
A saúde é uma das áreas onde a aplicação da tecnologia de inteligência Artificial oferece mais potencial e não faltam casos onde já se demonstrou a capacidade de apoio ao diagnóstico e identificação de padrões para previsão e prevenção de riscos. É nesta área que a Medāna está a trabalhar, com uma plataforma agnóstica que é capaz de harmonizar fontes de dados díspares e permitir que algoritmos de IA operem sem barreiras entre instituições, com implementação em hospitais, seguradoras de saúde e empresas farmacêuticas de grande escala.
Tal Patalon, fundadora e CEO da empresa, explicou na conferência AWS GenAI for Health Summit, na Fundação Champalimaud, a visão que passa por substituir a lógica de uma "abordagem única" por uma mais personalizada e baseada nos riscos individuais. "Entramos num novo ciclo em que cada doente recebe o fármaco certo, à primeira, guiado pela convergência entre IA e genómica", destaca.

A fundadora da Medāna é de origem israelita mas escolheu Portugal para fixar a sede da empresa e está a alargar a equipa. Recentemente foi distinguida com o STEP Seal, atribuído pela Comissão Europeia, no âmbito do programa Horizon Europe – European Innovation Council Accelerator 2025.
"O foco inicial da Medāna está nas doenças crónicas, onde modelos preditivos podem reduzir significativamente a progressão e as complicações através da deteção precoce e de intervenções baseadas em risco", explicou Tal Patalon ao TEK.
A empresa já integra registos clínicos eletrónicos (EHRs) com perfis genéticos para gerar scores de risco individualizados, combinando scores poligénicos e a identificação de mutações monogénicas, e desta forma pode antecipar intervenções médicas com maior precisão. Mesmo assim a CEO reconhece que ainda há obstáculos a ultrapassar.
"A plataforma está já a ser aplicada em diabetes e doenças cardiovasculares, onde os insights preditivos ajudam a identificar doentes de alto risco e a apoiar decisões clínicas atempadas", refere Tal Patalon. Em paralelo, a Medāna está a desenvolver e validar modelos para outras patologias de elevada incidência, como doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), doenças neurodegenerativas, asma, cancro e saúde mental.
Estas doenças representam mais de 70% das mortes em todo o mundo e são especialmente beneficiadas por cuidados personalizados e atempados com recurso à IA, e a CEO da Medãna diz que a empresa está bem posicionado para abordar, a médio prazo, doenças infeciosas e situações agudas. Poderá detetar precocemente surtos infecciosos permitir estratégias de contenção, mas também melhorando a triagem, o alerta precoce e o apoio à decisão em contexto de urgência. "Estas áreas representam a nova fronteira da saúde preditiva baseada em IA", sublinha.
Qualidade e estruturação de dados
Ao TEK, Tal Patalon admite que um dos maiores bloqueios para o desenvolvimento da tecnologia na saúde e a utilização da Inteligência Artificial sempre foi a desconexão entre os dados e o seu contexto clínico. "A maioria dos sistemas trabalha com inputs crus (diagnósticos, análises, prescrições) sem interpretar o percurso clínico do doente ou o significado por trás dos dados", justifica a CEO da Medãna.
A empresa resolveu este problema com uma abordagem baseada em trajetórias clínicas, que considera não só o que foi registado, mas quando, em que ordem, e o que isso implica sobre risco futuro e deterioração clínica. Ainda assim há um grande desafio da qualidade e estruturação dos dados, tal como a granularidade e o facto dos modelos tradicionais serem baseados em imagens estáticas ou datasets curados.
A tecnologia está a dar uma ajuda com a utilização do processamento de Linguagem Natural (PLN) para extrair informação de texto livre e conectores de interoperabilidade que ligam dados fragmentados, assim como a utilização de vocabulários padronizados (SNOMED CT, LOINC, ICD-10) para uniformização. A investigadora diz que para ultrapassar a tradicional opção monolítica e opaca "a Medāna seguiu outro caminho: criou uma arquitetura de IA modular, explicável e orientada para a ação. Isto significa que os modelos não apenas assinalam riscos, explicam o porquê e propõem caminhos clínicos viáveis de intervenção, como a identificação precoce de casos subdiagnosticados, prevenção de complicações, etc".
Para já a Medāna está em fase de integração real num sistema de saúde com 3 milhões de utentes, e Tal Patalon diz que "há já processos em curso com instituições do sistema de saúde português".
"A plataforma desenvolveu e validou algoritmos para previsão e deteção de diabetes, permitindo a identificação precoce de doentes em risco elevado ou não diagnosticados. Este primeiro piloto está a ser estendido a outras doenças crónicas: doenças cardiovasculares, cancro, DPOC, doenças neurodegenerativas, entre outras, e está a ser testado com hospitais e seguradoras, para apoiar a estratificação de risco populacional e melhorar a entrega de cuidados", refere.
Portugal como base de operações e "lar simbólico"
A escolha de Portugal para base da Medāna não foi um acaso e a CEO da empresa explica que tem raízes portuguesas e uma ligação emocional ao país, mas destaca outros pontos fortes.
"Portugal foi uma escolha natural e estratégica para a Medāna. Enquanto país membro da União Europeia, garante acesso direto ao mercado europeu e internacional, sendo um ponto de partida ideal para escalar soluções de saúde além-fronteiras", refere. Adicionalmente, o reconhecimento como hub tecnológico, com um ecossistema de startups, incentivos estatais e um forte apoio público-privado à inovação em saúde digital e inteligência artificial, foram fatores que pesaram na decisão.
"O ambiente de negócios é acolhedor e mais acessível do que noutros países da Europa Ocidental, permitindo crescimento sustentável e desenvolvimento ágil", adianta ainda, sublinhando igualmente a "força de trabalho altamente qualificada nas áreas críticas para a Medāna — engenharia, IA e ciências da vida — apoiada por universidades de excelência e um ambiente de inovação colaborativa".
É também o plano pessoal que contribui para esta ligação. "Portugal não é apenas uma base, é o lar simbólico da missão da Medāna: transformar dados de saúde em inteligência prática para doentes, médicos e sistemas", refere na entrevista, dizendo que a ligação emocional ao país moldou os seus valores e a visão para a empresa, reforçando o compromisso com instituições nacionais e com a transformação do ecossistema de saúde português.
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