Enquanto a missão Juice da ESA não chega a Júpiter para saber se as luas escondem oceanos, dados de uma outra missão, recolhidos em 1980, apontam para uma hipótese semelhante em relação a Úrano.

Uma reanálise dos dados da nave Voyager 2, juntamente com uma nova modelagem computacional, levou os cientistas da NASA a concluírem que quatro das cinco maiores luas de Úrano - de um total de 27 satélites - contêm uma camada oceânica entre seus núcleos e crostas geladas, muito provavelmente.

O estudo revisitou as descobertas dos sobrevoos da Voyager 2 ao planeta na década de 1980 e de observações terrestres. Os autores construíram um modelo computacional atualizado com informações adicionais obtidas pelas sondas Galileo, Cassini, Dawn e New Horizons, que inclusive descobriam evidências de água noutros ambientes gelados e de dimensão idêntica às luas de Úrano.

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Os novos resultados, publicados no Journal of Geophysical Research, sugerem que Ariel, Umbriel, Titânia e Oberon retêm mais calor do que se acreditava anteriormente e, por isso, podem conter água na sua forma líquida. Isso acontece, tanto devido a porosidade, que faz com mais energia do sol fique presa, quanto à dinâmica interna dessas luas, que também liberta calor.

A suposta presença de amônia também poderia favorecer a manutenção da substância na sua forma liquefeita. Há muito se sabe que a amônia atua como anticongelante. Além disso, a modelagem sugere que possíveis sais presentes na água seriam outra fonte de anticongelante.

A análise revela uma possível fonte de calor nos mantos rochosos das quatro luas, que libertam líquido quente e ajudariam um oceano a manter-se líquido. Tal será especialmente provável para Titânia e Oberon, onde as águas poderão ser suficientemente aquecidas para proporcionar condições favoráveis à existência de vida.

A única das cinco luas gigantes de Urano com pouca probabilidade de conter o líquido é Miranda, a menor delas, pois, de acordo com o modelo, perde calor com muita rapidez, levando a água a congelar.

“É necessário desenvolver novos modelos para diferentes hipóteses sobre a origem das luas de modo a definir o planeamento para futuras observações”, referiu Julie Castillo-Rogez, do Jet Propulsion Laboratory,  principal autora do artigo, em comunicado.

A busca por água líquida noutros locais do Sistema Solar é uma constante, ou não fosse um dos quesitos para a existência de vida fora da Terra. Uma das missões mais recentes com esse objetivo é a Juice, lançada pela ESA, que terá pela frente uma viagem de oito anos em direção a Júpiter, mas já enviou para a Terra as suas primeiras "selfies".