Depois da contagem decrescente foi cumprido com sucesso o lançamento do Falcon 9, da SpaceX, às 22h05. Leva a bordo o novo satélite português que volta a colocar Portugal no espaço. 30 anos depois do lançamento do PoSAT-1, o país volta a olhar para o espaço e o potencial de colocar em órbita um satélite desenvolvido em Portugal, mas a ambição é maior e prevê a criação de uma constelação atlântica.

Tudo correu como estava previsto em mais um lançamento da SpaceX, com a separação das duas fases do foguetão poucos minutos depois do lançamento. O lançador regressou à Terra cerca de oito minutos depois, mas seriam precisos cerca de 50 minutos para que o segundo bloco, que transporta os satélites, atingisse o ponto correto e os libertasse na órbita certa.

A uma altitute de 518 Km e a uma velocidade de 28 mil km por hora, 53 minutos depois do lançamento o transportador chegou ao local designado para começar a colocar os satélites. Foram libertados um a um, e por isso, como são cerca de 50 enviados nesta missão, o processo demorou longos minutos.

O MH-1 era o segundo da lista a sair do lançador, com hora marcada para os 53m54s depois do lançamento. Do lado do Ceiia a confirmação de que o satélite português já estava em órbita foi feita cerca de 56 minutos após o lançamento, mas 1h08 depois da partida só tinham sido colocados cerca de 30 satélites, com alguns momentos de black out da telemetria pelo meio.

A sequência total de lançamento demora cerca de 25 minutos para colocar todos os satélites e estava concluída 1h20 depois do lançamento, embora a equipa da SpaceX ainda aguardasse as confirmações finais.

Veja as imagens do lançamento

Depois, o Aeros MH-1 ainda demora cerca de 24 horas a abrir os painéis,  carregar as baterias e a fazer a primeira comunicação, que será recebida no porto de Santa Maria, nos Açores.

Transmissão online e segredos revelados

A sessão de lançamento do Aeros MH-1, o nanosatélite que junta esforços de diversas entidades, começou cedo no Ceiia e foi transmitida online até ao momento da confirmação da colocação em órbita do satélite.

A transmissão foi acompanhada online e pode ser revista aqui. O SAPO TEK também acompanhou a transmissão, ainda antes do momento de arranque do foguetão a partir da base Vandenberg, na Califórnia. É o momento zero da colocação em órbita do satélite, que tem sido chamado Aeros, o nome da plataforma que foi desenvolvida para os satélites que vão constituir a Constelação Atlântico.

Hoje foi desvendado que a escolha do nome MH-1 é uma homenagem a Manuel Heitor, ex Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que assinou em 2018 a estratégia de Portugal para o Espaço.

O Aeros MH-1 é agora o segundo satélite português no espaço, depois do PoSAT-1 que partiu para o espaço há 30 anos, e integra a nova estratégia portuguesa para a criação de uma constelação de satélites que será capaz de monitorizar o território nacional a partir do espaço, em especial a região do Atlântico.

Manuel Heitor lembrou na sua intervenção que este momento, que só fica completo com o lançamento efetivo do satélite, é o resultado de um trabalho feito nos últimos 30 anos, salientando sobretudo os 25 anos da entreda de Portugal na Agência Espacial Europeia (ESO). Nas suas palavras "mostram que é sempre preciso estar a penar no futuro para construir o presente".

Para o ex ministro, os últimos cinco anos oram decisivos na estratégia para o espaço, com o reforço das parcerias internacionais e o lançamento da estratégia espacial portuguesa em 2018, que tinha o objetivo de "posicionar portugal para num contexto de incerteza construir o futuro". Lembra ainda que este é um sector que gera valor, e que a meta é ultrapassar os 500 milhões de euros de faturação em 2030.

Pelo palco no Ceiia passaram os jovens que participaram no hackaton nas últimas 24 horas, e está a decorrer um debate com os parceiros do projeto, enquanto se espera o início da contagem decrescente da SpaceX.

Debate no lançamento do satélite MH-1 do projeto Aeros

A partir da Califórnia uma equipa do Ceiia está a acompanhar o lançamento, na proximidade possível, a cerca de 10 km de distância.

Lançamento do MH-1 satélite do projeto Aeros

Pequeno satélite com grandes ambições

Com um investimento de 2,78 milhões de euros, o Aeros MH-1 foi desenvolvido em Portugal numa parceria com mais de uma dezena de entidades, entre elas a Thales e a CEiiA, as universidades do Técnico, Algarve, Minho e Porto, além do MIT. A montagem final foi feita em Berlim, na Alemanha.

Classificado como um nanossatélite, pesa 4,5 kg, tem um corpo de 30 cm de comprimento e 50 cm de largura e vai orbitar a 510 quilómetros de altitude, ligeiramente acima da Estação Espacial Internacional. Viaja à velocidade de 7 km/s, ou seja, dará uma volta à Terra a cada 90 minutos.

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O lançador, o Falcon 9 da SpaceX, leva a bordo o MH-1 e mais 5 dezenas de satélites. A missão é o Transporter-10, a décima da empresa de Elon Musk dedicada a pequenos satélites. A bordo seguem CubeSats, MicroSats e outros "entregáveis". Até à data a SpaceX já lançou mais de 1.00 pequenos satélites para mais de 130 clientes no programa de "boleias".

Considerada por vários intervenientes como um momento histórico, a partida é apenas um primeiro passo para o nanosatélite Aeros MH-1. Depois de ser colocado no espaço vai demorar 24 anos a abrir os paineis e começar a funcionar.

missão do Aeros MH-1 é estudar os oceanos e enviar as imagens recolhidas para um centro de operações instalado na ilha de Santa Maria, sendo depois tratadas em Matosinhos.

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O Aeros MH-1 faz parte do projeto da Constelação do Atlântico que está em curso desde o último trimestre de 2022 e envolve um investimento acima de 200 milhões de euros. Em desenvolvimento está também um novo satélite, o ISTSat-1, que aguarda a estreia do foguetão europeu Ariane 6.

Para Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, a concretização destes dois projetos será fundamental pelo caminho percorrido, “não só ao nível operacional, mas também em todo o processo de licenciamento que, pela primeira vez, acontece em Portugal, em resultado aplicação da legislação nacional para o espaço”. O responsável dis que abrem a porta “para ser tudo mais fácil daqui em diante, nomeadamente para os 30 satélites que Portugal quer lançar até 2026”.

Nota da redação: A notícia foi atualizada durante o lançamento com o acompanhamento em direto. Última atualização 23h26