Não faltam exemplos de robots assistentes domésticos nos filmes futuristas, e a verdade é que a tecnologia já está a chegar ao mercado com vários modelos de “mordomos” e “companheiros” robóticos, alguns dos quais foram esta semana apresentados na CES 2023.
Em Portugal há várias equipas de investigadores a trabalhar neste conceito e no LAR da Universidade do Minho (o Laboratório de automação e Robótica) mora o CHARMIE, um robot antropomórfico que está pronto para fazer algumas tarefas domésticas.
O desenvolvimento começou em 2017 e nos últimos anos a equipa já ultrapassou algumas das principais dificuldades, afinando as capacidades do robot para pegar em objetos, interagir com os humanos e tomar algumas decisões num ambiente controlado.
Tiago Ribeiro é o investigador responsável pelo CHARMIE e está a desenvolver o seu doutoramento com este projeto. Em entrevista ao SAPO TEK explicou que “a ideia começou por criar um robot para auxiliar pessoas que moram sozinhas em tarefas essenciais para quem tem limitações”.
“Percebemos que existe uma falta grande de tecnologia em geriatria, e fizemos um estudo com enfermeiros, médicos e assistentes”, adianta. O trabalho foi evoluindo e o CHARMIE foi aprendendo mais competências, estando já pronto para mostrar o que sabe no RoboCup@Home 2023, o campeonato mundial de robótica onde é avaliada a capacidade de assistência e serviços.
Veja o vídeo onde o CHARMIE mostra as suas capacidades
A candidatura está apresentada e as respostas dos selecionados para o RoboCup@Home 2023 devem ser conhecidas na próxima semana. Tiago Ribeiro diz que são apresentadas uma gama grande de tarefas e que o processo de avaliação envolve tarefas práticas, como abrir portas e gavetas, pegar em objetos e arrumar, mas também tarefas sociais, como acolher convidados, perguntar a bebida preferida e identificar interesses de conversa.
“Há dois níveis de provas e o segundo é mais exigente”, justifica, adiantando também que há uma prova surpresa que é conhecida apenas umas semanas antes do RoboCup@Home 2023. “Temos de ter uma gama grande de ferramentas para não ter de explicar tudo ao robot e não ser preciso programar individualmente as tarefas”, explica o investigador.
Tecnologia ainda para evoluir e provas de fogo em ambiente real
Ainda longe da empregada robótica dos Jetsons, a despachada Rosie, ou dos assistentes humanoides do filme I Robot, os atuais assistentes domésticos já se mostram capazes de fazer tarefas mais simples, e a tecnologia está a evoluir, assim como a produtização dos equipamentos.
Para executar as tarefas do dia a dia o CHARMIE recorre a tecnologia de identificação de imagem, mapeamento do espaço e localização como sistema 2D Semantic SLAM e LiDAR, contando com navegação autónoma e capacidade de evitar obstáculos, assim como ajuste em altura. O robot permite ainda seguir objetos e manipulá-los, identificação de rostos com reconhecimento 3D e segmentação de produtos com recurso a redes neuronais.
Veja algumas imagens do CHARMIE
O trabalho de 5 anos de desenvolvimento do CHARMIE tem dado frutos mas o investigador admite que a tecnologia ainda tem de evoluir para tarefas mais complexas, embora possa já ser um auxiliar em apoio em áreas especificas, para apoio em hospitais ou lares, ou mesmo para quem mora sozinho. E a possibilidade de comercialização ainda não está num horizonte próximo.
O CHARMIE ainda não foi testado em ambiente real mas a equipa já fez um estudo para implementar um “rosto” mais amigável para contacto com pessoas de idade. “A cara tem de ser amigável para facilitar a interação, mas claramente robótica e não copiando um rosto humano”, defende.
Nas análises às situações mais críticas, com a ajuda de enfermeiros, a equipa do CHARMIE identificou claramente duas áreas fundamentais, no apoio a levantar objetos do chão, onde há muitas vezes desequilíbrios e quedas, e da mudança de posição, a levantar da cama ou de um sofá, e a ideia é poder ajudar também aqui, colocando pegas laterais no robot.
Mesmo assim, Tiago Ribeiro admite que no curto prazo não vai ser possível encontrar o CHARMIE à venda. “A ideia agora é fazer benchmarking das capacidades, essa é a motivação principal […] daqui a dois ou três anos podemos começar a entrar em testes em lares e hospitais e só depois avançar para a fase do produto”, sublinha.
Em termos do estado da arte na robótica o investigador reconhece que não estamos longe de ter companhias robóticas em casa e que já existem máquinas inteligentes que fazem alguns processos para ajudar, mas avisa que não existe um robot de tarefas doméstico. “Começam a existir soluções em países com mais poder de compra mas muito limitados, que não fazem muitas tarefas”, explica, lembrando que é muito diferente ter um robot multitarefa que seja capaz de fazer o que se pedir em situações complexas e não planeadas.
Pode acompanhar o desenvolvimento do CHARMIE no site do projeto, mas também no Instagram, TikTok e Facebook. A equipa do LAR está também no GitHub.
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