É mais uma confirmação de que vivemos dias mais quentes, que se transformam em meses mais quentes e, consequentemente, em anos mais quentes. Depois de um estudo da Universidade de Leeds ter revelado que o aquecimento global está ao nível mais alto ao atingir uma média de 1,19 graus Celsius na última década, é a vez da NASA apontar o mês passado como o maio mais quente desde que há registo.

O novo máximo não surpreende, já que as temperaturas médias globais dos últimos 12 meses atingiram recordes em cada mês respetivo, numa sequência classificada como “sem precedentes” pelo Instituto Goddard de Estudos Espaciais (GISS na sigla original).

Já os dados do observatório europeu Copernicus para abril de 2024 indicavam que a temperatura média do ar foi de 15,03 graus Celsius, mais 1,58 graus do que um mês de abril normal na era pré-industrial (1850-1900), a base utilizada para as temperaturas antes de a queima de combustíveis fósseis ter começado a crescer rapidamente.

Em abril de 2024 a temperatura registada também ficou 0,14°C acima do máximo anterior, que sucedeu em 2016. Nos últimos 12 meses, de maio de 2023 a abril de 2024, a média de temperatura global esteve 0,73°C acima da média de 1991-2020 e 1,61°C acima da média pré-industrial.

Para os cientistas da NASA, a série de temperaturas recorde enquadra-se numa tendência de aquecimento a longo prazo impulsionada pela atividade humana - principalmente pelas emissões de gases com efeito de estufa. 

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O aumento das emissões de dióxido de carbono foi citado como o principal fator do aquecimento dos oceanos. Cerca de 90% do excesso de calor atmosférico nas últimas décadas foi absorvido pelo oceano, sendo grande parte desse calor armazenado perto da superfície da água.

“O oceano é o volante do nosso clima. Como o oceano cobre mais de dois terços da Terra, quaisquer que sejam as temperaturas da superfície do mar, o resto do planeta acompanha-o”, referem os cientistas da NASA.

A tendência de aquecimento tornou-se evidente nas últimas quatro décadas, sendo os últimos 10 anos consecutivos os 10 mais quentes desde a comparação de registos, iniciada no final do século XIX. Antes desta sequência de 12 meses consecutivos de temperaturas recordes, a segunda sequência mais longa durou sete meses, entre 2015 e 2016.

Na análise da NASA, uma linha de base de temperatura é definida por várias décadas ou mais – normalmente 30 anos. A temperatura média global nos últimos 12 meses foi 2,34 graus Fahrenheit (1,30 graus Celsius) acima da linha de base do século XX (1951 a 1980). Tal está ligeiramente acima do nível de 2,69 graus Fahrenheit (1,5 graus Celsius) em relação à média do final do século XIX.

É difícil determinar se 2024 trará um novo recorde global de calor, mas os valores já estão próximos de 2023, nota a agência norte-americana

Recorde-se que 2023 foi considerado o ano mais quente desde que há registos, com os números a ficarem 1,2 graus acima do normal. Juntamente com as temperaturas recordes vieram a humidade superficial do solo mais baixa do que a média, incêndios florestais, secas e inundações. As principais conclusões estão reunidas no ESOTC 2023.

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Mesmo com o enfraquecimento do El Niño, a temperatura da superfície do oceano continua, no geral, a registar valores anormalmente altos. A informação do programa Copernicus idicou que abril de 2024 estabeleceu um novo recorde mensal, com uma média de 21,04 graus Celsius, excluindo as zonas próximas dos polos, marcando o 13º máximo mensal consecutivo.

Este sobreaquecimento ameaça a vida marinha, conduz a um aumento da humidade na atmosfera e ameaça a capacidade dos oceanos de cumprirem o papel crucial de absorção das emissões de gases com efeito de estufa produzidas pela humanidade. A temperatura registou, no entanto, uma ligeira descida em relação a março e ao recorde histórico para o conjunto dos meses (21,07 graus Celsius).

E nem os pontos mais frescos do planeta são poupados. Os cientistas da NASA já tinham alertado para o facto de o gelo marinho continuar a diminuir, nos dois polos. Nas águas em redor da Antártida, a capa de gelo baixou para mínimos quase históricos pelo terceiro ano consecutivo.

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