As primeiras experiências com fotografias de estrelas foram aos 13 anos e o investimento que Miguel Claro fez na astrofotografia foi evoluindo, a par da tecnologia, mas tem dado frutos no reconhecimento internacional do trabalho do astrofotógrafo e nos prémios que acumula. É autor dos livros Astrofotografia e Dark Sky, tem muitas imagens publicadas em várias revistas, faz workshops e é orador convidado em eventos de promoção da astronomia em várias partes do mundo, mas continua a ser a fotografia que o prende à Terra.
Já esteve a fotografar no deserto de Atacama, junto dos telescópios do ESO (Observatório do Sul), na Islândia, Israel, Açores e Canárias, mas atualmente tem a base no Alentejo, onde é o astrofotógrafo oficial da Reserva Dark Sky Alqueva. O primeiro destino do mundo certificado como “Starlight Tourism Destination” fica localizado ao largo do grande lago Alqueva e Miguel Claro é um dos grandes beneficiados das condições extraordinárias da localização para observar o céu, e também para o fotografar, captando imagens de cortar a respiração e que nos transportam diretamente para o meio da Via láctea ou para estrelas a milhares de anos-luz de distância.
As fotografias que capta estão bem documentadas no seu site, onde tem várias coleções que vale a pena percorrer, não só pelas imagens mas também pelas descrições das fotos, os detalhes técnicos, e os momentos únicos em que foram captadas, que são imortalizados nas legendas.
Clique nas imagens para ver algumas das mais recentes fotografias de Miguel Claro
O Dark Sky foi apresentado em 2012 e o Miguel Claro começou a colaborar quase no início do projeto para ajudar a divulgar o conceito, e tem acompanhado o crescimento da reserva, que abrange já 10 concelhos e 10 mil quilómetros quadrados e que está a crescer a nível nacional, nas Aldeias do Xisto e no Tua. Foi neste espaço, onde também observámos o céu noturno num evento que assinalou os 25 anos da Asus com o lançamento de uma edição especial, o Zenbook 14X OLED Space Edition, que conversámos com o astrofotógrafo que é embaixador da marca e que ainda tem esperança de um dia conseguir ir ao espaço.
“Cada vez que vamos aprendendo mais, mais percebemos as limitações e a dificuldade de fazer o que almejávamos fazer”, explica ao SAPO TEK, dizendo que um bom telescópio facilmente custa muito mais do que uma casa.
A oportunidade de estar nos maiores telescópios do mundo, o ALMA e o VLT no deserto do Atacama, é descrita por Miguel Claro como extraordinária. “É um diâmetro ocular gigantesco, capaz de captar a luz mais ínfima do universo e isso é espetacular […] e sobretudo percebermos que no espaço de um século chegámos a uma evolução enorme da tecnologia”. “Esta é a altura mais fascinante para estar na Terra”, afirma.
Primeiro a fotografia depois a observação
Miguel Claro já comprava revistas de astronomia com 13 anos, fascinado pelos telescópios, e quando teve a oportunidade de comprar o primeiro equipamento, ainda num oculista na Baixa de Lisboa, começou as suas observações e ligou uma câmara de vídeo.
“Acho que comecei primeiro a fotografar do que a observar”, admite Miguel Claro. “A primeira vez que tive oportunidade de ter um telescópio liguei uma câmara de videovigilância porque achava aquilo espetacular e achava que os outros também tinham de ver, e normalmente estava a ver sempre sozinho”, afirma.
“A fotografia tem o poder de poder partilhar a observação com o mundo”, explica, mas não foi um processo fácil, ainda com câmaras fotográficas de rolo e com um resultado final que só se conhecia depois de revelado, e que por vezes chegava a ir para o lixo porque nos laboratórios não percebiam o que estava feito. “No estúdio achavam que a foto estava vazia, como o rolo é negativo, as estrelas eram pontinhos, e deitavam tudo para o lixo”, um problema que só se resolveu quando arranjou uma pessoa conhecida a quem explicou o que estava a fazer.
A evolução da tecnologia, dos telescópios e da fotografia, é reconhecida por Miguel Claro, embora isso não aconteça na ótica. “Aqui a evolução não é drástica, não há muito mais a fazer nessa área, nem uma diferença muito grande”, justifica, dizendo que há materiais diferentes e novas combinações de tipos de telescópios e refletores que são mais eficientes em alguns pontos e que ajudam mais a conseguir imagens mais claras e nítidas. Mas não é só isso que conta e “o céu onde estamos conta muito”, afirma.
“Aqui [na reserva do Dark Sky do Alqueva] é um dos melhores sítios na Europa e um dos melhores do mundo. Fazemos medições regulares e já tivemos 21/50, que é muito próximo do que conseguimos no VLT do deserto do Atacama”, explica, embora lá tenham a a vantagem da altitude e do posicionamento para a Via Láctea, que está no zénite, onde a luz entra mais direta, enquanto em Portugal temos a Via Láctea no horizonte.
Mesmo assim, as imagens captadas no Alentejo são fascinantes, mostrando a Via Láctea no seu esplendor com a ajuda das condições extraordinárias que se conseguem de reduzida poluição luminosa.
As redes sociais como divulgação do trabalho
Miguel Claro pode ser considerado um influencer das redes sociais, com mais de 31 mil seguidores no Facebook e 38 mil no Instagram, as plataformas onde também vai publicando as suas imagens. Mas o astrofotógrafo não quer ser escravo do imediatismo que se observa nestas plataformas. “O mundo vive numa vertigem em que tudo é para ontem […] todos temos culpa disso e essa rapidez é inimiga da perfeição”, avisa.
“Às vezes prefiro não publicar imagens logo, porque quero fazer coisas com qualidade, as imagens de um eclipse por exemplo, e tenho a impressão que perco muito com isso. Mas vou tentar ter essa resistência à ideia de que é tudo para hoje”, explica Miguel Claro.
Como professor, quando dá workshops, aconselha o mesmo aos seus alunos, dizendo para que deixem passar algum tempo antes de processarem as imagens porque se estiverem cansados o julgamento vai estar adulterado.
Apesar de estar sempre a correr contra o tempo, entre a necessidade de fotografar de dia e de noite e de processar as imagens que por vezes demoram horas a tratar, Miguel Claro diz que tenta responder a todas as mensagens, apesar de algumas dificuldades do Facebook que vai bloqueando as conversas dos posts mais longos. “É o mínimo que posso fazer porque as pessoas escrevem-me textos muito bonitos”, afirma.
O sonho de ser astronauta, que traz consigo desde criança, ainda está por concretizar, mas Miguel Claro não perdeu a esperança. “Ainda é possível”, admite, explicando que a fundadora do Dark Sky, Apolónia Rodrigues entregou uma candidatura no projeto dearMoon, financiado pelo bilionário japonês Yusaku Maezawa que quer levar turistas espaciais num voo privado à volta da Lua com a Starship da SpaceX. “Ainda passei as duas primeiras fases mas depois não e contactaram”, explica.
E será que vai conseguir outra forma de concretizar este sonho? “Nunca se sabe, já tivemos uma evolução tão grande que daqui a 40 ou 50 anos pode ser tão banal ir ao espaço como ir de avião aos Estados Unidos”, afirma.
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