um novo recorde de 407,8 partes por milhão em 2018. No ano anterior a OMM registou uma concentração de dióxido de carbono de 405,5 partes por milhão.
Numa nota de imprensa citada pela ONU News, a agência afirma que esta tendência está a aumentar com o passar dos anos, num documento onde garante que as "futuras gerações poderão enfrentar as consequências cada vez mais severas da mudança climática".
As consequências deste panorama atual são várias. A OMM destaca alguns no relatório, nomeadamente o aumento constante das temperaturas, a ocorrência de fenómenos climáticos extremos, a subida do nível do mar e a alteração dos ecossistemas marinhos e terrestres.
O dióxido de carbono pode permanecer durante séculos na atmosfera e durante períodos ainda mais longos nos oceanos
Os dados divulgados em novembro pelo National Oceanic and Atmospheric Administration já anteviam um ano “negro”, pelo menos no que diz respeito à temperatura do planeta, com outubro a ser o mês mais quente alguma vez registado e com o período entre janeiro e outubro a ser o segundo mais quente alguma vez registado.
Esta situação nada favorável para o planeta Terra também foi referida na conferência de imprensa aos jornalistas, com António Guterres a citar um estudo da OMM que vai ser apresentado no encontro. De acordo com a investigação, “os últimos cinco anos foram os mais quentes já registados” e “o nível do mar é o mais alto da história da humanidade.”
Acordo de Paris com uma baixa de peso
Em 12 de dezembro de 2015, foi alcançado um novo acordo mundial sobre as alterações climáticas, o Acordo de Paris. O tratado, inicialmente assinado por 195 países, visa limitar o aquecimento global a um valor abaixo dos 2 graus celsius e envidar esforços para o limitar a 1,5 graus celsius.
Este acordo abrange o período a partir de 2020 e entrará em vigor assim que 55 países que sejam responsáveis por, pelo menos, 55% das emissões mundiais o tiverem ratificado.
Em 2017 Donald Trump anunciou o desejo de “retirada” dos Estados Unidos do Acordo de Paris. Mais recentemente, no início de novembro, a administração do presidente dos Estados Unidos anunciou formalmente às Nações Unidas a saída do Acordo de Paris, alegando “encargos económicos injustos impostos a trabalhadores, empresas e contribuintes americanos devido às promessas dos EUA feitas no âmbito do contrato”.
A COP 25 é a Conferência das Partes da Convenção sobre Mudança Climática, UNFCCC, que tem como objetivo assegurar que o Acordo de Paris 2015 e outros objetivos relacionados com as alterações climáticas sejam implementados. Por isso, António Guterres espera que a COP25 seja uma “demonstração clara de maior ambição e compromisso, mostrando responsabilidade e liderança”.
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