Na semana passada, a Acer revelou a sua nova gama de computadores profissionais, gaming e periféricos, em diferentes gamas que vão chegar ao mercado depois do verão. Um dos produtos em destaque foi o novo Aspire Vero, um portátil produzido com materiais sustentáveis, com foco na reparabilidade, conjugado com um design atraente e apelativo. Porém, os seus materiais não receberam tratamento nem pintura, mantendo as típicas “sarapintas” que vemos nos produtos reciclados. A própria caixa foi feita com cartão reciclado.
Apesar do tratamento “verde”, o portátil não será barato. A empresa ainda não divulgou o seu preço, mas o modelo será composto por componentes topo de gama e direcionado ao mercado premium, sendo essa a forma da Acer “mitigar” os custos de fabricação.
O Aspire Vero é o cartão-de-visita da Acer no seu compromisso com o meio ambiente, no programa que apelidou de Earthion, na conjugação das palavras inglesas Terra e Missão. Espera até 2025 adotar o uso de 20-30% dos materiais recicláveis nos seus produtos e em 2035 assume operar com 100% de energias renováveis.
Mais que palavras, segundo Jaume Pausas, diretor de marketing da Acer Iberia, só em 2020 a empresa reciclou mais de 50 toneladas métricas de baterias, e foram lançados no mercado mais de 6 milhões de produtos sem qualquer tipo de papel. Ainda em relação a números, 100% das embalagens foram recicladas, dando origem a 8,8 milhões de produtos aproveitando plástico reciclado.
Veja na galeria imagens do Acer Vero
Durante uma reunião com jornalistas portugueses, a empresa diz que não quer que o cliente pague a totalidade do preço de custo, que é mais elevado na criação destes produtos, a nível de design e componentes. Mas acrescenta que a economia de escala a obriga a que, por exemplo, o Aspire Vero seja mais caro que um Aspire 5 de características semelhantes. “É mais caro utilizar plástico reciclado nos computadores do que o plástico normal”, admitindo que embora não possa produzir para ter prejuízo, as margens da fabricante serão reduzidas para diminuir o valor a pagar pelo cliente final. A fabricante assume assim um compromisso “verde”, mas o valor da “fatura” terá de ser repartido com os seus utilizadores.
Materiais reciclados e componentes substituíveis
As palavras de Jaume Pausas estão alinhadas com as de Emmanuel Fromont, vice-presidente das operações EMEA da Acer, entrevistado pelo SAPO TEK. “Provavelmente todos dirão que será mais barato por utilizar materiais reciclados, mas na realidade, é bem mais caro de o produzir, porque é mais complicado lidar com plásticos reciclados, obter a durabilidade necessária, assim como outras características necessárias para os computadores”.
No entanto, acredita que à medida que as pessoas entrem nesta tendência ecológica, e que hajam melhorias no processamento, os produtos acabem por tornar-se mais acessíveis. “As pessoas vão começar a querer mostrar que os seus computadores contribuem na redução da pegada de carbono no planeta, aumentando a procura desses produtos”, salienta Emmanuel Fromont, destacando que para já tem um produto premium, mas no futuro conta com mais modelos.
Questionado ao que se refere com computadores mais “reparáveis”, diz que os computadores, neste caso o Aspire Vero, utiliza parafusos standard para que os utilizadores possam prolongar a sua vida ao trocar as memórias ou armazenamento interno. Por exemplo, comprar o portátil com 8 GB de RAM, e mais tarde aumentar para 12 ou 16 GB. “São coisas que estamos agora a introduzir para garantir que seja mais reparável e atualizável”, destacando que é um processo ao nível do design do próprio produto.
Ainda sobre o aspeto “reciclado” do Aspire Vero, salienta que foi um desafio apresentar um computador sem tinta e ainda assim ter um aspeto agradável para o consumidor. “A tinta não é boa para o ambiente e penso que todos os desafios foram lidados, um a um”.
Na matéria das reparações, o SAPO TEK perguntou a opinião a Emmanuel Fromont sobre os computadores portáteis serem cada vez mais modulares no futuro. “Há muitos países que têm regulamentos que pedem por isso, de ser mais fácil de reparar e ter mais componentes substituíveis”. No entanto, sem querer sentir-se “ingénuo”, diz que é necessário fazer alguns compromissos. “Sem um custo extra as pessoas optam por um computador “verde”, mas se o valor não for realista, estes não compram.
