Quem o diz é Martin Ford, o autor do livro "Robôs: A Ameaça de um Futuro sem Emprego", lançado esta sexta-feira em Portugal.

Ao telefone com a Lusa, diretamente de Sillicon Valley, o norte-americano disse que já existe "software com capacidade para produzir conteúdo jornalístico" e a aplicação destes programas "já se verifica em muitas empresas nos Estados Unidos", onde, atualmente, "a maior parte das histórias que se leem na Internet são, na verdade, escritas por máquinas".

Para Ford, parece haver uma justificação óbvia para este fenómeno. Além da automatização generalizada do mercado de trabalho, o autor considera que a introdução dos bots neste sector beneficiou do facto dos jornais já não mostrarem preocupação em aprofundar os assuntos, apostando, cada vez mais, na repetição de matérias superficiais.

Uma das ferramentas mais poderosas neste campo é a Quill, uma máquina de inteligência artificial criada pela Narrative Science Inc. capaz de produzir artigos com uma linguagem quase indissociável da escrita humana. No seu livro, Ford dá conta da utilização desta ferramenta por "meios de comunicação destacados", como a revista Forbes, por exemplo.

"Este software gera uma nova história a, aproximadamente, cada trinta segundos e muitas delas são publicadas em páginas de Internet largamente conhecidas, mas que preferem não reconhecer o uso desse serviço," disse Martin Ford, que, apesar de reconhecer bem a potência das tecnologias, admite surpresa na automatização deste ofício. "A escrita, que tem tanto de arte como de ciência, no mínimo, poderia parecer uma das mais improváveis tarefas a automatizar. Já o foi e os algoritmos estão a ser rapidamente aperfeiçoados. Qualquer dia as máquinas acabam por ganhar um Prémio Pulitzer", ironiza o autor. 

Forte impacto noutras áreas profissionais

No entanto, este é apenas um exemplo no meio de muitos e o novo livro do norte-americano dá conta disso mesmo. Apesar de considerar que a aplicação real destes programas ainda está numa fase inicial, Ford acredita que os robots "vão ter um grande impacto em várias áreas profissionais, incluindo aqueles grupos de pessoas com mais formação académica" e acrescenta que a próxima década vai dar início a uma era de automatização das profissões, hipotecando a presença humana em várias delas. 

Para Martin Ford, este é um dos fenómenos que mais negativamente vai influenciar a vida dos cidadãos e mostrou-se convicto de que a questão vai acabar por se transformar num assunto político. "O candidato republicano Donald Trump, aqui nos Estados Unidos, fala muito sobre a situação económica, quando, na verdade, as pessoas também estão a ser afetadas pela tecnologia. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, as pessoas não conseguem fazer subir os seus rendimentos por causa da tecnologia e depois responsabilizam a emigração. Em parte, é a tecnologia que está a criar desemprego e os estados de ansiedade na sociedade".

"Não se pode parar o progresso"

O autor considera ainda que esta é uma tendência difícil de contrariar: se por um lado considera que "não se pode parar o progresso", por outro acha que a criação de constrangimentos legais não serão eficientes, já que as restrições vão sempre variar entre os vários pontos do globo e dificultar tudo ao nível da competitividade. Algo que de que os governos dificilmente abdicarão. 

Martin Ford termina dizendo que, no futuro, os problemas podem ter origem naquilo que hoje consideramos soluções. Para o norte-americano, a tecnologia pode dar origem a uma nova crise financeira. "Se a economia for afetada pelo desemprego, ninguém vai ter dinheiro para gastar, como é o caso com a crise financeira em Portugal. As coisas podem piorar por causa da tecnologia".