A era digital também se faz sentir culturalmente. Nas últimos duas décadas, Hollywood tem produzido várias peças que articulam a tecnologia com o núcleo das suas temáticas. Do velhinho Hackers de Iain Softley, ao mais recente Blackhat de Michael Mann, a comunidade de hackers tem vários erros a apontar à forma pouco cuidada como a sua atividade tem sido retratada pelos realizadores, guionistas e atores. Neste universo, Mr.Robot parece ser a exceção à regra.

Em comparação, a série que retrata o dia-a-dia do hacker Elliot Alderson acaba por ter mais do que as outras. A todas as críticas e comentários soltos que lhe são feitos pela internet, parece haver um ponto essencial comum que não escapa à vista do espectador: minúncia e preocupação técnica.

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Para a comunidade de hackers a série acerta nos detalhes. Trata-os com realismo e relega para a borda do prato todos os romantismos e floreados com que outras séries e filmes têm utilizado para reproduzir a cultura hacker. Em consequência, (quase) todas as outras tentativas de retratar o "hacker tipo" e as suas atividades têm resultado em tiradas tecnicamente inconsistentes, tudo o que Mr.Robot se tem esforçado por não ser.

Na série de Sam Esmail, o protagonista é um técnico de segurança informática que ocupa as horas vagas na condução de atividades revolucionárias com um grupo de hackers chamado FSociety. Elliot é um elemento ativo no mundo da cibersegurança. De manhã reforça-o e à noite tenta parti-lo. Com esta premissa, Kor Adana, um dos guionistas da série, revelou que a decisão de fazer Mr.Robot fiél à realidade técnica do hacking foi tomada antes de ser gravado o episódio piloto.

"Eu não tenho nada se não desdém pela forma como Hollywood tem retratado o hacking e a tecnologia até agora," disse Adana durante a última edição da Def Con, "Nós queríamos fazê-lo bem e pensámos que fazê-lo de forma realista seria atraente".

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Até à data, a tarefa tem sido completa com sucesso graças ao background de Adana - era profissional na área das IT - e ao aconselhamento que o guionista tem exigido receber de personalidades conhecidas nas comunidades de hackers para a construção dos pormenores dos vários episódios.

De acordo com o registado pela BBC, os seus consultores têm a tarefa de desenvolver os hacks, comprovar a sua eficácia e, posteriormente, explicar-lhe o processo para que seja adaptado à série. "Temos de encontrar o equilíbrio entre o que é visualmente atraente e o que é preciso fazer para desenvolvermos a história," esclareceu em conferência. Neste caso, embora alguns passos utilizados nos hacks tenham de ser suprimidos, Adana faz questão de ter presentes alguns pormenores que não interferem com o desenrolar da série. De acordo com o escritor, há o cuidado de inserir software e hardware real nas cenas tal como utilizar os layouts correspondentes e as sintaxes de comando certas. "Utilizar ferramentas reais ajuda a ligar o programa ao mundo real", justificou Ardana.

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Ainda na Def Con, o público fez questão de dar conta de que esta abordagem de Mr.Robot tem deixado os hackers satisfeitos. "Acho refrescante que a precisão seja tão importante para eles", comentou um ex consultor da divisão cibernética do FBI. "Este é o único programa baseado em tecnologia que não me insultou", comenta um utilizador num subreddit sobre a série.

Os esforços parecem estar a dar resultado e a temporada vai já na sua segunda temporada. O fim, por enquanto, não está há vista.