A 25 de setembro de 1993, por volta das 02h45, as ambições espaciais portuguesas seguiram a bordo do voo 59 de um foguetão Ariane 4, lançado a partir do Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa. Vinte minutos e 35 segundos após a descolagem, já a mais de 800 quilómetros de altitude, o PoSAT-1 separou-se com sucesso da “boleia” para ocupar a órbita prevista acima da superfície terrestre. A data é hoje assinalada com uma conferência organizada pela Agência Espacial Portuguesa, Portugal Space.
Fernando Carvalho Rodrigues, considerado o pai do satélite português, chegou a recordar o lançamento histórico como um “trabalho tenso e de enorme concentração”, assombrado por algum medo de fracasso, principalmente pelo custo financeiro.
A valores correntes, o projeto rondou os cinco milhões de euros, havendo uma parte financiada pelo então Programa Específico de Desenvolvimento da Indústria Portuguesa, mas também pelas empresas que constituíam o Consórcio PoSAT-1: INETI, EFACEC, Alcatel, Marconi, OGMA, UBI e CEDINTEC.
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Na noite do lançamento, o físico só terá descansado quando recebeu um fax que garantia que o PoSAT-1 funcionava em pleno, depois de “o Centro de Comando de Satélites em Alfouvar ter recebido o sinal e ter começado a ‘falar’ com o satélite”. Depois, sentiu-se invadido por um sentimento de gratidão por ter juntado, neste projeto, “tanta gente, tanto hardware, tanto software”.
Uma caixa metálica de meio metro e alguma ambição
O PoSAT-1 foi usado para telecomunicações em vários países, nomeadamente pelo exército português, em missões na Bósnia, sendo também um importante avanço naquele que é hoje um dos domínios da estratégia espacial portuguesa: a observação da Terra.
O primeiro satélite português era uma caixa de alumínio com 35 centímetros de lado e de profundidade, por 58 centímetros de comprimento e tinha cerca de 50 kg. Do ponto de vista científico, estava equipado para recolher informação que permitisse fazer a caracterização das cinturas de radiação da Terra, o reconhecimento da distribuição dos níveis de radiação cósmica sobre a superfície terrestre e o estudo dos ventos solares.
Integrava 10 gavetas com placas eletrónicas, baterias e um módulo de deteção remota, além de sensores de altitude e estabilização. Os diversos sistemas a bordo eram alimentados com energia solar, graças à energia recolhida através dos painéis solares instalados no equipamento.
O satélite interagia com o único terminal de controlo existente na altura no país, localizado no Centro de Controlo Operacional de Satélites, à data da Marconi, a funcionar na zona de Sintra. Estas comunicações eram possíveis em parte das viagens realizadas em torno da Terra a cada dia. Movia-se a uma velocidade média de 7,3 km por segundo e as comunicações com o nosso planeta tinham normalmente uma duração de 12 minutos.
Veja o documentário promovido pela Agência Espacial Portuguesa no aniversário dos 30 anos do PoSAT-1
O PoSAT-1 deixou de emitir sinal em 2006, depois de um período de 13 anos operacional, cerca do dobro do tempo de vida inicialmente estimado, que era de cinco a oito anos. O “corpo celeste” metálico, com cerca de 50 quilos e meio metro de altura está atualmente, numa viagem silenciosa em órbita da Terra, prevendo-se que a sua morte física aconteça em 2043.
Embora seja o “porta-bandeira” da entrada de Portugal no grupo de países com um programa espacial, o PoSAT-1 permanece, até hoje, depois de 30 anos, como o único satélite lançado por Portugal. Mas este cenário deverá mudar em breve, havendo vários projetos em desenvolvimento.
O ISTSat-1 é um deles. O primeiro satélite construído pelo Instituto Superior Técnico e está completamente finalizado, depois de ter passado por exigentes testes técnicos em ambiente simulado de espaço.
Tendo como missão a demonstração de um sistema de deteção de aviões através de sinais ADS-B (automatic dependent surveillance - broadcast), a intenção é que o satélite cúbico com 10 centímetros de aresta siga no voo inaugural do novo foguetão europeu Ariane 6.
A Geosat é outra das empresas que promete colocar Portugal no “mapa espacial”, tendo anunciado o lançamento de 11 novos satélites de alta e muito alta resolução até 2025.
Os satélites AEROS, da Edisoft, o uPGRADE, da Spinworks e o Newsat, da Stratosphere, juntamente com as constelações VDES, da Lusospace, SAR, da idD e Magal, da Efacec, são igualmente projetos em curso.
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