Em meados de setembro foram registadas explosões em milhares de pagers na capital do Líbano, resultando na morte de 12 pessoas e 2.800 feridos, incluindo crianças. O governo libanês e o Hezbollah acusaram Israel de sabotagem, mas Telavive recusou assumir responsabilidades. O certo é que no dia seguinte, houve uma nova fase de explosões desta vez em walkie-talkies.
Um mês depois, a Reuters publicou uma investigação de como Israel enganou o Hezbollah, transformando os pagers em poderosas bombas, compostas por um detonar e plásticos explosivos finos que fizeram explodir as baterias.
As baterias dentro dos pagers em questão chegaram ao Líbano no início do ano, como parte do plano de Israel de eliminar o Hezbollah. Os agentes da Mossad que construíram os pagers desenharam a bateria que escondeu uma pequena, mas poderosa carga plástica explosiva e um detonador de nova geração, desenhados para serem invisíveis ao raio-x. As informações são de uma fonte libanesa e a Reuters teve oportunidade de ver fotos da desmontagem destes equipamentos armadilhados.
Os militares do Hezbollah foram também enganados com o background criado por estes novos produtos. Os pagers tiveram direito a lojas online falsas, páginas de produto e até posts nas redes sociais que tornaram os equipamentos “legítimos” para enganar a inteligência do Hezbollah. É referido que o grupo pesquisa sempre tudo o que compra e não encontrar a “marca” dos pagers poderia soar o alarme do plano.
O design da bomba no pager faz parte de um planeamento durante anos, que resultou num ataque sem procedentes à estrutura da organização libanesa suportada pelo Irão. Cerca de dois anos antes, a fabricante Gold Apollo, a suposta marca dos pagers, recebeu o contacto de uma ex-funcionária que apresentou um acordo de licenciamento da marca.
O acordo daria a este novo “fabricante” a possibilidade de desenhar os seus próprios produtos e fazer o marketing em torno da marca Gold Apollo. Apesar do dono da empresa não ter ficado impressionado com estes equipamentos, decidiu apoiar o marketing e adicionou fotografias e descrições nos seus catálogos, o que ajudou a dar visibilidade e credibilidade, explica a Reuters. O dono da empresa não sabia nada das capacidades letais dos pagers, tendo sido um peão neste plano de Israel. Houve depois alguma engenharia social para que as autoridades do Hezbolahh escolhessem o modelo em questão, o AR-924.
Na descrição da composição dos pagers, no interior da embalagem da bateria encontravam-se duas células íon-lítio em forma de sandwich de uma folha de explosivo plástico, conhecido como pentaerythritol tetranitrate (PETN) e uma tira de material altamente inflamável que atuou como detonador.
Os pagers foram recebidos em fevereiro e foram submetidos a testes de explosivos, através dos scanners de segurança do aeroporto, mas nenhum alarme suspeito foi levantado. Os investigadores dizem que os pagers foram construídos para serem detonados através de uma faísca que ativasse a folha de PETN, confirmaram dois especialistas em bombas. E no total, o pack de baterias não pesava mais de 35 gramas.
O Hezbollah ainda notou que as baterias dos pagers estavam a descarregar mais rapidamente do que aquilo que era esperado, mas foi algo que não levantou alarmes. E momentos antes das explosões, os pagers receberam notificações de novas mensagens. A investigação da Reuters não conseguiu definir onde é que os equipamentos com explosivos foram construídos.
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