O executivo da Acer disse mesmo que existem diversos compromissos necessários para essa realidade, pois “a maioria dos processadores estão soldados nas placas, e isso não é bom, porque se o CPU avariar é preciso substituir os dois”. Por outro lado, afirma que em termos de valor, o CPU que antes apenas encaixava na placa já não faz sentido atualmente, apenas para os modelos de entrada de gama.
Ainda sobre os destaques ecológicos salientados na apresentação, Emmanuel Fromont disse ao SAPO TEK que o Aspire Vero é o primeiro passo da empresa em mostrar o compromisso para um ambiente mais sustentável. “Não se trata de lançar um produto, e já está. Como empresa temos vindo a trabalhar nos últimos 10 anos para sermos sustentáveis, a trabalhar na redução das emissões de carbono, em energias renováveis, e progressivamente começamos a pensar que o mercado e a nova geração estão prontos para abraçar empresas e produtos que mostrem o seu compromisso em causar efeitos menos negativos no planeta”.
Acrescenta que a empresa assumiu uma posição séria, e um grande compromisso não só com os produtos, mas com todo o seu ciclo de vida. “E acredito que este será uma tendência longa e sustentável para todas as empresas, não apenas a nossa”.
Acer quer continuar a crescer em Portugal
Em termos de novos produtos apresentados, Emmanuel Fromont destaca aqueles com as novas inovações, a nível do gaming como o novo Swift com as mais recentes placas gráficas RTX da NVidia para alta performance. Destaca as duas direções do gaming, por um lado o Helios 500 como topo de gama para gamers exigentes; por outro, o os portáteis sem o design extremo que sejam para trabalhadores que também joguem de noite.
A marca diz ainda que abraçou o 5G, introduzindo a opção num portátil de gaming, mas estão outros previstos para breve. Além disso lançou um router e um dongle 5G. “Penso que finalmente o 5G pode ser uma tecnologia que pode ter sucesso em alguns PCs. Para ser honesto, penso que o 3G/4G nunca trabalharam bem nos PCs porque a sua performance era pior que as ligações via Wi-fi”.
Sobre a crise dos semicondutores, Emmanuel Fromont diz que esta vai prolongar-se ao longo do ano e irá apenas melhorar no primeiro trimestre de 2022. “Na altura a procura vai diminuir um pouco, as pessoas começam a ficar atualizadas”. Ainda assim diz que no passado houve outras crises e esta é diferente, porque antes deveu-se ao atraso do lançamento de novas tecnologias, e os processadores ficavam em falta, assim como as placas gráficas. “Desta vez é diferente. A mais recente tecnologia já existe, temos CPUs e GPUs suficientes. O que faltam são os componentes tecnológicos no geral”, salientando que mesmo as soluções de usar tecnologia antiga, esta não é compatível com a atual. Será necessário adaptar e isso leva tempo.
"Queremos muito investir neste mercado, porque vemos o seu potencial. Na Europa em geral, temos uma quota de mercado do negócio do consumidor em cerca de 15-16%, acredito que em Portugal tenhamos perto de 10% e precisamos aproximar"
A indústria dos computadores teve um bom crescimento durante 2020 e promete estar em grande até pelo menos este segundo trimestre. No entanto, a procura já começou a descer, ainda que a Acer compare os números atuais com os melhores trimestres do ano passado. “Não será tão espetacular como foi antes, mas ainda serão notados resultados muito bons, porque ainda há muita procura. Estamos bastante otimistas com o futuro porque, claro, a taxa de crescimento vai estabilizar, depois de um ou dois anos a subir, mas penso que o volume vai ser melhor do que estava em 2019”.
Olhando para o mercado português, Emmanuel Fromont diz que o segmento empresarial e educação estão a correr bem. Do lado do negócio do consumidor diz estar “OK”, mas um pouco abaixo do mercado EMEA em geral, e por isso diz que há espaço para crescer. “E queremos muito investir neste mercado, porque vemos o seu potencial. Na Europa em geral, temos uma quota de mercado do negócio do consumidor em cerca de 15-16%, acredito que em Portugal tenhamos perto de 10% e precisamos aproximar. Não existe razão para não o fazer”. Acrescenta que a inovação funciona e têm bons produtos, embora atualmente haja algumas baixas de componentes que dificultam o aceleramento.
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