Os dados espaciais que a NASA tem recolhido ao longo de duas décadas, trabalhados com modelos de inteligência artificial, permitiram concluir o enorme impacto de uma alteração regulatória sobre a composição do combustível usado pelos navios e desmistificar o papel da pandemia neste caso.

Em 2020 foi implementada a nível global uma norma que já existia em algumas regiões do globo, mas que passou a obrigar todas frotas marítimas a reduzirem em 86% a quantidade de enxofre no combustível dos navios. Ao mesmo tempo, a pandemia fez diminuir temporariamente o tráfego marítimo, pelo que a primeira leitura sobre a redução dos níveis de poluição provocado pelas frotas marítimas foi a de que menos tráfego ajudou a reduzir a poluição.

Os dados compilados pela NASA vêm agora mostrar que a redução de 1,4% no tráfego marítimo durante a pandemia teve um impacto limitado na criação das nuvens artificiais que se formam à passagem dos navios e se adensam nas zonas de maior tráfego marítimo, deixando uma espécie de rasto da passagem dos navios. As imagens registadas por satélite mostram que este tipo de nuvens diminuiu consideravelmente em 2020, mas essa redução manteve-se depois do tráfego marítimo ter voltado para os padrões normais.

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Para chegar a estas conclusões os cientistas usaram técnicas de computação avançadas e criaram o primeiro registo histórico global de rastos de navios, com informação recolhida ao longo dos últimos 17 anos pelo Espectrómetro de Imagens de Resolução Moderada (MODIS) da NASA, que se encontra a bordo do satélite Aqua. Para conseguir identificar e selecionar estes rastos, nos dados compilados pelo instrumento de observação durante todo este tempo, usaram inteligência artificial.

"Sem este tipo de amostragem completa e em larga escala de rastos de navios, não podíamos começar a compreender completamente este problema", sublinhou Tianle Yuan, investigador do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, Maryland, e da Universidade de Maryland, coordenador do projeto.

O cientista também defende que estudar esta informação em detalhe é fundamental para compreender as alterações climáticas e o impacto do comércio moderno a este nível. "Os rastos de navios são grandes laboratórios naturais para estudar a interação entre aerossóis e nuvens baixas, e como isso tem impacto na quantidade de radiação que a Terra recebe e reflete de volta ao espaço".

Os rastos de poluição dos navios foram observados, através de satélite, pela primeira vez ainda na década de 60 do século passado. Chamaram a atenção dos cientistas por criarem nuvens mais brilhantes que as formadas por vapor de água e sal marinho. Estas resultam da combinação de vapor de água com pequenas partículas de poluição, que saem dos espaces dos navios durante a combustão. O facto de concentrarem mais partículas tornam-nas mais brilhantes e facilmente distinguíveis das outras.

Reduzir o teor de enxofre do combustível das embarcações para um máximo de 0,5% alterou a composição química e física dos gases de escape dos navios e menos emissões estão a traduzir-se em menos partículas de aerossol libertadas.

A medida de redução do nível de enxofre no combustível dos barcos já estava em vigor em algumas regiões, mas o seu impacto global era limitado porque os navios desviavam as rotas para não ter de passar pelas zonas com restrições em vigor.

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